Aldo Arantes reacende
suas memórias no AEL
21/02/2013 - 16:24
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Singelas peças de jogo de xadrez, feitas de miolo de pão e cal, mereceram atenção especial de Aldo Arantes, ex-deputado federal e ex-presidente da UNE, na visita que fez ao Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) na manhã desta quinta-feira. As peças foram moldadas na prisão por Pedro Pomar, fundador do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que acabaria assassinado com mais dois companheiros dentro do Comitê Central, numa operação do Exército em dezembro de 1976 e que entrou para a história do regime militar como “o massacre da Lapa”.
Aldo Arantes teria o mesmo destino se a sorte não fizesse com que deixasse a casa momentos antes. “Sempre tive muito interesse em conhecer o Arquivo, até porque sou amigo de Marco Aurélio Garcia [assessor especial da Presidência da República], que colaborou para a sua criação. Agora existe uma razão mais específica: estou escrevendo um livro que será lançado no curso das comemorações dos 50 anos da Ação Popular em 2013. Não é sobre a história da AP – que já escrevi juntamente com Haroldo Lima –, é um livro de memórias em que procuro resgatar a minha história política desde a juventude.”
Carregando a bandeira da reforma universitária na União Nacional dos Estudantes de 1962 até o golpe de 64, Arantes viveu 11 anos na clandestinidade, sendo preso em duas ocasiões. A primeira em 1968, em Maceió, quando nem a esposa e os filhos de 3 e 4 anos foram poupados de mais de três meses de reclusão – no quinto mês, ele conseguiu fugir para a clandestinidade em São Paulo, onde começou sua ligação com o PCdoB. A segunda prisão aconteceu dentro daquela operação do “massacre da Lapa”, por mais dois anos e oito meses, até a liberdade em agosto de 79 com a Anistia.
“Sei que no Arquivo Edgard Leuenroth existe um volumoso material sobre essa história, mas o livro está praticamente pronto”, adianta Aldo Arantes. “Na verdade, não vim aqui para uma pesquisa de elaboração, até porque vivi todo o processo e guardo os grandes episódios. Meu objetivo é identificar corretamente as datas, precisar alguns acontecimentos e obter fotografias de alguns documentos que não possuo. No livro também procuro retratar o período da legalidade. Fui deputado federal por quatro mandatos.”
Natural de Anápolis (GO), em duas oportunidades Arantes foi eleito deputado “nota 10” pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Também foi constituinte em 1988 e acabou pendendo para o tema do meio ambiente. “No último mandato me incorporei a uma luta em defesa do rio Araguaia, que é a praia dos goianos. Havia a tentativa de construção de uma hidrovia, quando estudos científicos da Universidade Federal de Goiás mostram que o rio não é apto para navegação de grande calado. Este movimento foi me aproximando progressivamente da questão ambiental”.
Nesta continuidade, Aldo Arantes foi secretário de Meio Ambiente de Goiás e secretário nacional do PCdoB para esta mesma área (cargo que ocupa até hoje). “Pude conduzir seminários nacionais sobre temas como Amazônia, Centro-Oeste, questão urbana e Código Florestal. Participei das conferências mundiais de Cancun e Durban e acabei de chegar do encontro sobre biodiversidade na Índia. Tudo isso me permitiu formular uma série de textos, além de dois livros: Meio Ambiente e Desenvolvimento – Em busca de um compromisso e Mudanças Climáticas – Fundamentos científicos e políticos. Atualmente, sou diretor-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Defesa do Meio Ambiente (INMA), uma ONG em Brasília.”