A interdisciplinaridade na
musicologia é bem antiga
03/10/2013 - 11:13
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Apesar da atual compreensão sobre a Musicologia, ela sempre foi interdisciplinar. Mas no século 19, quando se constituiu como disciplina, passou a ficar mais distante de outras disciplinas, salientou o professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) Luís Felipe Oliveira em uma palestra na Unicamp sobre Musicologia e Interdisciplinaridade. “A técnica faz um distanciamento do fenômeno auditivo. Então é muito comum se ouvir dizer que as pessoas não entendem de música”, relembrou durante evento pertencente à série Fóruns Permanentes Arte Cultura e Educação, realizado nesta quinta-feira (3) no auditório de Centro de Convenções. Veja a programação.
De acordo com o professor Luís Felipe, ex-aluno de doutorado da Unicamp, também é muito comum o discurso de que a música é pura e absoluta. Isso é uma pura ilusão, em sua opinião. A música absoluta foi uma criação do século 19, amparada meramente por padrões estéticos. Um desses primeiros conceitos a se destacar foi o de uma estética musical, baseada na obra O Belo Musical, de Eduard Hanslick.
O autor defendia que a peça sonora era criada em grande parte na fantasia do artista e era interpretada na imaginação do ouvinte. O núcleo da música, o belo musical, estava na contemplação da forma e não nos sentimentos do compositor ou do ouvinte. Nesse processo, diante do belo, a fantasia não era apenas um contemplar, mas um contemplar com entendimento. "O autor acreditava que a beleza da música estava na própria música. Mas música não é uma partitura e não é um fenômeno musical. É a sua relação com o ouvinte”, sustenta Luís Felipe.
Essas ideias foram fundamentais para a constituição da Musicologia. Entretanto, recentemente há um esforço por consolidar uma Musicologia interdisciplinar que, segundo o palestrante, já existia. O filósofo Agostinho (354-430 d.C.), por exemplo, ressaltou que a música era a ciência do bem medir, no livro De Música. Outra relação antiga era a ética musical. Ela já estava presente no discurso de Platão, ao salientar que a música de uma sociedade mostrava como ela se constituía.
O conhecido Efeito Mozart, que se refere a um aumento do rendimento ou alteração da atividade neurofisiológica associada a ouvir sua música, demonstra que existe um efeito benéfico da música inclusive nos animais e que ela também pode afetar o caráter e a conduta do ser humano. Já Roger Scruton argumentava que, a partir da Idade Moderna, a música tinha perdido sua conexão e tinha ficado descolada de um mundo mais abrangente. Pairava a ideia de que a música era para prazer e diversão. Não envolvia cognição. Scruton fazia apologia da beleza e esperava a volta do belo.
Também a Teoria dos Afetos tentava descobrir a música através da retórica. Ela era entendida como música eloquente e que, portanto, os escritores escreveriam seus discursos musicais. Essa era uma forma de explicar o que era a música. “Ela era interdisciplinar”, reforça o palestrante. Ainda conforme ele, em 2007 tentou-se sistematizar a música em períodos históricos. Atualmente, tenta-se sistematizar um panorama da interação com a musicologia, expõe.
A musicologia interdisciplinar, define ele, é a reunião dos estudos sobre a musicologia. Eles estão na filosofia, na estética musical, na teoria musical, na psicologia da música, entre outros estudos. “Como a música é um objeto muito fugaz, é muito difícil explicar o que ela é e onde ela está”, realça. Na Psicologia da Música, por exemplo, os seus pesquisadores falam sobre a percepção como um fenômeno sonoro. Então a disciplina também integra a computação musical.
Na área de Neurociência da Música, a música está presente na cognição. Então a Computação Musical vem forte. Um exemplo disso é representando pelo trabalho do Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (Nics) da Unicamp. Implementa-se o elemento cognitivo para testar a sua validade. Fazem-se aplicações estéticas e artísticas em modelos musicais, pontuou Luís Felipe durante o evento, que foi promovido pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) e organizado pelo Nics.