‘Esta é uma
crise dos
padrões de
civilidade’,
diz Belluzzo
27/09/2012 - 15:50
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O que o mundo está vendo não é uma crise econômica e sim “uma crise dos padrões da vida civilizada”, nas palavras do professor Luiz Gonzaga Belluzzo, do Instituto de Economia (IE) da Unicamp. Esta frase com que o economista fechou a palestra de abertura está permeando as discussões da 8ª Conferência da Universidade Global do Trabalho, sobre o tema “Crescimento sustentável, desenvolvimento e trabalho: as respostas progressistas em nível local, nacional e global”. O evento aberto na noite de quarta-feira e que termina na sexta, no auditório do IE, é organizado pelo Cesit – Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho.
“Na conferência procurei mostrar que a gestação desta crise se deu ao longo de um período de aumento da desigualdade e de desmontagem do sistema de direitos sociais e econômicos construídos no imediato pós-guerra (o Estado de Bem Estar)”, explicou Luiz Gonzaga Belluzzo, que discorreu sobre “Desenvolvimento e trabalho no contexto da crise e reestruturação geopolítica”. “E procurei estabelecer uma ligação entre isso e a globalização financeira e a globalização produtiva, mostrando que a forma como se desenvolveu a economia a partir do final dos 70 e começo dos 80, promoveu importantes modificações nos mercados financeiros, de bens e serviços e de trabalho.”
Belluzzo acrescentou que também procurou correlacionar estas mudanças com o agravamento da desigualdade, com processos de perda de substância econômica por parte de alguns países e com a separação entre desempenho dos sistemas industriais produtivos e empresariais. “Os sistemas deixaram os territórios desses países e se deslocaram para fora das regiões desenvolvidas, o que tornou muito mais difícil a execução e manutenção das políticas de renda, emprego e benefícios sociais. Minha exposição foi relativamente longa e suscitou muito debate, o que é bom.”
O professor José Dari Krein, diretor do Cesit e coordenador desta 8ª Conferência, esclareceu que ela faz parte de um projeto mais amplo denominado Global Labour University (GLU), uma rede apoiada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e que oferece programas de mestrado. “O objetivo do evento é analisar as dimensões desta crise e as suas consequências no trabalho, pensando formas alternativas de enfrentá-la a partir do ponto de vista dos trabalhadores. Estamos reunindo pesquisadores e dirigentes sindicais que estão no projeto GLU, cuja proposta é preparar quadros capacitados para intervir nesse processo de globalização recente.”
Dari Krein, em concordância com a opinião de Belluzzo, disse que não é apenas uma crise econômica que está em discussão, mas uma crise civilizatória. “Trata-se de discutir a construção de uma nova ordem e como as pessoas estão inseridas nela. O mundo vive uma crise resultante de uma opção econômica e política que hoje é hegemônica e totalmente desfavorável ao trabalho. Queremos analisar as dimensões dessa crise e alternativas de desenvolvimento em que o emprego seja preservado e que seja de qualidade. Nos termos da OIT: um emprego com trabalho decente.”
O professor Carlos Salas, que está na coordenação do programa de mestrado da GLU na Unicamp, informou que os cursos são orientados para alunos que tenham vínculos com sindicatos. “Começamos em 2008, com turmas anuais. São estudantes vindos basicamente da Ásia e África, mas já recebemos canadenses, ingleses e alemães. A Global Labour University possui sedes na Índia, África do Sul, Alemanha e aqui na Universidade. É realmente um processo de aprendizado muito intenso e ficamos felizes por ajudar na formação de pessoas de alta qualidade acadêmica para atuar em sindicatos, cumprindo uma importante função social. Inicialmente, o financiamento veio da OIT, mas a partir desse ano firmamos convênio com a Capes, o que vai permitir aumentar o número de bolsas.”