Epítetos presentes em nomes de cidades
são usados para ressignificação, diz linguista

01/10/2012 - 11:20

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Professor Eduardo Guimarães

Professor Eduardo Guimarães

Mesa diretiva do Fórum

Mesa diretiva do Fórum

A coordenadora do Nudecri, Cláudia

A coordenadora do Nudecri, Cláudia

Público na palestra de Guimarães

Público na palestra de Guimarães

Os epítetos – substantivos, adjetivos ou expressões que se associam aos nomes para qualificá-los – estão amplamente presentes nos discursos. Alguns deles são deveras conhecidos. São os casos de “Campinas, a cidade das andorinhas”, “São Paulo, a cidade da garoa” e "Rio de Janeiro, cidade maravilhosa”, entre outros.  Agora, o epíteto “São Vicente, célula mater da nacionalidade” foi objeto de estudo do linguista Eduardo Guimarães, coordenador do Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) e assessor especial do Gabinete do Reitor que, na manhã desta segunda-feira, proferiu palestra no Fórum Permanente Arte, Cultura e Educação, promovido pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) e organizado pelo Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Nudecri), Laboratório de Estudos Avançados (Labjor) e Labeurb no Centro de Convenções da Unicamp. O evento prossegue na terça-feira.

Eduardo Guimarães falou sobre “A produção de identidades na história das cidades: O caso de São Vicente", procurando avaliar a representatividade como produção da história, onde o sentido de origem passa a significar um sentido permanente. “A grande questão é que os epítetos não precisam ser verificáveis”, informou.

Na Lei 4.603, de 20/3/1965, o governo atribuiu a São Vicente um novo epíteto: “Cidade monumento da história pátria” sem aparente razão. Uma particularidade: foi uma lei produzida na vigência da Ditadura Militar, com um presidente igualmente militar.

São Vicente. Originalmente esse nome é atribuído a esta localidade no século 16, onde Portugal tentava evitar que outros países tomassem parte do Brasil. É um nome inclusive que parte de uma formação discursiva de "religião", assim como os primeiros nomes dados ao Brasil. “Como São Vicente já tinha um epíteto, criou-se outro que, conectados, retomaram algo já dito”, afirmou o linguista.

Depois de sondar o conteúdo da Lei de 1965 e a história da cidade, Eduardo Guimarães expôs que a recriação de um sentido de origem em outro momento é sempre anacrônica. "Não tem nada de factual. Atribui-se o sentido de origem da nacionalidade brasileira à criação de uma vila (São Vicente), que foi estabelecida como um movimento inicial da ocupação portuguesa do território da colônia para permitir uma melhor defesa do território para Portugal”, concluiu.