Gary Dymski vê no Brasil
sinais da crise do ‘subprime’

22/08/2013 - 13:52

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Dymski: preocupação com sinais de alerta

Dymski: preocupação com sinais de alerta

Frenkel:

Frenkel: "Risco de crises é baixo"

Público atento à palestra de Frenkel

Público atento à palestra de Frenkel

Célio Hiratuka, organizador do evento

Célio Hiratuka, organizador do evento

“O rápido crescimento dos empréstimos aos consumidores e o rápido crescimento dos preços no mercado imobiliário, que vemos no Brasil, são algumas das condições que existiam quando a crise do subprime surgiu nos Estados Unidos”, comparou o economista Gary Dymski, em palestra no Instituto de Economia (IE). A expressão subprime refere-se aos empréstimos hipotecários de alto risco que levaram à quebra de instituições de crédito americanas a partir de 2006.

“Não é a mesma situação, evidentemente, mas há sinais de alerta que passam a mensagem: quando há uma concentração de crédito, criamos a possibilidade de novos tipos de crises que infiltrarão profundamente a população e serão muito destrutivas e difíceis de controlar. E, como o Brasil enfrenta uma queda no crescimento, esta é uma preocupação que precisamos ter”, alertou o palestrante.

Gary Dymski, professor da Universidade de Leeds (Reino Unido) e docente licenciado da Universidade da Califórnia em Riverside, veio falar da crise nos EUA e suas diferenças em relação à economia brasileira, bem como de desigualdade, inclusão financeira, bolhas imobiliárias e fragilidade financeira. A outra palestra da tarde de quarta-feira (21) foi proferida por Roberto Frenkel, presidente do Centro de Estudos de Estado e Sociedade, da Argentina, e professor da Universidade de Buenos Aires. Frenkel discutiu a fragilidade externa e a desindustrialização como ameaças aos países da América Latina. O professor Célio Hiratuka, do IE, organizou o evento.

Antes, Gary Dymski concedeu entrevista lembrando que a crise do subprime nos EUA surgiu num cenário de globalização e desregulação financeira, em que o caminho tomado pelo setor financeiro foi de dar muito crédito a pessoas que ganhavam pouco, antes excluídas do sistema. “Esses empréstimos foram feitos de uma maneira predatória, com taxas altíssimas, tornando-se basicamente uma forma de extrair renda de novos clientes.”

O economista observa que o subprime, ao mesmo tempo, tornou-se um componente novo do sistema financeiro, com fundos financeiros, fundos de pensão e bancos passando a trabalhar juntos. “Surgiu muito underwriting [contratação de intermediários para facilitar transações no mercado financeiro] e estruturas institucionais novas e largamente não reguladas, que então proveram o crédito primeiro para pessoas vivendo em áreas excluídas. Mas, conforme a bolha imobiliária cresceu, o crédito se espalhou pelo mercado imobiliário americano.”

Na opinião de Gary Dymski, a crise do subprime demonstrou que a teoria de Hyman Minsky “não funciona mais” –  as análises deste economista pós-keynesiano sobre as crises financeiras e sua ligação com o ciclo econômico exercem grande influência na academia e no setor econômico. “Minsky acreditava que seria possível utilizar politicas monetárias e fiscais para acalmar e resolver a crise, mas temos bancos gigantescos funcionando em redes que estão fora de controle. Até hoje não temos uma boa solução para esta crise, não temos prosperidade na economia norte-americana e os custos sociais são ainda desconhecidos.”

Na América Latina
O professor Roberto Frenkel, por sua vez, apresentou um trabalho publicado recentemente e que trata da situação econômica na América Latina, focado na discussão de qual seria o principal problema que a região vai enfrentar nos próximos 10 anos. “A próxima década é uma forma retórica de se referir ao futuro mais previsível. As transformações nas políticas macroeconômicas ocorridas na América Latina e no resto do mundo nos favoreceram quanto aos termos de troca. Temos políticas diferentes do que nos primeiros 30 anos da nossa participação na globalização financeira (de 70 para cá). O risco de crises agora é muito baixo, é improvável que voltemos a ter crises do passado como a financeira, cambial e de dívida externa.”

Roberto Frenkel afirma que o principal problema atualmente, ao contrário, é a apreciação cambial (desvalorização do dólar em relação à moeda local), que os economistas chamam de “doença holandesa”. “Nos anos 60, quando os holandeses descobriram gás no Mar do Norte e o preço do câmbio do país caiu muito, a população continuou vivendo bem, mas a indústria ficou destruída. Quando se tem uma apreciação cambial que vem combinada com o efeito da exportação de commodities (soja, ferro), há ingresso de capital – que no caso do Brasil foi e é ainda muito importante. O grande problema é que isso gera desindustrialização e, no longo prazo, desemprego.”

De acordo com Frenkel, a América Latina enfrentou crises no passado, particularmente em alguns países como o Chile no início dos 70 (época dos militares), no final da mesma década e no início dos 80. “Eram crises que davam em apreciação cambial e desindustrialização, mas eram da dívida externa. Agora, o efeito sobre o cambio e sobre a locação de recursos, com a indústria desfavorecida, ocorre porque é muito difícil competir com as importações ou exportar bens industriais. Se isso pelo menos não gera dívida, é uma grande preocupação da região.”