O papel da universidade frente à necessidade
de uma agricultura sustentável
23/03/2012 - 12:00
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Como é afetada a produção de alimentos pelas mudanças climáticas e a perda da biodiversidade, qual é o caminho dos agrotóxicos da lavoura à mesa do consumidor, como pode ser feita a certificação da sustentabilidade dos alimentos, como poderia ser o projeto político-pedagógico da universidade em uma época de ajuste aos recursos renováveis finitos da natureza. Estes e outros assuntos importantes para a sociedade e que ainda são pouco discutidos na academia brasileira pautaram o evento “A produção de alimentos, energia e serviços ambientais no espaço rural e a resiliência dos ecossistemas do planeta”, organizado pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), nesta sexta-feira, no Centro de Convenções, dentro do Fórum Permanente Meio Ambiente e Sociedade.
Na opinião do professor Enrique Ortega, que organizou o seminário, as instituições de ensino e pesquisa ainda parecem muito distantes de tal temática e a Unicamp, particularmente, precisa inovar e se atualizar nesse campo de conhecimento. “A Universidade foi criada numa época de crescimento baseado no petróleo e carvão, que impactaram durante décadas nos ecossistemas. É necessário realizar estudos sobre como esse carbono pode ser reincorporado, deixando de afetar ecossistemas e sistemas agrícolas, e recuperar os espaços de vegetação nativa. O desafio precisa ser assumido por docentes, pesquisadores e estudantes, fazendo parte das grades curriculares e de novas linhas de pesquisa interdisciplinares e transdisciplinares.
O pesquisador Giampaolo Pellegrino, da Embrapa Informática Agropecuária, concedeu palestra sobre “Mudanças climáticas e agricultura no Brasil”, apresentando informações colhidas no Programa de Zoneamento de Risco Climático, que envolve uma rede de pesquisadores de todo o país, inclusive da Unicamp. “Quem está envolvido com agroecologia, adotando sistemas orgânicos mais resilientes, vai perceber que as ações de governo não contemplam como deveriam esta linha tão importante da agricultura. Ligo isso a uma deficiência na formação, pois como eu, aqueles que definem os programas governamentais não aprenderam a trabalhar com sistemas mais sustentáveis. Esses fóruns são importantes para que caminhemos nesse sentido.”
Para falar sobre “Sistemas agrícolas resistentes às mudanças climáticas”, a organização convidou o professor Manoel Baltasar Baptista da Costa, da UFSCar. “A agricultura, da forma como vem sendo conduzida, tem desprezado a questão social e a questão ecológica. A prática agrícola está muito concentrada na produção e na renda, levando ao avanço da fronteira agrícola com a destruição do solo e da flora e a poluição da água com agrotóxicos. A humanidade precisa pensar seriamente sobre os descaminhos que estamos tomando.”
Professor da área de ciências agrárias, Manoel Baltasar da Costa aponta a necessidade de uma profunda autocrítica da academia no que se refere aos impactos da agricultura tradicional na saúde do trabalhador e dos consumidores, devido à manipulação e consumo de agrotóxicos, e também quanto à monocultura, quando vivemos numa região em que a biodiversidade é fundamental. “Infelizmente, o poder econômico das agroindústrias se faz cada vez mais presente na universidade pública. E, para coroar, agora vêm as sementes transgênicas, os ‘frankenfruits’, com elementos ‘frankenstein’ cujo comportamento no ambiente ainda não conhecemos. Em 3,5 bilhões de anos de evolução, nunca houve um cruzamento interespecífico, e é isso o que estamos fazendo com os transgênicos.”