Carlos Joly
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Rio +20
18/06/2012 - 10:00
Por Carlos A. Joly, professor do Instituto de Biologia da Unicamp e coordenador do Programa Biota
A delegação brasileira fez um trabalho brilhante, ao consolidar no novo rascunho do documento final, todos os pontos já acordados por todas as delegações. E foram formados quatro grupos de discussão para temas específicos: governança, financiamento da implementação, oceanos, e assuntos diversos (o famoso “outros”).
Na minha opinião o “desaparecimento” da palavra Ciência no título da Seção B do texto, que originalmente era Ciência e Tecnologia e agora ficou restrita a Tecnologia, é um absurdo. Se há algo que todos concordamos é que será preciso MUITA CIÊNCIA para o desenvolvimento de novas tecnologias, aumento da eficiência das existentes e dar a humanidade uma chance de sobreviver a esta crise ambiental que se agrava diariamente.
A crítica e alarmante questão da perda de biodiversidade e serviços ecossistêmicos associados foi relegada a um segundo plano. A recente criação do IPBES (Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Ecossistemas, o IPCC da Biodiversidade) é apenas “anotada” (take note of), o que em linguagem diplomática é o equivalente a ignorada, quando no texto original ela era bem vida (welcome).
Na questão da energia o foco está mais no acesso para aqueles que não tem eletricidade, do que nas questões críticas de fonte renováveis e eficiência.
A Delegação Brasileira está forçando para que o novo texto seja aprovado sem maiores negociações. Mas talvez, alguns parágrafos poderão ser acrescentados ao texto, até a chegada dos chefes de estado.
Dizer que este texto - sem visão, foco ou direção – é o Futuro que Almejamos é deprimente. O que provavelmente significa que a grande maioria das delegações vai aprová-lo porque ele capta acuradamente o estágio atual das negociações. E, sempre podemos recorrer a Agenda 21 para nos inspirar!
É uma estratégia para evitar que se repita no Rio o fracasso de Copenhague, pois o documento será aprovado no dia 22 de junho. É um texto anódino que não causa nenhum dano mais grave, mas certamente também não define uma rota a ser seguida para evitarmos a catástrofe ambiental do planeta.
O objetivo de estabelecer, mesmo que genericamente para ser detalhado pelas convenções e outras reuniões até 2015, Metas de Desenvolvimento Sustentável, não me parece alcançável, senão houver visão e liderança para criar e administrar uma tensão criativa entre os diferentes países. Esta tensão criativa permitiu os avanços mais significativos em 1992, sob a liderança do canadense Maurice Strong, então secretário geral da ECO 92.
De positivo, vale destacar a atenção dada aos Oceanos. É a seção mais longa do documento e, aparentemente, todos os países concordam com a necessidade de protegermos a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos tanto de águas costeiras com das águas oceânicas internacionais.