Foi defendida na última segunda-feira (27) uma tese de doutorado internacional, em cotutela entre o Departamento de História da Unicamp e a Universidade de Paris-Sorbonne, com a presença de dois professores franceses na banca examinadora. Denise Scandarolli Inacio é a autora de “Cenas Esquecidas ou vaudeville, opéra-comique e a transformação do teatro no Rio de Janeiro nos anos de 1840”, que teve a orientação do professor Edgar Salvadori De Decca. Raphaëlle Legrand, da Universidade de Paris IV-Sorbonne, e Jean-Claude Yon, da Universidade de Versalhes, concederam à pesquisadora a menção “très honorable”, a nota máxima para o doutorado na Sorbonne. Também compuseram a banca os professores Jurandir Malerba, da PUC do Rio Grande do Sul, e Paulo Küh, do Instituto de Artes (IA) da Unicamp.

Denise Scandarolli explica que seu objetivo foi compreender a presença do teatro lírico francês no Rio de Janeiro, em especial o opéra-comique e o vandeville, além do papel desses gêneros musicais no desenvolvimento de práticas e conceitos ligados às artes no Brasil. “Trata-se de um trabalho entre história e musicologia, focando diretamente dois grupos franceses que vieram ao Brasil entre 1840 e 1848, modificando completamente o cenário artístico e teatral do Rio de Janeiro no período. Por isso, a importância da cotutela, que me permitiu fundamentar as duas visões, tanto a musicológica quanto a historiográfica.”

A autora da tese acrescenta que, a partir de uma análise comparativa entre Rio de Janeiro e Paris, ela buscou entender as modificações de significação desses espetáculos e a recepção do público à adaptação de peças e de tradições teatrais francesas, sobretudo parisienses. “Sendo também um trabalho comparativo, as duas visões foram igualmente relevantes, além da experiência na universidade parisiense e do acesso a arquivos franceses.”

Raphaëlle Legrand se disse feliz por ter orientado o trabalho, sobretudo a primeira parte, em que Denise foi à França para conhecer melhor o gênero opéra-comique. “Eu a acompanhei nesse percurso e tive certeza de que ela obteria sucesso na conclusão da tese, pois já havia obtido quando esteve em Paris”, elogiou a professora da Universidade de Paris IV-Sorbonne.

Jean-Claude Yon, da Universidade de Versalhes, que também se mostrou contente por participar da banca, afirmou que a tese aborda de forma brilhante a difusão do teatro francês no século 20, o que vem sendo de grande importância para a arte até nossos dias. “A tese apresenta um recorte muito interessante, com abordagens de qualidade. Denise ficou por algum tempo em Paris e pôde dispor das duas vertentes dessa difusão. E, para mim, esse trabalho deve seduzir tanto o leitor brasileiro como o leitor francês, porque se trata de um tema novo para os dois países.”

Para o professor Edgar De Decca, que orientou a pesquisa, a defesa de tese internacional implica na obtenção pela aluna de títulos válidos no Brasil e na França. “A cotutela não é comum dentro da Unicamp, mas aponta um novo caminho que devemos explorar com maior assiduidade, na perspectiva de encontrar temas para que a internacionalização se dê também compartilhando questões que dizem respeito ao Brasil e outros países. Acredito que a cotutela merece destaque por abrir a possibilidade de intercâmbio de professores e estudantes. E, afinal, adquirir um título de doutor por uma instituição como a Sorbonne não é pouca coisa.”