O ensino superior e as surpresas das
novas tecnologias midiáticas digitais

28/09/2012 - 14:10

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Lúcia Santaella

Lúcia Santaella

Marko Monteiro

Marko Monteiro

Carmen Zink, Marcelo Knobe, Gilberto Sobrinho

Carmen Zink, Marcelo Knobe, Gilberto Sobrinho

O avanço tecnológico parece criar um mundo cada vez mais heterogêneo, com uma pluralidade de leitores que precisa interagir, ou melhor, aprender a interagir. As discussões sobre as novas relações impostas pelas novas tecnologias digitais no âmbito do ensino e da aprendizagem têm um caminho longo e preocupam não somente professores de salas de ensino fundamental ou médio, mas também do ensino superior. Até porque as novas ferramentas de trabalho também se fazem presentes nos laboratórios onde o conhecimento científico se agiganta. Para o pesquisador do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT), Marko Monteiro, a complexidade não é reduzida, pois as facilidades tecnológicas sugerem novas práticas e novas necessidades por parte dos cientistas. Para a professora da PUC-São Paulo Lúcia Santaella, nenhuma tecnologia da linguagem e da comunicação borra ou elimina as tecnologias anteriores. “Nenhuma nova formação cultural, até hoje, conseguiu levar as formações culturais anteriores ao desaparecimento”, acentuou em palestra ministrada, nesta sexta-feira, no Fórum Permanente de Ensino Superior, na Unicamp. Para Lúcia, a educação ubíqua, formada por leitores afeitos aos dispositivos móveis, que fazem com que a informação e a comunicação se estabeleçam em qualquer tempo e lugar, jamais substituirá e educação formal.

O evento reuniu profissionais de diferentes instituições com contribuições importantes nas reflexões sobre a participação das novas mídias no ensino superior. Lúcia diz acreditar ainda que o amor pela leitura pode estimular o estudante atual a querer buscar as informações necessárias para sua formação também em livros. Na experiência com seus próprios alunos de pós-graduação ela observa a tendência do leitor atual de “ciscar” na internet para complementar suas informações. “Sempre que me mandam um link perguntando se conheço o autor, respondo: Você já leu tal livro dele?. Não utilizo power point para minhas aulas. Prefiro ler minhas palestras, a não ser quando é preciso apresentar um gráfico ou um vídeo, por exemplo.”

Para Lúcia, as ecologias midiáticas são enredadas, pois novas mídias são introduzidas em uma paisagem humana já povoada por mídias precedentes. “Em vez de levar a mídia anterior ao desaparecimento, a mídia emergente a emergente vai entrando entre as outras  e encontrando seus direitos de existência ao estimular novas funções nos papéis desempenhados pelas anteriores”. Como exemplo, ela citou os dispositivos móveis, cuja velocidade de absorção assombra as gerações anteriores. Da mesma forma, em sua opinião, acontece no campo da educação, em que as novas formas de aprendizagem e os novos modelos educacionais não têm o poder de apagar as formas e os modelos precedentes. “Cada uma das formas de aprendizagem apresenta potenciais e limites que lhe são próprios, por isso a educação a distância não substitui a gutenberguiana.” Para ela, ao se complementarem, essas formas tornam o processo educativo mais rico.

A preocupação com a sobreposição de novas tecnologias midiáticas em relação às precedentes é uma manifestação que pode se chamar de secular e cada uma delas envolve um leitor diferente. Um deles, segundo Lúcia, é o contemplativo, cujo foco está na leitura individual, solitária, silenciosa.  “Esse tipo de leitor nasce da relação íntima entre o leitor e o livro, leitura do manuseio, da intimidade, num espaço privado. Outro é o leitor movente, presente na origem do jornal impresso, capaz de compilar diversas imagens e novas formas de ler além dos livros. O terceiro, imersivo, surge da multiplicidade de imagens sígnicas e ambientes virtuais de comunicação imediata. Ele está dentro dos grandes centros urbanos, acostumados com a linguagem efêmera e provido de uma sensibilidade perceptiva-cognitiva quase instantânea, segundo Lúcia. Para ela, ao lidar com hipermídia, esse leitor desenvolve habilidades de leitura distintas das de um leitor de livros. E quando sai do CD-Rom para transitar no ciberespaço, a hipermídia se acentua ainda mais.