“O que nos falta é reconhecer o que já somos. Olhar para dentro do indivíduo e ver o que há de novo nesse olhar reelaborado”, disse a professora Eliana Kefalás Oliveira, professora da Universidade Federal de Alagoas e primeira palestrante da edição do Fórum Desafios do Magistério realizada nesta quarta-feira (20). Mestre em educação e doutora em letras pela Unicamp, Eliana tornou a apresentação “Os sentidos do corpo e o corpo dos sentidos” dinâmica e produtiva, no sentido de levar os professores presentes a refletirem sobre sua própria existência no universo do sistema educacional.

Durante a palestra, a professora disse que o lugar de produtor do professor foi tomado pelo livro didático. Hoje o profissional sequer consegue assumir o papel de reprodutor de conhecimentos e se restringe ao papel de operacionalizador, aquele que distribui o tempo, as pessoas e verifica a fixação do conteúdo. O segredo para reagir a esta condição, na opinião Eliana, está no resgate das palavras e a recolocação delas em seus lugares. “Será que a palavra saudades dá conta das saudades que sentimos? Será que a palavra dor dá conta da nossa dor?”, questiona. Baseada em conceitos de Roland Barthe, ela defende que é preciso tirar as palavras de seu lugar de conformação.  “Se cristalizarmos as palavras, estaremos condenados a ser mequetrefes, como o velho da história de Eduardo Galeno. Nossa vida cotidiana estará nas últimas”, enfatiza Eliana.

Um dos organizadores do fórum, o professor Ezequiel Theodoro acredita que o tema “Leitura de si, o professor enquanto pessoa” é muito atual, pois os desafios cotidianos que se apresentam no momento geram questionamentos na existência e na vida dos professores. A assessora da Pró-Reitoria de Graduação da Unicamp Carmen Zink concorda que  as adversidades experimentadas por docentes, seja em sala de aula ou naquilo que ouvem falar sobre eles tem impacto no papel social desses profissionais.

Para o diretor da Faculdade de Educação da Unicamp, Luís Carlos Freitas, a análise do conceito “confiança relacional” deve contribuir para que haja avanços no processo educacional. A realidade, porém, rema contra, pois o resgate da figura do gerenciador dos anos 1970 pode levar à destruição do professor. “Os professores chegam a ser desmoralizados, como aconteceu em alguns países em que a avaliação dos professores foi publicada em página de jornal diário.”

O Fórum Desafios do Magistério é organizado pela Faculdade de Educação, pela Associação de Leitura do Brasil (ALB) e pela Rede Anhanguera de Comunicação (RAC), com apoio da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU).

Os próximos temas do "Desafios do Magistério" estarão relacionados a violência na escola, educação e cultura e novas mídias, mas o tema do encontro desta quarta-feira chamou a atenção por dar possibilidade de discussão entre a individualidade do professor, ligada a autoestima, e a possibilidade do trabalho coletivo no espaço escolar, na opinião do presidente da Associação de Leitura do Brasil (ALB) Antônio Carlos Amorim.