Quase todo trabalho de mestrado e de doutorado em geral redunda também em outros produtos de investigação. É o caso de uma tese que está se tornando um livro. O tema é O Clown Visitador: Comicidade, Arte e Lazer para Crianças Hospitalizadas, desenvolvido na Unicamp. A obra acaba de ser produzida pela pós-graduanda Ana Elvira Wuo, que há 20 anos faz um trabalho voluntário como clown (palhaço) no Centro Infantil "Dr. Domingos Boldrini", de Campinas, um hospital filantrópico onde 80% dos pacientes com câncer são tratados pelo SUS. O lançamento acontece no próximo dia 23 no Espaço Cultural V Centenário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, às 18 horas, pela Editora da Universidade Federal de Uberlândia (Edufu).

O clown tem suas raízes na baixa comédia grega e romana, com seus tipos característicos, e nas apresentações da Commedia dell'Arte (3). Nas festividades religiosas e nas apresentações populares da Antiguidade, havia uma alternância entre o solene e o grotesco. Esse é um fato comum a povos distintos: dos gregos até os aborígenes da Nova Guiné, passando pelos europeus da Idade Média ou pelos lamaístas do Tibete. Esta combinação do cômico e do trágico acentua a percepção de emoções contrapostas e é muito peculiar ao clown.

Os livros publicados no Brasil sobre o tema da arte do clown em ambiente hospitalar são geralmente focados na experiência pioneira dos "doutores da alegria" e são referências em diversos cursos de formação em teatro, psicologia e enfermagem. A autora, que atua por meio da palhaça Dolores Dolarria, mostra em 167 páginas a relação entre a palhaçaria e o ambiente hospitalar, fruto do seu estudo de mestrado. Ao acionar a figura do clown visitador e não do doutor-palhaço, ela faz uma investigação de outro modo de operar nesse espaço e novas formas de integração com ele. Com isso, possibilita que alunos e pesquisadores das áreas artística e de saúde tenham contato com uma pesquisa de fôlego, feita dentro do ambiente hospitalar, unindo arte, lazer e saúde no tratamento de crianças hospitalizadas. O Centro Infantil Boldrini foi o picadeiro do trabalho de Ana Elvira Wuo.

A obra tem como público-alvo professores pesquisadores e estudantes das áreas de teoria teatral, pedagogia do teatro, performance, profissionais da saúde e lazer, com prefácio da médica Sílvia Brandalise, presidente do Centro "Dr. Domingos Boldrini". Será comercializada ao preço de R$ 25,00. Conheça um pouco do trabalho de Ana Elvira através de um vídeo feito pelo Programa Brasil Urgente da TV Bandeirantes.

"Sentimos o cheiro do ambiente muito presente, o jeito e o som dos risos e sorrisos, as vozes, os pedidos, os choros, o sofrimento, alegria, pois tocamos um na experiência de vida interior do outro; criamos uma cumplicidade através da qual entendi de que forma um compromisso com o próximo me propiciava literalmente um estado de graça toda vez que partilhava a arte do clown com os pacientes. Vivemos uma linda história de amor..." Foi assim que Ana qualificou uma parte de sua experiência de 20 anos com as crianças hospitalizadas. "... o toque de uma mão pequenina nas mãos desajeitadas do clown indicava caminhos, passeios, descobertas de outros espaços dentro da cura, da arte, da alma", expressou.