O prazer
de estar no
'palco' com
as figuras
do Lume
20/07/2012 - 16:00
Impossível assistir ao ensaio do espetáculo Bem-intencionados do Lume e não sentir ao menos aquela pontinha de vontade de ser ator. Sem a intenção de ser professores em cena, acabam dando uma aula de uma interação “eficiente” com o público. O contato acontece de forma natural (graças à naturalidade da interpretação de seus atores) a ponto de levar algumas pessoas da plateia a seus 15 minutos de ator ou atriz. A peça estreia dias 27 e 28 de julho, no salão de baile da União Fraterna, dentro da Mostra Sesc de Artes e depois segue temporada a partir de 1º de agosto, no Sesc Pompeia.
As figuras noturnas, as celebridades, a busca pela fama, a supremacia das aparências, a música ao vivo e a música como personagem. Desde 2000, enquanto conduziam suas pesquisas e atividades, dentro e fora do Brasil, os atores se dedicavam à pesquisa desses elementos que compõem a peça. Numa conversa de bar, um grupo de aspirantes a artistas, que tocam numa banda para virar celebridades, vasculham suas vidas em busca dos motivos que os levaram ao desejo de ser artistas. Ao longo do espetáculo, dividem naturalmente com a plateia seus anseios.
Durante a apresentação, é notável a dedicação dos atores à construção psicológica de cada figura. Cada aspirante tem sua história individual contada intensamente pelos atores Carlos Simioni, Jesser de Souza, Ana Cristina Colla, Raquel Scotti Hirson, Renato Ferracini, Naomi Silman e Ricardo Puccetti.
Pela primeira vez na história do núcleo, cada ator se ocupou com a composição de uma figura, fugindo da construção física, de acordo com a diretora do espetáculo Grace Passô, do Grupo Espanca! de Belo Horizonte, parceira do Lume neste projeto. Conforme a diretora, a proposta foi construir com os artistas uma narrativa não-linear, fugindo de uma linguagem convencional. Segundo a diretora, a narrativa “surreal” faz parte da corrente da dramaturgia contemporânea de buscar instaurar situações que desencadeiam outras e misturar a pessoa do ator a figuras e personagens. Os Bem-Intencionados , conforme Grace, é um elogio à arte e uma homenagem ao próprio Lume, que completou 27 anos, e uma reflexão sobre as perspectivas da arte nos dias atuais.
Em Bem-Intencionados os atores do Lume cumprem uma proposta lançada em março de 2000 de experimentar outras linguagens e encontrar maneiras de criar juntos, sem um olhar externo.
A música do espetáculo é de autoria do compositor formado em regência pela Unicamp Marcelo Onofri, que também participa das cenas com seu conjunto musical.
Ao longo do processo de criação, experiências como levar as figuras bem-intencionadas para tomar numa padaria, consultar preços de pacotes de viagem e arrumarem cabelos e unhas em um salão de beleza deram origem ao curta-metragem Bem-Intencionados, produzido em parceria com o grupo Cisco de cinema, em 2009.
O trabalho de dramaturgia desenvolvido com Grace Passô explica por que o espaço de Barão Geraldo foi pequeno para um grupo de sete atores que projetaram as artes cênicas de Campinas no cenário mundial, muitas vezes não precisando oferecer seu trabalho, mas sim sendo convidado por parceiros da cena artística mundial. Em quase 30 anos de trabalho, tantas vezes captando recursos com as próprias mãos, o Lume tornou-se conhecido em mais de 26 países por suas pesquisas, workshops e mais de 20 espetáculos. Com Bem-intencionados, ratificam a proposta inicial do mestre Luís Otávio Burnier, que atravessou o oceano para experimentar novas linguagens.
Serviço:
Bem-Intencionados
No Salão de Baile da União Fraterna, em São Paulo
Dias 27 e 28 de julho
Às 21 horas
No Sesc Pompeia
De 1º de agosto a 30 de setembro
Às 21 horas (quarta a sábado)
Às 19 horas (domingo)
Sociedade Beneficente União Fraterna: Rua Guaicurus, 27 - Água Branca, São Paulo, Telefone: (11) 3672-0358
Sesc Pompeia - Espaço Cênico - Rua Clélia, 93 - Pompeia - Telefone: (11)3871-7700 - Ingressos de R$ 6 a R$ 24. à venda em todas as unidades. Idade: 18 anos
Comentários
Belo texto
Querida Maria Alice: sabia que vc tem uma homônima na nova peça do Lume? Se chama Maria Alice Élice, representada pela atriz Raquel Scotti Hirson. Ela é uma das figuras mais bem-intencionada e forte da peça. Mas, no seu caso, o seu texto vai além da boa intenção: equilibra informação e sentimento. Não somente o ator precisa ter presença em palco. Nós, espectadores, também precisamos estar presentes. Vc realmente estava lá, no ensaio!