Catalogação do acervo de V-8
no CMU chega quase à metade

31/07/2013 - 15:38

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Fernando aponta pessoas conhecidas

Fernando aponta pessoas conhecidas

Trabalho durante catalogação

Trabalho durante catalogação

Cássia Denise dirige o arquivo fotográfico

Cássia Denise dirige o arquivo fotográfico

Cássia e Fernando: trabalho conjunto

Cássia e Fernando: trabalho conjunto

Catalogação está no meio do caminho

Catalogação está no meio do caminho

A coleção de imagens do fotógrafo de Campinas Aristides Pedro da Silva (1921-2012), conhecido como V-8 (apelido de Írio, seu irmão), sob a guarda do Centro de Memória Unicamp (CMU) desde dezembro de 2001, chega perto da metade da catalogação das 4.500 fotografias do acervo, registradas entre 1870 e 1995. Dividida em duas partes, a coleção separa a história de Campinas (com fotos da cidade, personagens e famílias do município) e a história do futebol profissional, uma das grandes motivações do trabalho do V-8, que faleceu em 31 de julho do ano passado. Ele foi um daqueles cidadãos que ajudaram a construir a 'cidade das andorinhas' através das suas lentes fotográficas.

Em virtude da demanda de interessados no assunto, o CMU processou primeiramente a parte da história de Campinas, que já estava praticamente identificada, faltando ajustar, em alguns trechos, a periodização das imagens. Agora estão sendo catalogadas as fotografias do material do futebol dos clubes Guarani Futebol Clube e da Associação Atlética Ponte Preta, nas quais predominam as fotos do Guarani por uma razão muito óbvia: V-8 era bugrino e foi técnico do juvenil do time na década de 1950, além de assíduo frequentador do clube a vida toda.

V-8 e Pelé, em 1965Esse trabalho deve ser concluído até o final do ano, muito pela participação de um torcedor que está doando um dia de sua semana para identificar as fotos. Ele é Fernando Pereira, bugrino e sócio do Guarani desde os cinco anos de idade. “Além de torcedor, fui amigo pessoal de V-8, com quem tive uma relação muito amistosa”, conta ele. A ideia é chegar a 90% de identificação das imagens.

Fernando Pereira desenvolve essa identificação há dois meses, que envolve acrescentar o assunto, a data e as pessoas que aparecem nas fotos. Ao contrário do conjunto de imagens da cidade, o conjunto dedicado ao futebol mal estava identificado. Por isso Marcelo Tasso, da área de Marketing do Guarani, indicou ao CMU o torcedor Fernando Pereira, um estudioso do time, para colaborar com a Unicamp nessa tarefa de formiguinha. Hoje aposentado, ele foi administrador de empresas e trabalhou 33 anos no setor ferroviário.

Mas, além do trabalho de identificação do torcedor, a catalogação também é feita por Carla Clemente Simão e Mariela Soares de Souza Dias, ambas estagiárias do CMU. “Este nosso esforço é para alçar a fotografia à fonte de pesquisa”, esclarece Cássia Denise Gonçalves, responsável pelo Arquivo Fotográfico do Centro de Memória.

Equipe do Guarani de 1964Segundo Fernando Pereira, difícil é reconhecer todas as pessoas das fotos. “Tenho outros amigos que virão à Unicamp nas próximas semanas para oferecer seus préstimos”, informa ele, que é um colecionador dos temas que envolvem seu time desde criança. "Tenho cerca de duas mil fotos, sendo mais de 500 compradas do V-8."

Também não foram poucos os recortes de jornais que ele conseguiu reunir de 1914 a 1923, quando foi inaugurado o primeiro estádio do Guarani, e as centenas de camisetas do clube. Tem, para isso, dois quartos destinados à sua coleção – um na sua casa e outro na casa de sua mãe.

Morador do Jardim Santa Cândida, o 'torcedor-pesquisador' do Guarani fez muitas pesquisas em jornais antigos de Campinas e de São Paulo, especialmente no Arquivo Público do Estado. Há coleções de jornais na Capital que não existem em Campinas, garante ele, como a Gazeta de Campinas, o Correio de Campinas, Cidade de Campinas, Comércio de Campinas, o Diário do Povo (desde o número 1, em perfeito estado).

Conforme ele, V-8 começou a fotografar por volta de 1947. Antes disso, o material que ele tinha eram reproduções, muitas com identificação questionável. Aristides montou seu estúdio Foto V-8 na Rua 13 de maio, depois nas ruas Conceição, Dr. Quirino e Júlio Frank.

Juvenis
Estádio do Guarani entre 1955 e 1960V-8 foi técnico do Juvenil do Guarani na década de 1950. Então fotografava os times que treinava, e a grande maioria dos garotos da época não eram profissionais. Deste modo, hoje fica muito difícil saber quem era quem, explica Fernando Pereira. Existem reproduções desde 1911.

O fotógrafo começou fazendo seu trabalho em campo de futebol no final de 1940, e existem muitas fotos de 1947 a 1980. “Meu amigo foi o fotógrafo que mais fez fotos de futebol. Foi imbatível, principalmente na recuperação e manutenção de fotos anteriores, para que não se perdesse esse material. Ele sempre teve um perfil de colecionador”, revela o torcedor.

Anterior a 1947, coletou muitas imagens do Guarani. Tinha a imagem da inauguração do pastinho, das primeiras partidas, dos primeiros times. Depois incluiu na coleção a sua produção. Inseriu o conjunto das demolições de Campinas (Teatro Municipal, Igreja Nossa Senhora do Rosário, Despedida dos Bondes), criou séries e colocou-as na história de Campinas. V-8 tinha um lado muito preservacionista, salienta o torcedor. "Foi um historiador das imagens. No futebol, ele fez a mesma coisa."

Fernando também está ajudando a identificar as fotos do time da Ponte Preta, que são em menor volume. Isso porque a maioria delas ocorreu durante os dérbis, o que vem a facilitar esse trabalho. Além do Guarani e da Ponte Preta, as fotos aludem-se ainda a times amadores de Campinas, como o Esporte Clube Gazeta, o Nóbrega Futebol Clube (um time de bairro), o Clube Atlético Valinhense e o Mogiana.

Time da Ponte Preta de 1976Há ainda muitas fotos do jogador Pelé e de times que vieram jogar em Campinas contra o Guarani e a Ponte Preta. Com esse trabalho, garante Cássia Denise, terá sido resgatada uma parte significativa da história do futebol na cidade. Afinal, os dois times profissionais de Campinas são um cartão de vista da cidade, sem dizer que as imagens abrangeram um período de crescimento do futebol campineiro. Em 1970, falava-se que Campinas era a capital do futebol brasileiro. Este período está muito bem coberto aqui e não deve ser perdido, pontua ela.

Como torcedor, Fernando se diz recompensado e também como amigo de V-8. Sempre ouviu dizer que muitas fotos antigas não tinham na legenda a data correta.  Isso, em geral, ocorria em relação às reproduções, diferente das imagens que o fotógrafo mesmo registrou. "Agora estamos conseguindo corrigir isso", afirma.

Em sua opinião, o Centro de Memória da Unicamp é o melhor lugar da cidade para guardar esse acervo, onde qualquer pessoa pode ter acesso. "As fotos que ficam no clube nem sempre têm a devida manutenção”, acredita o torcedor. “Por essa razão, antes de morrer, pretendo doar o meu acervo para o CMU, contribuindo para que essa história do futebol de Campinas seja mantida e ampliada num lugar bem longe do esquecimento.”