Programa de Avaliação da Graduação
busca aperfeiçoar o seu modelo

28/11/2012 - 14:29

Os professores Mara e José Alves

Lançado em 2011, o Programa de Avaliação da Graduação (PAG) da Unicamp tem dado passos largos em direção à sua consolidação. Foi instituído para subsidiar as discussões sobre o aprimoramento das condições do ensino de graduação da Universidade e tem contribuído para conhecer melhor a realidade dos cursos e as características do trabalho pedagógico desenvolvido por estudantes e docentes nos diferentes espaços educativos. O processo de avaliação é on-line, ocorre semestralmente e envolve todas as disciplinas teóricas e práticas. Em sua quarta edição, a iniciativa já conta com a adesão de 18% dos alunos, dos cerca de 17 mil no total. Este sistema está aberto a participações desde 12 de novembro e prossegue até 20 de dezembro. Os interessados, sobretudo alunos de graduação e professores, podem acessar a plataforma diretamente da página do (EA)2, no link "avaliação", para darem as suas contribuições. A autenticação é feita pelo SiSe (Sistema de Segurança) do Centro de Computação. O username e a senha são os mesmos utilizados para o acesso de serviços acadêmicos na DAC. Para abordar o estágio em que está o programa, o quanto avançou e a importância que ele tem para a avaliação institucional, os professores José Alves Freitas Neto, coordenador do (EA)2, e Mara Regina Lemes de Sordi, coordenadora do Núcleo de Avaliação do (EA)2, explicaram ao Portal Unicamp o valor desse instrumento e da participação dos alunos e professores nesse momento. Acompanhe a entrevista.

Portal Unicamp – O que é o Programa?
José Alves – O Programa de Avaliação da Graduação (PAG) é um instrumento de participação voluntária que envolve professores e alunos da Unicamp para que possam fazer uma tomada de dados sobre aquele semestre que está se encerrando. Nesse primeiro momento, eles são chamados a avaliar as condições de oferecimento das disciplinas e as condições de oferecimento da própria estrutura da Universidade, além de traçar um perfil tanto dos professores quanto dos alunos. Essa é a chamada que fazemos a todo semestre para que as pessoas nos ajudem a alimentar uma plataforma com dados, indicadores, a fim de poder fazer, o desdobramento do PAG e, depois, a devolutiva desses dados sob a forma de conversas, relatórios, informes e publicação de dados, de modo a subsidiar discussões e mudanças no interior das graduações. O PAG tem pelo menos duas características das mais visíveis: a tomada de dados, que é esse momento – cuja participação da comunidade é fundamental, pois sem ela não temos condições de obter essas informações; e o segundo que é quando, passado esse período de coleta de dados, os dados são interpretados, dando um start para uma reflexão e debate no interior de cada um dos cursos. Esse é o nosso objetivo maior: fazer com que esses dados ofereçam elementos para um debate sobre a qualidade do ensino de graduação que almejamos dentro da Universidade.

Portal Unicamp – Quais foram os principais resultados que você obtiveram até aqui?
Mara – Esse programa tem contribuído de uma forma robusta na identificação de alguns pontos comuns ao ensino de graduação que permitem dizer que nós conseguimos localizá-los, decorridas essas edições (será fechada a quarta edição). Também podemos dizer que já conhecemos  grosso modo o que acontece na Universidade. Agora, evidentemente isso tem que ser aprimorado. Há isso hoje já no (EA)2, na discussão entre seus núcleos, não apenas no núcleo de avaliação, já que também a proposta do trabalho é essa: a partir desse dado não só os cursos são privilegiados no sentido dos resultados, mas o próprio (EA)2, que planeja e replaneja as suas ações. Nós temos, a partir de algumas evidências que apontam como é que são as práticas pedagógicas que mais motivam as aprendizagens, quais são as questões que estão pautadas nos processos de avaliações de aprendizagem que mais auxiliam aqui, para que os alunos entendam como elas são proveitosas para o seu desenvolvimento. A partir disso, nós geramos algumas outras modificações, cumprindo a função do (EA)2, que é de apoio à qualidade do ensino na graduação. Então o que pensamos agora nesse novo ciclo? Começar a revisitar o instrumento para perceber ainda como vamos agora aprofundar e buscar elementos que nessa fase já conhecemos, fazendo emergir aqueles que não conseguimos identificar. Acho que essa é uma questão importante. Do que temos visto, há algumas recorrências mostrando, por exemplo, o que os alunos entendem como um bom trabalho, do que eles não gostam e do que eles se ressentem, etc. Só que nós precisamos aprofundar isso um pouco mais. São desafios que temos e vamos estar respondendo a eles. Fazendo uma constante busca para ampliar a adesão dos estudantes e para sensibilizar as coordenações dos docentes para a riqueza que os dados possuem, se eles forem interpretados. A ideia é tentar construir ou aprimorar a relação do próprio (EA)2 no seu núcleo de avaliação junto a essa comunidade, para que o PAG não fique simplesmente restrito a momentos de medições, mas que ele possa gerar consequências que competem algumas ao (EA)2 e outras ao protagonismo dos cursos, na forma como reagem a esses dados avaliativos.

Portal Unicamp – Como foram as adesões, em termos de participação?
José Alves – Nós começamos com um índice em torno de 13,5% de adesões. Na última edição, tivemos algo em torno de 18%, o que seria, em termos de números absolutos, 2.898 graduandos (a Unicamp tem 16 mil alunos na graduação). Curiosamente, tivemos uma equivalência entre docentes e professores. Em linhas gerais, podemos dizer que o nosso aluno menciona estar satisfeito com a graduação e reconhece o envolvimento e a atuação dos nossos docentes no preparo de aula e em suas atividades. A estrutura de laboratórios e bibliotecas da Universidade também contempla os interesses dos alunos mas, em termos de dados gerais, às vezes em uma ou outra unidade não batem muito. Por outro lado, esses alunos têm pouco envolvimento e participação em atividades culturais e se queixam de que, por exemplo, não têm a devolutiva dos resultados de verificação. Não entendem muito bem quais são os resultados da prova. Esse é um dos gargalos ou sinais que os alunos emitem quando expressam insatisfação. Ou seja, eles veem o professor envolvido na atuação em sala de aula e no conjunto da pesquisa (há uma relação intrínseca entre a graduação e a pós-graduação). Mais de 80% dos professores desenvolvem atividades de iniciação científica, dos que participaram. São dados que sinalizam a realidade de uma Universidade que tem na pesquisa um dos seus eixos e que esse ensino não está desatrelado dessa característica da pesquisa. Porém, ele ainda tem dificuldades e precisa de uma tomada de consciência, de que esses dados podem fornecer pistas para refletir porque temos tanta dificuldade ainda em dizer quais são os nossos critérios para avaliar, para dar uma nota e quais são os subsídios, no aspecto mais acadêmico e didático, para que aquela avaliação possa ser mais transparente para todos os agentes.

Portal Unicamp – Como são avaliados esses dados?
Mara – Uma vez que são gerados os relatórios, e eles são de domínio público, o aluno pode acessá-los e também fazer interpretações, pois tem uma visão geral do seu curso e da Universidade. Todo mundo pode, em princípio, acessar e se beneficiar dele, inclusive nós do (EA)2, que temos um interesse particular, já que isso informa as políticas da graduação. Tendo um gargalo relacionado aos trabalhos ligados à avaliação de aprendizagem ou quando o aluno assinala a importância que tem o professor na graduação, de ensino de graduação, junto com ele, sinalizando que ele pretende ter diálogos que desenvolvam o raciocínio científico, a autonomia intelectual, a problematização das situações, isso já é uma forma de pensar que qualidade ele quer e que postura ele espera do professor. Para nós, isso interfere na formulação de ações de apoio à prática docente, de ações junto à própria Pró-Reitoria de Graduação (PRG), indicando eventualmente os défices de infraestrutura ou de biblioteca. Fazemos um diálogo nisso. Agora, fundamentalmente, o interesse nosso é promover uma apropriação desses dados não apenas para cima, mas para baixo, no nível dos cursos, instrumentalizando a ação dos coordenadores também. Porque é no nível local que esses dados podem gerar mudanças qualitativas mais rápidas e mais precisas. Evidentemente, quando você coloca isso como protagonismo local, você oferece a infraestrutura, o apoio e os recursos. A missão do EA2 é estar junto, contudo não substituir a ação de reflexão e a interpretação dos cursos, a quem realmente compete ratificar ou não. Ele é que tem a capacidade de dizer se aquele dado procede ou não.

Portal Unicamp – Como as pessoas fazem para participar?
Mara – Quando o aluno acessa os seus dados na Diretoria Acadêmica (DAC), já existe um dispositivo no qual ele é lembrado. Temos tido a colaboração dos coordenadores para incentivar o aumento dessa participação. Automaticamente, o aluno acaba aceitando participar na medida em que percebe o que isso pode acrescentar de qualidade. Então você desenvolve o compromisso dele com a qualificação do curso de que ele participa.

José Alves – O nosso papel é convidar os alunos e deixar claro que nós queremos, conforme já conversado com coordenadores e a partir de sugestões e críticas ao aperfeiçoamento do instrumento, consolidar um ciclo de coletas de dados na atual base: a plataforma. Provavelmente nós teremos, a partir de uma conversa interna e com especialistas em avaliação, uma transformação em que vamos construir conjuntamente com esses agentes (alunos, professores e pesquisadores de área) um novo instrumento. Então seria muito importante a participação daqueles que já atuaram anteriormente e de outros que não tiveram essa oportunidade, que venham registrar um pouco do perfil e das condições de oferecimento das nossas disciplinas e de nossos cursos de graduação, para que possamos consolidar esses dados. Assim, poderemos abrir uma nova fase de avaliação, pois ela também deve ser dinâmica. Não pode ser simplesmente um conjunto de dados que se sucedem semestralmente sem dizer muito. Algumas coisas já foram ditas para nós. Agora chegou a hora de perguntar outras coisas. Portanto, depois de dois anos atuando nessa plataforma, nós teremos essas condições. Esperamos que essa próxima edição já seja de atender interesses inclusive de coordenadorias que querem fazer do PAG o seu principal instrumento de avaliação, substituindo avaliações às vezes fragmentadas na Universidade.

Portal Unicamp - Como deve ser a participação desse aluno?
Mara – Quando o aluno (ou o professor) visita a sua página na DAC, para fazer os seus acompanhamentos acadêmicos, que são do seu interesse, ele é convidado a marcar a sua posição no processo de qualificação da graduação. No entanto, o PAG não tem o intuito de que a sua participação se limite a responder o instrumento. Esse espírito de participação e de desenvolvimento deve se manter presente no aluno como uma oportunidade, o direito que ele tem e a sua responsabilidade de fazer o monitoramento daquilo que lhe diz respeito, que é um selo de graduação, do qual ele participa e para o qual ele pode contribuir ao longo do tempo, para o seu aperfeiçoamento.

Portal Unicamp – A avaliação na Unicamp evoluiu muito?
Mara – Sim, a ponto de podermos dizer hoje que, a partir dos subsídios recebidos de professores, de alunos, das conversas informais também com coordenadores, percebemos que o instrumento que foi produzido, em colaboração com professores e com as unidades, permitiu reconhecer um estado de coisas e ter elementos que permitam aprimorá-lo, na mesma perspectiva participativa, que tem sido a tônica do trabalho do EA2, a qual estamos chamando uma releitura, uma avaliação da avaliação, um ciclo que já ocorreu, no sentido de construir novas possibilidades que levem ao aperfeiçoamento do modelo, por tudo o que ele informa aos docentes, alunos e administradores da Universidade.