Alma de gato escapa
ao ataque do gavião

30/04/2013 - 11:47

A cena era intrigante na manhã da segunda-feira (29) no campus da Unicamp, em Campinas: um gavião tentava capturar um pássaro defronte à Praça da Paz. Era ainda um filhote, quem sabe exercitando os primeiros passos para alçar um voo. A cena foi acompanhada por um grupo de funcionários da Universidade, procurando decifrar qual era a sua espécie. Algumas imagens, ao longo da batalha que foi travada, com plateia e tudo, foram rapidamente registradas pelo fotógrafo da Assessoria de Comunicação Antoninho Perri, que fez uma série de imagens retratando aqueles momentos de luta pela sobrevivência.

Veio o gavião, deu um rasante e pegou o pequeno pássaro por um tempo. Era pouco antes das oito horas da manhã. O que os circunstantes não viram, e nem o filhote, foi que alguém espreitava a ave de rapina: a mãe do filhote, que surgiu grandiosa para defender a cria. Quase do mesmo tamanho do gavião, a fêmea avançou desferindo-lhe bicadas. O filhote se soltou e caiu no chão. Nova investida foi ensaiada e o passarinho conseguiu escalar um arbusto, observado ainda pela plateia. A mãe fez outros contra-ataques e dissipou o agressor, para alívio dos que olhavam, inclusive os corinthianos.

À tarde, o fotógrafo voltou à Praça para ver algum outro desmembramento do caso, devidamente informado pelos passantes. Ainda eram nítidos os resquícios da luta – algumas penas tombadas perto do arbusto. Mas, felizmente, a poucos passos dali mãe e filho continuavam juntos. Alguns viram o pequeno pássaro sendo alimentado pela mãe. “A vida não quer vítimas e sim sobreviventes”. Frase da pensadora Rosmary Krasinski. Pelo menos nesse caso o gavião não levou a melhor.
'alma de gato' e gavião

Intervenção
Consultado sobre as espécies das aves, o professor Wesley R. Silva, do Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia (IB), expert no assunto, informou que o mãe e filhote são Piaya cayana, conhecida por 'alma de gato', e que o gavião é Rupornis magnirostris, popularmente chamado gavião-carijó.

Piaya cayana mede em geral 50 cm, contando a cauda, o que a torna inconfundível. Anda sozinha ou aos pares. Alimenta-se basicamente de insetos como lagartas, que captura ao examinar as folhas. É curioso notar que come até mesmo lagartas com espinhos aparentemente venenosos. Também consome frutinhas e ovos de outras aves, motivo pelo qual é muitas vezes afugentado por suiriris e outras aves que estejam com ovos e filhotes aves, lagartixas e pererecas. Consegue imitar o canto de outras aves, como o bem-te-vi, por exemplo, pelo fato de parecer com sua própria vocalização. 

O Rupornis magnirostris mede cerca de 20 cm. Os adultos apresentam a ponta do bico negra com a base amarelada, a cabeça e a parte superior das asas são amarronzadas, mas tornam-se cinzas a medida que a ave amadurece. O peito é ferruginoso, a barriga e as pernas são brancas e finamente barradas com listras ferrugíneas. A base da cauda é branca, mas vai se tornando barrada em direção à extremidade. Existem duas listras negras visíveis na extremidade da cauda. A coloração básica da parte inferior das asas é o bege estriado com finas listras escuras. É um dos gaviões mais comuns no Brasil.

Procura os abrigos diurnos de morcegos para atacá-los enquanto dormem. Ataca ninhos de outras aves e por isso é ferozmente perseguido por suiriris e andorinhas. O casal constrói um ninho de gravetos revestido por folhas, geralmente no topo de uma árvore grande. Quando está reproduzindo, pode tornar-se agressivo, atacando até mesmo seres humanos que se aproximem de seu ninho.

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