'Profanation',
de Françoise
Biernaux, fica
até dia 8
na Galeria
26/09/2013 - 16:52
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O operário recebe e carrega com cuidado a telha lhe atirada para compor um teto, como se o objeto não pesasse em suas mãos. A sutileza do gesto do operário encantou a fotógrafa e artista Françoise Biernaux e é um dos registros que compõem a instalação Profanation, em cartaz na Galeria de Arte da Unicamp, até 8 de outubro. “Fiquei muito sensível à natureza dos pequenos gestos concretos desses artesãos. Gestos profanos que continham toda uma dimensão sagrada”, declara. A instalação compõe-se de cerca de 20 fotografias e quatro vídeos.
A mostra retrata a recente estada de Françoise no nordeste brasileiro, onde também os gestos captados em meio à seca lhe chamaram a atenção. Os olhos da artista não passaram despercebidos pelos rituais da festa Prado, na qual, em plena caatinga, centenas de pessoas se encontram para conversar, beber, namorar e apostar pequenos valores em dois cavalos que, no final da tarde, percorrem, em corredores paralelos, alguns 300 metros, montados por crianças de 9 a 11 anos. “Essa festa que se perpetua no tempo, em lugares diferentes, fez-me pensar em verdadeiros rituais, sacrifícios em que as crianças e os cavalos são as oferendas feitas à própria esperança dos homens.”
Ao observar imagens enquanto percorria diferentes regiões do mundo, notadamente a Bósnia e a Bélgica, sua terra natal, constatou que “qualquer que seja o lugar, existe nos gestos corriqueiros da vida profana uma dimensão sagrada. Um valor que foi, no entanto, desviado, substraído, confiscado nessa falsa oposição entre sagrado e profano. Eis o que procuro fazer redescobrir.”
O título da instalação, Profanation, é um termo que, para a maioria das pessoas, remete ao sacrilégio, à violação, ao ultraje, à derrisão do sagrado mas que, na Galeria, tomará uma direção às avessas, segundo Françoise. “Profanar significa antes de mais nada restituir ao uso comum o que foi separado na esfera do sagrado, segundo a bela definição de Giorgio Agamben.”