Fóruns Permanentes de Meio Ambiente e
Extensão avaliam futuro da humanidade

11/04/2012 - 14:00

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Mohamed Habib: caminhos para a agricultura sustentável

Mohamed Habib: caminhos para a agricultura sustentável

Jean Pierre, do Inpe: aceleração nos processos com efeitos no clima

Jean Pierre, do Inpe: aceleração nos processos com efeitos no clima

Pela primeira vez, nesta quarta-feira (11), dois eventos simultâneos marcaram a série de Fóruns Permanentes promovidos pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU). Foram realizados os Fóruns de Meio Ambiente e Sociedade e o de Extensão Universitária no Centro de Convenções da Unicamp. Em ambos, mostrou-se a grande preocupação dos palestrantes com o futuro da humanidade e com ações de sustentabilidade do planeta.

O engenheiro agrônomo Jean Pierre Henry Omette, que é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), abordou no Fórum de Meio Ambiente essas questões em âmbito global. Segundo ele, fala-se muito no meio científico em Antropoceno, período mais recente na história do Planeta Terra, bastante associado às ações humanas. A aceleração de uma série de processos teve um efeito também no clima, segundo ele. “Isso porque as retas exponenciais cresceram com uma grande velocidade nos últimos 60 anos – população, uso de fertilizantes, de telefone e de automóveis", disse Omette.

Como o planeta tem a capacidade de absorver tudo, explica, essa resiliência é muito discutível. Mas até onde ele consegue suportar esse aumento acelerado de uma série de demandas? Se o esgoto de Campinas for jogado num riacho, ele pode não aguentar todo esse volume. “Todo processo biológico tem perda de biodiversidade”, expõe o pesquisador. “Já se o mesmo esgoto de Campinas for jogado no Amazonas, provavelmente muito pouco irá acontecer, porque existe um efeito de diluição muito maior”, compara.

Isso acontece pela resiliência do sistema, justifica o engenheiro. “Mas não entendemos bem porque ocorre desse modo. O que se imagina é que se chegará ao equilíbrio, entretanto não se sabe como. Simulações são feitas do que se está vivendo hoje, desse aumento exponencial. Contudo, isso ainda não permite conhecer ao certo o futuro.”

Se hoje a população mundial parar de fazer o que está fazendo e não fizer mais nada, tem uma inércia do sistema que mostra que as pessoas, a temperatura e as condições atmosféricas vão mudar mesmo assim. Essa inércia já está aí. O que é preciso fazer para ela não se aprofundar, já que essa inércia se reflete em temperatura? O que fazer se subir dois graus em relação à temperatura histórica em 2050, por exemplo? “Este é o grande esforço das negociações globais”, comenta Jean Pierre.

Diante desse quadro, a conclusão do especialista é que o mundo não está fazendo a lição de casa, “e isso é muito preocupante”, diz. Os esforços precisam ser, a seu ver, globalizados. “Temos que ter uso de energia e de insumos com equidade social”, pontua Jean Pierre, que atua no Centro de Ciências do Sistema Terrestre do Inpe.

Extensão
O professor do Instituto de Biologia (IB) e ex-pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp Mohamed Habib discutiu a agroecologia no conceito de agricultura sustentável, falando dos caminhos e das alternativas mais seguras no país, tendo como base as variáveis ambientais, políticas e econômicas, entre outras.

Mohamed começou falando do triângulo que mudou a história mundial – a Revolução Industrial, a “Revolução Verde” e a Revolução Urbana. Ele disse que muita gente ainda hoje acredita no modelo de progresso das chaminés da década de 1970, na transformação das florestas em canaviais e no crescimento exagerado das cidades. “Uns cientistas dizem que 500 mil é o limite da população e outros pontificam 1 milhão. Fato é que mais de 1 milhão já não é mais sustentável.”

De acordo com o professor, atualmente faz-se uma simplificação absurda no ecossistema e, nesse particular, a agricultura empresarial é muito hábil em buscar soluções por um caminho mais curto e que aumente a produtividade. Criam-se matrizes de plantas e de animais. “A carga genética é redefinida para produzir. E as funções biológicas ficam a cargo do homem, que faz a seleção e os ‘melhoramentos’. Para as plantas, ele designa os agrotóxicos e para os animais os antibióticos. Hoje um frango chega ao abate em 38 dias”, contextualizou.

Os efeitos dos agrotóxicos já são conhecidos, mas e o dos antibióticos, indaga Mohamed, “principalmente quando a imunidade não está boa e as bactérias vão se tornando mais resistentes?”. Neste particular, o professor relembrou o caso recente das duas gripes que atingiram o mundo em cheio: a gripe aviária e a suína. Que animais as transmitiram? “Animais de granja”, revelou ele.

A agricultura empresarial, dimensiona Mohamed, é incapaz de olhar para o ecossistema e todas as suas variáveis. As consequências da “Revolução Verde” é que as pragas criaram resistência aos agrotóxicos e as ervas daninhas criaram resistências aos herbicidas. Como parte dos seus planos, a “Revolução Verde”, termo com o qual o professor não concorda, acaba desenvolvendo novos produtos à medida em que se cria mais resistência. “A primeira geração do DDT foi um crime contra a humanidade”, recordou. “Conciliar desenvolvimento e meio ambiente, gerando perspectivas mais seguras para as pessoas é o desafio para os estudos atuais e futuros.”