Carlos Orsi
Placas bacterinas calcificadas, também conhecidas como tártaro ou cálculos dentais, encontradas na dentição de vestígios de homens de neandertal revelaram traços de DNA que apontam diferenças regionais na dieta desses homininos. O artigo que descreve a análise desses vestígios está publicado na revista Nature desta semana.
Os autores, de um grupo internacional que inclui instituições da Austrália, Espanha, Alemanha, Bélgica e Reino Unido, determinaram que a dieta do grupo que habitava a caverna de Spy, na Bélgica, consumia muita carne, incluindo rinocerontes lanudos e cabras. Já os neandertais da caverna de El Sidrón, na Espanha, eram vegetarianos – ao menos, de acordo com os vestígios encontrados nos dentes – e se alimentavam de cogumelos, pinhões e outras plantas.
As diferenças de dieta mostraram-se correlacionadas a diferenças na microbiota oral – a população de bactérias na boca – e o artigo aponta que o principal diferenciador parece ter sido o consumo de carne. Além disso, a análise confirmou sinais, detectados em trabalhos anteriores, de “medicação” em um neandertal espanhol que sofria de abcesso dental e de infecção intestinal por fungo, que causa diarreia.
Esse neandertal sofredor, aponta o artigo, foi o único indivíduo cujos cálculos incluíam sequências de uma planta que contém ácido salicílico, um analgésico, e também do fungo que produz penicilina. Além dessas descobertas sobre dieta e medicina, os pesquisadores conseguiram obter dos cálculos um genoma quase completo de uma bactéria de 48 mil anos atrás.
Referência
Neanderthal behaviour, diet, and disease inferred from ancient DNA in dental calculus
[Nature doi:10.1038/nature21674]