Artistas de Campinas apresentam conclusão
do Projeto Mala nesta sexta, na Galeria

01/08/2013 - 16:37

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Mala deixada na ilha

Mala deixada na ilha

Montagem

Montagem

Lygia

Lygia

Ana Paula

Ana Paula

Fernanda

Fernanda

Antônio Scarpinetti

Antônio Scarpinetti

A negra nuvem cobria o céu numa viagem de São Paulo a Campinas. Os sinais de temporal captados pelo fotógrafo Antônio Scarpinetti e impressos em papel fotográfico ajudam a compor a interpretação da artista Lygia Efuf para A Tempestade, último texto teatral escrito por William Shakespeare. Professora do Instituto de Artes da Unicamp, Lygia foi idealizadora e está entre os artistas brasileiros incumbidos de dar cor, traços e movimento ao texto do escritor e dramaturgo inglês na exposição “A Ilha”, que pode ser visitada apenas nesta sexta-feira (2), na Galeria de Arte da Unicamp, das 9 às 17 horas. “Minha proposta era incentivar a produção em grupo. Queria que as pessoas entendessem isso. E ao produzir a foto, motivado por minha interpretação, o Antônio (Scarpinetti) passou a fazer parte disso. É isso que queria transmitir aos artistas”, explica Lygia. Acompanham a exposição, debates e performances cênicas e musicais.

Enquanto no Brasil os artistas se manifestam sobre os assombros e ao mesmo tempo as maravilhas da Tempestade, em Londres, os artistas interpretam Lagoa, música de Hermeto Pascoal. A ação artística, aqui como lá, é a conclusão de um intercâmbio que já rendeu um ano de discussão sobre processo de criação e produção coletiva dentro do Projeto do Grupo “Mala”.

Quando teve a ideia do intercâmbio, em conversa com o ex-aluno Marcio Andrey Santarosa, que conclui mestrado em Wimbledon College of Arts, e Cláudio Luiz Garcia, professor da Universidade Estadual de Londrina, Lygia começou a conversar com alunos de graduação e pós e funcionários da Unicamp, além de artistas de Campinas, sobre a possibilidade de participarem do projeto. O convite foi aceito prontamente a ponto de reunir quase 50 pessoas na produção das exposições. Entre os participantes, um especialista em Shakespeare.

Funcionária da Galeria de Arte, Ana Paula Andrade alegra-se de poder resgatar o lado artístico reservado desde que assumiu a vaga de produtora na Unicamp. “Não esperava, pois vim para cá com uma função específica e não tinha perspectiva de expor na Galeria”. Ana produziu um vídeo inspirado em trecho de Shakespeare que fala sobre vingança e perdão.

A mudança para a cidade de Santos, litoral de São Paulo, colocou a artista Natália, mestre pela Unicamp, em contato direto com o mar. Não o mesmo que inspirou A Tempestade, mas aquele que a inspirou a compor sobre A Tempestade. Identificou sua produção e sua pesquisa em autorretratos com a personagem, Miranda, que se afoga, mas se salva, trabalhando a dualidade entre esta e outra personagem feminina do autor, a Ophelia, que morre afogada em Hamlet. A arte da pintura sobre fotos instigou Natália a trabalhar com montagem, o que foi uma novidade em sua trajetória artística e acadêmica.

Pautados nos quatro elementos (terra, fogo, água, ar) presentes no texto do dramaturgo, os artistas apresentam as mais variadas sensações. A maioria dos artistas, pelo menos os ligados à Unicamp, aliam seu trabalho à produção individual. Por trabalhar com vidro desde a graduação em artes plásticas na Unicamp, Fernanda Lazzarini inspirou-se no momento do texto em que alguns personagens de Shakespeare perdem uma garrafa mágica. “Esse fato de imaginar o que aconteceu com essas garrafas foi como se voltasse à ilha e encontrasse as garrafas que receberam essa energia do pântano, essa magia, e brotassem no chão”, explica. A proposta lançada por Lygia foi a primeira experiência de Fernanda em manipular seus vidros inspirada em um texto. “Leituras, músicas, pensamentos fazem parte da inspiração, mas não havia trabalhado diretamente num texto. E Shakespeare tem texto muito frutífero, nutritivo”, acrescenta.

Sobre mudar e fazer diferente, ou aproveitar o processo criativo em propostas novas, é algo forte nas propostas de Lygia, como orientadora, professora, coordenadora ou parceira de trabalho, na opinião da produtora cultural da Galeria de Arte da Unicamp, Walkiria Pompermayer. Doutora em artes pela Unicamp, orientada por Lygia, ela afirma que o Projeto Mala é uma das várias iniciativas de Lygia importantes para unir artistas num só projeto capaz de transformar o trabalho e ajudar o artista a ter mais consciência do que produz. “O melhor de tudo isso é poder trabalhar em grupo. Ela junta ideias como ninguém faz. Quando junta artistas, o trabalho se transforma, ganha mais projeção. A gente consegue ser mais respeitado, se respeitar. Somos muito gratos a ela”, reforça Walkiria.