Nobel de Química visita a Unicamp

30/07/2012 - 16:00

Daniel Shechtman, Nobel de Química de 2011

O ganhador do Prêmio Nobel de Química de 2011, o israelense Daniel Shechtman, do Instituto de Tecnologia de Israel, em Haifa, visitará a Unicamp no próximo dia 1º de agosto, quarta-feira. Na oportunidade, o descobridor dos quase-cristais fará uma palestra para integrantes da comunidade interna, a partir das 14 horas, na sala do Conselho Universitário (Consu). A conferência terá transmissão simultânea e poderá ser acompanhada por meio de telão instalado num dos auditórios da Agência para Formação Profissional da Unicamp (AFPU).

A trajetória de Shechtman na carreira científica é reveladora dos percalços que os pesquisadores enfrentam no dia a dia. Em 1982, ele descobriu que os átomos poderiam se organizar em um padrão que não se repetia, contrariando assim a crença de que teriam sempre um arranjo simétrico. Tal resultado foi recebido com grande ceticismo por parte da comunidade científica. Em alguns momentos, o pesquisador chegou a ser ridicularizado pelos próprios pares. Por defender a sua descoberta, Shechtman foi demitido do seu grupo de pesquisa.

Transcorridos alguns anos, porém, outros pesquisadores confirmaram os resultados obtidos por ele, o que fez com que a ciência revisse a própria natureza da matéria. Em 1992, a União Internacional de Cristalografia alterou a sua definição sobre o que é um cristal, admitindo consequentemente a descoberta dos quase-cristais. Atualmente, esses materiais têm inúmeras aplicações, que vão de utensílios domésticos a motores a explosão. Sobre o período que enfrentou a desconfiança da comunidade científica, Shechtman deu a seguinte declaração à revista Ciência e Cultura, editada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC): “Quando descobri os quase-cristais, meu grau no Technion era professor-assistente. O período era entre 1982 e 1984. Esse era um cargo de baixa hierarquia. Se meus resultados fossem um disparate, eu podia estar colocando minha carreira em risco. Portanto, era atemorizante. Além disso, eu estudei numa direção contrária à de cientistas muito bem estabelecidos e era obviamente embaraçoso dizer-lhes: ‘você está errado e eu estou certo’. Então, passaram-se anos, mas o número de adeptos da teoria cresceu constantemente, até que toda a comunidade juntou forças para afirmar a descoberta”.

De acordo com o pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, professor Ronaldo Aloise Pilli, a visitado Nobel de Química de 2011 à Universidade deve trazer grandes benefícios à comunidade universitária. “No ano passado, quando tivemos a visita de quatro ganhadores do Nobel, o aproveitamento por parte dos nossos professores e estudantes foi excelente. Além de compartilhar parte da sua experiência e conhecimento, esses visitantes também contribuem para desmistificar a ciência. Assim como outros pesquisadores, eles também têm hipóteses que eventualmente não dão certo. Evidentemente, todos eles, inclusive o professor Shechtman, obtiveram destaque internacional porque decidiram pesquisar temas relevantes, porque tiveram ideias originais e porque se dedicaram arduamente à investigação cientifica. É importante conhecer pessoas assim e extrair lições de suas trajetórias”, afirma.

Comentários

O merecido prêmio do professor Shechtman mostra que as agências de fomento devem dar mais atenção a pesquisa básica e elementar; pesquisa essa que de início não rende holofotes.

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