Físico e neurocientista francês fala
sobre a "emergência do tempo" no Labjor
21/11/2012 - 14:47
- Text:Divulgação Labjor

Nesta quinta-feira (22), dia 22 de novembro, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) recebe Rémy Lestienne, pesquisador do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica da França). Ele profere palestra às 10 horas, na sala de aula e trata do tema: “Do tempo da 'emergência' até a 'emergência' do tempo”.
Remy Lestienne é pesquisador do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica da França) desde 1962 e Diretor de Pesquisa, desde 1976. Suas primeiras pesquisas em Física de Altas Energias foram realizadas na Escola Politécnica, em Paris e no CERN (Centro Europeu de Pesquisa Nuclear), localizado em Genebra. Após uma estadia em Argel como Adido Científico da Embaixada da França, voltou seus estudos para a biologia teórica e neurociência, tendo passado pela Universidade do Sul da Califórnia (USC), em Los Angeles (1985-1987), e pela Universidade de Paris VI, onde atuou no Instituto de Neurociências (1987-1990) e no Laboratório de Neurociências dos Processos Adaptativos (1994-2005). Ao mesmo tempo desenvolvia funções administrativas de representação de pesquisa e diplomática: no Cairo (1974-1977), Argel (1981-1985), Washington (1990-1994) e, finalmente, para Brasília (2001-2005).
Remy Lestienne já publicou os seguintes livros:
- Dialogues sur l’Emergence. Editions Le Pommier, março 2012
- Miroirs et Tiroirs de l’Âme. Le cerveau affectif. Editions du CNRS, septembre 2008
- Cerveau, Information, Connaissance (com Pierre Buser, de l’Institut). 227 p., CNRS Editions, 2001
- Le Hasard Créateur, 282 p., La Découverte, 1993. Traduzido para o inglês sob o título The Creative Power of Chance, pela University of Illinois Press, 1998. E traduzido para o português, com o título O Acaso Criador, Editora Edusp (Universidade de São Paulo), 2008
- Les Fils du Temps, Entropie, Causalité, Devenir. 292 p; Unité et Ambivalence du concept de Temps physique
Conheça uma breve reflexão feita pelo próprio Lestienne sobre a questão do tempo na ciência
“Filósofos e sábios propuseram a ideia de emergência de propriedades novas quando elevamos a escala de complexidade, das partículas elementares até o Universo, ou da bactéria até o Homem. Eles sugeriram a sua aplicação 'bottom-up', da física para a química e até a biologia, com passos marcantes da matéria até a vida, e da vida até a consciência.
Este último exemplo é particularmente interessante. Segundo Roger Sperry (Nobel 1981), que estudava de perto pacientes os quais cirurgiões seccionaram o corpo caloso por razões medicinais, era inescapável a conclusão que a consciência é uma propriedade emergente do cérebro em sua globalidade. Tendo a mente a capacidade de operar uma causa descendente sobre os processos neurofisiológicos, ou, em outros termos, de provocar bifurcações nas atividades das redes de neurônios do cérebro. Discutiremos com exemplos específicos porque Sperry defendeu esta forma de emergência "forte".
Recentemente, físicos procurando uma história do Universo na qual Relatividade e Mecânica Quântica estão reconciliadas, propõem a ausência do tempo na origem. De fato, pode-se pensar que o tempo não 'morde' da mesma maneira os seres e as coisas aos vários patamares da complexidade. Para um fóton, condenado a sempre voar com a velocidade da luz, a noção relativista de tempo próprio não existe. Com um só átomo de substância radioativa, não se pode construir um relógio, pois este átomo sempre tem a mesma probabilidade de desintegrar-se no segundo seguinte. Relógios baseados nas leis da mecânica racional e os planetas sobre suas órbitas permitem definir um tempo, pois esses movimentos obedecem às leis de Newton que regulam as sucessões pela causalidade mecânica. Nota-se, porém, que o tempo de Newton é incompatível com a relatividade de Einstein.
Enfim, se os físicos puderam teorizar alguns caracteres do tempo, como índice da causalidade na teoria da Relatividade, ou como índice de irreversibilidade no crescimento da entropia nas trocas de calor, eles não puderam incluir esta realidade essencial que é o presente, esta propriedade pela qual o mundo que nos rodeia parece incessantemente passar da potencialidade até a atualidade. E isso afligia Einstein!
Pois só os sistemas abertos, trocando energia e entropia com o mundo, podem ser caraterizados por um presente. Com os seres vivos, organizados por ciclos em fase com os ciclos do mundo, surge não somente o presente vivido, mas também a antecipação dum futuro cada vez mais distante e a lembrança dum passado cada vez mais profundo à medida que se ultrapassam as graus de complexidade do vivo, da ameba até o rato e do rato até o Homem.
Contudo, este quadro em patamares parece anunciar uma teoria emergentista do Tempo”.