Bolsas para formação internacional deixaram
de ser privilégio das elites, concluem pesquisadores

26/03/2012 - 10:30

As bolsas para formação internacional deixaram de ser privilégio das elites com a abertura de agências de financiamento. Esta é uma das conclusões às quais chegaram pesquisadores envolvidos no projeto “Circulação Internacional, Formação e Recomposição de Dirigentes”, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e sediado no Grupo de Pesquisa sobre Instituição Escolar e Organizações Familiares (Focus) da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. Um colóquio intitulado com o nome do projeto, aberto nesta segunda-feira (26), reúne cientistas de diferentes países na Sala da Congregação da (FE), que apresentam o resultado de estudos realizados desde 2007.

Durante a abertura do colóquio, a professora da FE Letícia Canêdo, uma das coordenadoras do evento, ressaltou que, apesar de a literatura sobre a formação das elites brasileiras já acentuar a importância da ida de novos grupos dirigentes ao exterior, a pesquisa realizada pelo Focus relaciona as características sociais de grupos que tiveram acesso a atividades marcantes de circulação internacional, entre elas experiências escolares e de militância política; as competências e recursos adquiridos pelos indivíduos durante estada no exterior e a forma como aplicaram o conhecimento adquirido lá fora no plano nacional.

O grupo, formado por pesquisadores brasileiros, argentinos e franceses, analisa os processos de formação escolar e profissional de alguns dirigentes relacionando-os a suas atuações no mercado, no serviço público ou em entidades não-governamentais. Essa perspectiva, segundo Letícia, permitiu que a equipe fosse direto ao ponto central para o entendimento das transformações profundas oriundas do processo de globalização: as estratégias educativas das elites nacionais que contribuem para o desenvolvimento de determinados conhecimentos, habilidades e práticas.

De acordo com a professora, o objetivo apresentado no projeto aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) expôs o interesse em identificar os recursos sociais e institucionais que foram mobilizados por grupos brasileiros interessados em participar no competitivo campo de poder transnacional e atuar como experts nas lutas pela atualização dos dispositivos de Estado, competência de governo e circuito de mercado. “Mais exatamente, trata-se de conhecer os modos de socialização de determinados indivíduos que compõem a rede de formuladores de políticas públicas, aqueles que pretendem deter o monopólio de dizer quais ‘as melhores formas’ de se inserir nas transformações em curso no campo de poder em escala globalizada.

“Quem chegou a uma carreira na política? Quem chegou à carreira científica? Que tipo de conhecimento foi necessário? Em quê ambiente social foi adquirido? Quais as características do conhecimento adquirido para isso?” As respostas a essas perguntas ajudaram a identificar os canais internacionais utilizados antes e depois dos diplomas. “Depois tentamos identificar os canais internacionais que permitiram a rentabilidade do diploma, com o objetivo de comparar os canais de acesso pela política com os canais de acesso pela família, ou outros canais que poderiam ser encontrados no desenrolar do projeto, trabalhando sempre com casos exemplares”, informou Letícia. “Almejávamos, no final, chegar a demonstrar o miolo central da produção dos quadros dominantes brasileiros”, acrescentou.

O projeto “Circulação Internacional, Formação e Recomposição de Dirigentes” é fruto de um projeto sobre a internacionalização dos intercâmbios científicos, iniciado em 1999 com apoio de um acordo Capes/Cofecub, no qual foram criadas listas de bolsistas do Conselho nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) desde 1951. As listas contêm data de nascimento, datas de ida e retorno ao exterior, instituição de origem no Brasil, destinação do bolsista no exterior, entre outras. Os pesquisadores incluíram, segundo Letícia, bolsistas da Fapesp e, com a criação da Plataforma Lattes, foi possível analisar o percurso intelectual e profissional de cientistas sociais de beneficiários de apoios institucionais das agências públicas brasileiras  e a maneira como utilizaram os estágios realizados no exterior em carreiras políticas e científicas.