Foneticista de renome motiva
evento sobre língua Kaingang

23/08/2012 - 15:30

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Osamu Fujimura: reconhecimento mundial

Osamu Fujimura: reconhecimento mundial

D’Angelis: indígenas na reflexão acadêmica

D’Angelis: indígenas na reflexão acadêmica

Indígenas Kaingang do Rio Grande do Sul

Indígenas Kaingang do Rio Grande do Sul

A vinda ao Estado de São Paulo do professor Osamu Fujimura, foneticista mundialmente reconhecido e professor emérito da Universidade de Ohio (EUA), motivou a realização do Simpósio Internacional sobre a Língua Kaingang, que começou na segunda e terminou nesta quinta-feira (23) no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp. O convidado internacional concedeu duas conferências e pôde interagir diretamente com indígenas Kaingang daqui do Estado e também do Paraná e do Rio Grande do Sul.

Faz mais de quinze anos que Osamu Fujimura vem desenvolvendo um modelo fonético-fonológico centrado na sílaba, denominado C/D Model. O modelo assume que as sílabas (e as palavras, representadas com sequências de sílabas) são unidades que funcionam no processo cognitivo. “Nos últimos anos, o professor Fujimura tem utilizado muitos exemplos da língua Kaingang para desenvolver seu modelo teórico. Não podíamos perder a oportunidade da sua vinda”, esclarece Wilmar da Rocha D’Angelis, docente do Departamento de Linguística do IEL e coordenador do simpósio.

Foi a partir de uma conferência de D’Angelis que o famoso foneticista se interessou pelo Kaingang, que depois do Guarani é a língua indígena do Brasil mais citada em publicações internacionais. “Desde então, o professor Fujimura vem percebendo nesta língua aspectos que podem confirmar as suas intuições e, por outro lado, que representam problemas mostrando a necessidade de melhorar seus modelos teóricos. Ele já citou a língua Kaingang em muitos artigos e congressos, tendo agora a chance de um contato direto com os falantes, podendo inclusive fazer gravações de qualidade para avaliar melhor seu modelo.”

Na opinião do docente da Unicamp, o simpósio também permitiu que um grupo seleto de indígenas Kaingang, já formados professores e que vêm discutindo ações de fortalecimento da sua língua, se aproximassem da reflexão acadêmica. “Eles puderam entender melhor o interesse dos cientistas por esse tipo de investigação e, ao mesmo tempo, a dimensão da importância da sua língua para o conhecimento das ciências humanas. Acho que o encontro cumpriu seus objetivos, até porque os indígenas interagiram com o professor Fujimura na discussão teórica, ainda que fosse sobre uma pesquisa de ponta.”

Segundo os organizadores do evento, a língua Kaingang é falada por um dos povos indígenas mais numerosos no Brasil. É uma população superior a 33 mil pessoas, distribuída por mais de três dezenas de terras indígenas espalhadas pelos quatro Estados meridionais do país. Com esse contingente, os Kaingang sozinhos respondem por aproximadamente 45% da soma de toda a população falante de línguas Jê – que compreende povos como os Xavante, Xerente, Kayapó, Suyá, Apãniekrá, Krahô, Apinayé e outros. Em face das pressões da língua portuguesa e outras compulsões integracionistas, estima-se que a língua Kaingang seja falada atualmente por 50% a 60% da sua população.