Uma aula de samba de
bumbo no Instituto de Artes

30/03/2012 - 10:10

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Estevam e Rosária fazem samba de bumbo no Instituto de Artes da Unicamp

Estevam e Rosária fazem samba de bumbo no Instituto de Artes da Unicamp

Grupo Urucungos durante oficina

Grupo Urucungos durante oficina

Érica Giesbrecht, organizadora do evento

Érica Giesbrecht, organizadora do evento

O que seria uma oficina sobre samba de bumbo tornou-se um passeio pelo Instituto de Artes da Unicamp e uma aula de cultura brasileira, mais precisamente de cultura negra campineira, graças à conceituação de Alceu José Estevam, percussionista, ator e compositor. Além de congregar componentes do grupo de samba de bumbo Urucungos, de Campinas, e estudantes de diferentes áreas, a oficina incluiu práticas instrumentais e corporais do samba de bumbo. O evento, coordenado pela professora Lenita Mendes Nogueira, foi organizado por Érica Giesbrecht, autora da tese “Passado Negro: a incorporação da memória negra da cidade de Campinas através das performances de legados musicais”.

A visita ao passado campineiro atraiu a atenção dos participantes, principalmente quando uma das fundadoras do Urucungos, do qual Alceu faz parte, enriquecia o encontro com sua própria vivência. “A Francisco Glicério era a praça dos negros e a Barão de Jaguara, dos brancos. Hoje, graças a Deus, estamos todos juntos”, contou Rosária Antônia. Durante a conversa, ela atuou como auxiliar de Alceu, ensinando os passos da dança e até cantando um samba composto e puxado por ela, ao qual, claro, imediatamente, os estudantes responderam. “Eu vim da capoeira/Vim jogar no meu terreiro/Quem abriu a porta/Foi os home do cativeiro”, cantaram em coro.

Em Campinas, o gênero, chamado de samba de roda por bumbeiros mais antigos, nasceu em manifestações católicas, mais especificamente, em romarias para Bom Jesus de Pirapora. “Mesmo acontecendo depois de assistirmos a três, quatro missas, o samba foi considerado pela própria ‘elite’ negra uma manifestação marginal. Ao falar de Pirapora, Alceu relembrou que os romeiros negros, os “bumbeiros”, eram alojados num barracão após a missa para fazerem seu samba. Mais tarde, o barracão se transformara numa cadeia, e os novos bumbeiros criaram mais um samba: Pirapora e Tietê/Fizeram cadeia nova/Agora querem me prendê. “O samba de bumbo acontece dessa forma. Um componente tem uma ideia, começa a rimar e os outros acompanham”, informa Alceu.

Para ele, além da oportunidade de resumir a história do samba de bumbo em Campinas, acompanhado por Érica e Sinhá (como é chamada Rosária), é um retorno ao campus de Barão Geraldo, onde começou a estudar teatro com o Pessoal do Vítor, grupo criado na década de 1980 pelo ator Celso Nunes. Depois dessa vivência, com a abertura do curso de artes cênicas, foi convidado pela professora Raquel Trindade para ministrar um curso de extensão em percussão.

“A música foi a salvação da minha vida”, disse Alceu, que apesar de ter nascido numa família de músicos, distanciou-se dos instrumentos na adolescência e, quando decidiu se dedicar à carreira profissional, reencontrou-se no teatro, com o Pessoal do Vitor, formado por Paulo Betti, Adilson de Barros, Eliane Giardini, Marcília Rosário, Reinaldo Santiago, Waterloo Gregório, Anton Chaves e Márcio Tadeu Santos.

Antes da oficina, Alceu receava não encontrar muitos adeptos ao samba de bumbo pela própria realidade atual. “Na época em que ministrei o curso de extensão, as pessoas eram receptivas às manifestações culturais brasileiras, mas hoje, com o avanço tecnológico, as pessoas não se interessam tanto.” Mas bastou uma volta pelo IA para ele ver as pessoas saindo à porta e o grupo da oficina aumentando.