35 anos sem, mas com
Clarice Lispector em estudos e
adaptações para a dramaturgia
04/12/2012 - 17:45
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“Quando tinha 9 anos, eu vi um espetáculo e, inspirada, em duas folhas de caderno, fiz uma peça de três atos, não sei como. Escondi atrás da estante porque tinha vergonha de escrever.” As palavras assim distribuídas revelavam um futuro na literatura. Ou seria no teatro? Apesar de iniciar a carreira como jornalista, escrevendo para algumas publicações, Clarice Lispector está até hoje entre os escritores mais procurados e indicados do Brasil. De alguma forma, acabou fazendo parte do teatro, pois seus textos literários até hoje inspira adaptações para o teatro. Sempre se relacionou com artistas, principalmente com sua amiga Tonia Carrero, publicou críticas, crônicas e traduções sobre produções teatrais, como informou o professor da Universidade de Brasília André Luís Gomes em palestra no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) nesta terça-feira (4).
Há 35 anos o mundo se despedia de Clarice Lispector, mas a escritora, crítica, jornalista e poetisa continua viva nacional e internacionalmente, de acordo com Gomes. Em sua tese defendida na Universidade de São Paulo, ele aborda aspectos da relação de Clarice com o teatro, revelando uma afinidade muito grande com o ambiente de artes cênicas. A proximidade com este fazer artístico é expressa na troca de correspondências com amigos, principalmente com Lúcio Cardoso. Em alguma cartas, ela contava aos amigos sobre o panorama cultural na Europa, onde viveu por 15 anos, e perguntava sobre o cenário brasileiro. Em uma das missivas, Lúcio pedia a Clarice que escrevesse um texto falado sobre o teatro de câmara, defendendo o teatro pequeno, com atores brasileiros, sem pretensão de ser um espetáculo ou um show.
A riqueza da descrição de personagens e ambientes é um dos aspectos que torna Clarice traduzível ao teatro, a ponto de ela mesma se tornar personagem nas mãos de alguns dramaturgos. A escritora lançou-se na crítica literária pelas mãos de grandes pelas mãos de grandes críticos da década de 1940, como Álvaro Lins, Sérgio Millet e Antonio Candido. Sua Joana, de Perto do Coração Selvagem, chegou a ser comparada com a Alaíde, personagem de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues em crítica de Álvaro Dias.
A primeira adaptação para teatro aconteceu em 1965, por Fauzi Arap, 22 anos depois de sua primeira publicação, em 1943, do livro Perto do Coração Selvagem. No elenco, Glauce Rocha e José Wilker. A Hora da Estrela (1967) e A Paixão Segundo Senhor G (1964) também estão entre os clássicos adaptados para a linguagem teatral. Em seguida, conquistou dramaturgos de Portugal e da França.
Professor da Universidade de Brasília (UnB), Gomes foi orientado pela maior especialista em Clarice Lispector, Nádia Gotlib, quando decidiu, na especialização na Universidade de São Paulo (USP), a estudar a obra cênica da autora. A inspiração veio do contato com uma montagem de amigos da ECA a partir da obra da escritora. Formado em artes cênicas e literatura pela USP, onde obteve mestrado e doutorado, ele afirma que Clarice é uma das principais indicações para vestibulares e para a formação de estudantes de ensino médio e graduação em teoria literária.