Jorge Olímpio Bento defende um desporto
com base em pensamentos filosóficos

31/05/2012 - 14:50

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A filosofia de Bento

A filosofia de Bento

Alunos acompanham palestra

Alunos acompanham palestra

A Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp recebeu nesta quinta-feira (31) um dos maiores defensores do desporto, Jorge Olímpio Bento, professor da Universidade do Porto, Portugal. O escritor iniciou o seminário “Citius, Altius e Fortius: a filosofia do esporte e o olimpismo” falando sobre a importância de descobrir a substância das atividades a que o homem se propõe realizar. Ele enfatizou que muitas vezes as pessoas realizam seu trabalho sem saber o que está por baixo e com o desporto não seria diferente. Segundo Bento, a defesa do desporto requer uma mudança na maneira de encará-lo. Para ele, o discurso oficial precisa enfatizar a substância do desporto.

Na opinião do professor, autor de vários livros, para entender o desporto dos dias atuais, é preciso conhecer o pensamento filosófico da Antiguidade sobre ideais, princípios e valores. E foi baseado em nomes importantes da filosofia, como Platão, Kant, que ele deixou palavras importantes aos futuros educadores físicos ou pesquisadores em educação física. Ele acredita que é para entender o Homo Sportivus é preciso perceber o alcance da relação entre cultura e natureza na configuração do homem e seu corpo, estabelecida pelo Iluminismo, pelo Humanismo e a pela Modernidade.

Bento enfatizou que o homem moderno busca modelo para tudo – modelo de homem, modelo de vida –, e não é diferente no desporto, em que o homem também se rende a novas tecnologias e novos modelos.  “O homem quer definir-se e produzir-se de maneira nova, com o recurso de tecnologias que misturam homem e máquina num mesmo produto”, destacou. Ele acrescenta que hoje o homem não se locomove andando para o trabalho e caminha poucos passos da garagem para dentro de casa. “O corpo já não é seu, pois não é utilizado para as necessidades para o qual foi criado, como diz Hanna Arendt (1906-1975)”, pontuou. O que se vê hoje, segundo o professor, é uma humanidade com elevada crença nas tecnologias e nos avanços das biociências.

Durante a palestra ele citou um especialista da área de desporto que questiona: “Daqui a pouco procuraremos os atletas por catálogo”.  Uma inquietação para profissionais da área, principalmente aqueles que participam da seleção de atletas. A essas inquietações, Bento tentou responder com algumas perguntas: “Trocaremos os pais naturais por ver nova paternidade de genes que predestinam nossos campeões? Será assim conseguido o homem novo tão enfatizado e exaltado no tradicional ideário do Homo Sportivus? Serão os campeões assim assumidos objeto de nossa admiração e encantamento? Merecerão os hinos dos cantores, os versos e odes dos poetas, os quadros dos pintores e os bronzes e os mármores dos escultores? Serão a encarnação das novas paixões e dos nossos sonhos mais sublimes? Serão o orgulho máximo de realização suprema de nossas condições?”