Narração 'Natal', de Elaine Moraes,
integra Caderno de Redações da PUC
19/12/2012 - 11:35
- Text:Da Redação
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Na busca de algo que proporcionasse refrigério ao sofrimento alheio, a secretária do Departamento de Informática do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp Elaine Moraes encontrou a ONG Griots, na qual, rapidamente, se tornou a Nani Encantadora. As visitas semanais à Pediatria do HC para criar, recriar e transmitir histórias que garantiam momentos de felicidade a crianças internadas e acompanhantes fez com que exercitasse a prática da escrita. Em 2012, ao candidatar-se a uma vaga de estudante de filosofia, Elaine encontrou seu nome em segundo lugar na lista de aprovados do Vestibular da PUC, depois de 20 anos longe de vestibulares. Como se não bastasse, foi notificada de que a narração criada por ela faria parte do Caderno de Redações do Vestibular 2011 da PUC Campinas, lançado este mês.
Como na época do vestibular ela escrevia histórias sobre o Natal para presentear seus pequenos ouvintes, imaginou a realidade de um menino e entrelaçou-a com a fantasia do presépio, da manjedoura e dos três Reis Magos. É com esta história que Elaine brinda a comunidade da Unicamp com votos de um feliz ano novo. “Já escrevi histórias, mas não publiquei nada até hoje. A inserção do meu texto neste caderno, a crítica que ele obteve e a repercussão neste tempo de Natal está sendo muito importante pra mim, pois sempre defendi que as histórias e os contos não podem perder a fantasia, devem ser ricos em metáforas e simbologias.”
O texto é de domínio da PUC Campinas e foi publicado no Caderno de Redações PUC-Campinas: processo seletivo 2012, organizado por Maria Ignês Ghilardi Lucena, Graciema Pires Therezo e Maria Marcelita Pereira Alves.
Natal
Elaine Cristina Villalba de Moraes
Quando Giovan saiu de casa naquela manhã, véspera de Natal, estava inquieto e angustiado. Teria que vender todos aqueles picolés que sua mãe preparara com muito esforço, visto estar dando sinais de dar à luz a qualquer momento. Sua mãe era Dona Maria, mãe solteira, que dava duro para criar Giovan e ele a ajudava vendendo sorvetes. O bebê que ia chegar não tinha enxoval. Às vezes Giovan queria perguntar alguma coisa para sua mãe sobre aquela barriga, mas algo ali, no fundo do peito doía e o impedia. Chegara a pensar: se eu não tenho pai, tudo bem. Esse que vai nascer também não terá. Eu ajudo minha mãe, ele vai ajudar também! Naquele dia, não só a praça onde ele estava, mas em todo lugar, as pessoas se atropelavam agitadas para as compras de Natal. O menino Giovan ia circulando pela praça ou, por vezes, parava num ponto e ia vendendo um picolé aqui e outro ali. Observando o movimento, lembrou-se que aquilo era por causa do Natal, coisa que ele não entendia muito bem, já que o Papai Noel assim como seu pai não existiam para ele. Já a imagem do presépio o encantava, embora não soubesse muito bem o seu significado. Depois voltava à realidade, que era vender picolés.
– Tem de uva? – perguntava um transeunte.
– Tem sim senhor! – e pegava logo um da caixa e fazia o troco em dinheiro certinho, pois mesmo em seus dez anos fazia conta de cabeça.
De repente, no meio da multidão, Giovan ouve os gritos aflitos de um coleguinha, vizinho de sua casa.
– Corre Giovan, corre para sua casa que sua mãe tá gritando de dor. Ela tá sozinha e fala teu nome desesperada.
O menino, com sua caixa ainda cheia de picolés, desembestou a querer passar, com seus pensamentos ainda embaralhados, por entre aquelas pessoas todas da praça. O inevitável aconteceu: rompeu-se a alça da caixa e todos os picolés foram ao chão. O que estava agitado ficou pior. Meninos e meninas surgiram de toda parte para saquear do infortúnio de Giovan. Não adiantava ele gritar, pedir, implorar. Não conseguindo conter-se, começou a chorar como uma criança chora.
Um policial do local chegou para por ordem, mas, a princípio, queria acusar o menino e questionava o motivo de tanta pressa. Um motoboy que ali passava veio em sua defesa e um padre conhecido pediu ao menino que falasse com calma sobre aquela confusão. Foi o tempo de o menino explicar: saíram os três para tomar providências para atender Dona Maria.
Naquela noite Giovan viu uma estrela no céu, sua mãe com uma criança recém chegada, o policial, o motoboy e o padre à sua frente. Pensou que conhecia estranhamente aquela cena:
– Um Natal! Parece que tem um presépio em casa!
Cearam uns picolés que sobraram.
Serviço:
MORAIS, Elaine. “Natal”. Caderno de Redações PUC-Campinas: processo seletivo
2012. Campinas. PUC-Campinas, 2012, p. 67.
Comentários
Natal de Elaine
Olá Elaine, desde que nos conhecemos no curso Gepro soube que vc é uma excelente contadora, vi em você um grande potencial, determinação e amor. Fico feliz por tudo de bom q vc faz na pediatria esta repercutindo neste momento. Um grande abraço da Marli Assistente Social da Pediatria HC-UNICAMP.