A trajetória docente para
chegar a professor titular
05/10/2012 - 10:20
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A trajetória de um docente até chegar à titulação máxima, a de professor titular, é difícil de ser dimensionada em termos de tempo, mas com certeza os pré-requisitos exigidos pela instituição não são poucos. Vão desde uma produção científica de qualidade até uma experiência profissional considerável. Ancorada nisso, a obstetra do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti - Caism, Eliana Amaral, também assessora da Pró-Reitoria de Graduação (PRG), recebeu na tarde desta quinta-feira este aguardado título. Eliana Amaral é a oitava professora e a segunda mulher a ser contemplada com esta distinção no Departamento de Tocoginecologia (DTG), de um total de 37 docentes. A primeira foi a oncologista Sophie Françoise Mauricette Derchain.
Depois de passar pelas obrigatórias provas de título onde ela exibiu o seu memorial, teve a oportunidade de mostrar o seu histórico acadêmico e sua didática apresentando uma aula pública sobre "A assistência obstétrica de qualidade e de excelência". Foi arguida ao longo de quatro horas por uma banca de peso científico, composta de professores da Unicamp, USP, Unesp e Unifesp. Ao final, a obstetra saiu vitoriosa com a aprovação unânime, nota 10, quase às 18 horas desta quinta-feira. O resultado foi comemorado pela candidata.
Mas, para isso, o seu preparo antecedeu em muito as formalidades próprias da ocasião. Porém, como a maioria dos candidatos, ainda adentrou a madrugada da quarta-feira para "debulhar" o tema que escolheu, ainda que de seu domínio. Familiares, amigos, dirigentes da Universidade, profissionais da área de saúde e alunos pessoalmente estiveram formando a plateia que prestigiou a sua fala no anfiteatro do Caism.
Ao abordar a assistência obstétrica de qualidade e de excelência, ela confidenciou: “Vivi essa experiência no Caism." E, na Obstetrícia em particular, onde atua, lembrou que é natural se esperar um desempenho saudável tanto da mãe quanto do filho no momento do parto, fato que muitas vezes não ocorre”, lamenta. Segundo a médica, um estudo realizado em países desenvolvidos mostrou que 1 em 3.800 mulheres morre durante a gestação e o parto. No Brasil, 56 mulheres em 100 mil nascidos vivos morrem de parto ou durante a gestação. "E essa é uma taxa intermediária. Logo, o nosso país ainda está longe do ideal”, disse, pontuando que reduzir a morte materna é inclusive um dos objetivos do milênio, um programa visionário da Organização das Nações Unidas (ONU). "Todavia, trabalhos recentes já sinalizam que a estimativa de reduzir a morte materna em 25% até 2015 só deverá ocorrer no Brasil pelo menos em 2040", averiguou.
Eliana Amaral comentou que as mulheres em geral morrem devido a causas diretas, em razão da própria gravidez, ao passo que as causas indiretas, que perfazem 1/3 dessas mortes, também precisam de ações efetivas. A hemorragia, por exemplo, tem aumentado muito nos últimos anos e se soma à primeira causa de mortes, que é a hipertensão.
A candidata à titulação máxima forneceu um consenso sobre a assistência obstétrica mundial, salientando que quase 100% dos partos no Brasil ocorrem em ambiente hospitalar, mais de 70% das mulheres passam por sete ou mais consultas pré-natais e que 81% delas empregam hoje contraceptivos. Falou ainda que a qualidade do atendimento é um gargalo a ser resolvido e que, para atingir a atenção com excelência, ela deve ser uma meta. “Devemos buscar sempre sermos bons o suficiente”, constatou.
Durante sua apresentação, ela concluiu que faltam profissionais qualificados nos hospitais e que os serviços precisam ser melhor preparados na área de recursos humanos. Lembrou que a obesidade está associada a inúmeros riscos obstétricos como diabetes e pré-eclâmpsia e que o acompanhamento contínuo faz grande diferença nos bons resultados, entre outros temas problematizados, como tipos de partos, protocolos para melhorar a qualidade da assistência, near miss (morbidade materna grave), HIV-Aids, saúde reprodutiva e os desafios imperativos para os próximos anos. Eliana Amaral encerrou sua ampla abordagem mencionando os indicadores de qualidade do Caism. “A história do Departamento (o DTG) foi construída por muitos e deve nutrida. E com certeza iremos prosseguir com essa filosofia de atendimento de excelência, que já rendeu ao Caism o prêmio de Melhor Maternidade do Estado, em 2009, na opinião dos usuários.”
Outras atuações
Eliana Amaral foi consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS). Fez programa de fellowship em pesquisa em ensino médico na Foundation for Advancement of Medical Education and Research (Faimer), na Filadélfia, de 2003 a 2004. Desde 2007, é co-diretora do Programa de Desenvolvimento Docente Faimer Brasil, uma iniciativa da Universidade Federal do Ceará, mediante convênio com a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, com apoio da Organização Panamericana da Saúde e da Faimer. Foi coordenadora da Comissão de Avaliação Profissional da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia de 2008-2012 e participou da Comissão de Normatização de Títulos de Especialista da Associação Médica Brasileira. Foi diretora da Divisão de Obstetrícia do Caism de 2003 a 2011. Tem uma vasta produção científica. É membro do Comitê Assessor em DST do Ministério da Saúde e consultora do Programa da Mulher da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.