Fragilidades, dificuldades e a percepção
de escola dos jovens de ensino médio
18/10/2013 - 15:10
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A desigualdade no acesso e na permanência do jovem no ensino médio, assim como a pouca identificação que ele tem com a escola, foram alguns dos aspectos discutidos em mais uma edição do Fórum Permanente de Arte, Cultura e Educação, sob o tema “Educação e juventude: novas possibilidades para o Ensino Médio”, que aconteceu nesta sexta-feira no Centro de Convenções. Os Fóruns Permanentes são uma realização da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) e a organização desta edição esteve a cargo da professora Stella Maria Silva Telles, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP) da Unicamp.
Segundo a organizadora do fórum, o ensino médio é um elemento fundamental para a formação de capital humano e se encontra sobrecarregado com as funções de assegurar uma formação geral e preparar os jovens para a universidade e o mercado de trabalho. “O ensino médio talvez seja a etapa da educação básica que está em situação mais crítica. Pesquisas recentes revelam que a escola tem se tornado desinteressante para o aluno, não havendo sintonia entre o que ela oferece e o que o jovem quer. A proposta do fórum é trazer um panorama da situação desses adolescentes, apontando suas fragilidades e dificuldades para completar essa etapa.”
Na mesa da manhã, a discussão foi sobre “Os jovens e o ensino médio no Brasil”. A professora Maria Helena Guimarães Castro, diretora-executiva da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), tratou das inúmeras reformas ocorridas no ensino médio do Brasil a partir de 1995: como por exemplo, a nova orientação preconizada pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996, a série de mudanças curriculares e a implantação do Enem. “Na verdade, é um debate infindável que ocorre nos últimos vinte anos e ainda não chegamos a uma proposta mais compatível com as aspirações dos jovens e com a educação que precisamos para o país.”
Em termos de qualidade de ensino, Maria Helena Castro afirma que mesmo em São Paulo, que aparece juntamente com Santa Catarina e Rio Grande do Sul como os estados com melhor desempenho, o nível ainda é muito insuficiente. “Todos os indicadores mostram elevadas taxas de abandono e de reprovação, sobretudo no primeiro ano. De acordo com o MEC, ao final do ensino médio, temos apenas 35% de alunos que atingem as competências esperadas em língua portuguesa, e apenas 12% em matemática, o que é bastante preocupante. Outro problema a ser resolvido é a baixa oferta de vagas no período diurno: 35% dos alunos estão no noturno, sendo que muitos deles não trabalham”.
“O que pensam os jovens de baixa renda sobre a escola de ensino médio?”, foi a questão abordada na mesma mesa pelo professor Haroldo da Gama Torres, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e diretor de Análise e Disseminação da Fundação Seade. “Antes, é preciso saber quem é esse jovem, pois aquele extremamente pobre dificilmente chega ao ensino médio. Os alunos são de origem social diferenciada e capital cultural mais elevado, passaram pelo ensino infantil e possuem equipamentos em casa, como computador. De modo geral, a percepção que têm da escola é de deficiência na infraestrutura e de professores relativamente ausentes. Ainda assim, valorizam a escola como local de encontro e sociabilidade e como necessária para acesso ao mercado de trabalho. A escola é um lugar chato, mas que tem algum sentido.”
Marcos Magalhães, presidente do Instituto de Corresponsabilidade Educacional (ICE), entidade privada sem fins lucrativos que trabalha pela melhoria da qualidade da educação pública, falou sobre “A experiência de Pernambuco e a implantação do projeto de ensino médio integral na rede estadual paulista”. “Desenhamos em Pernambuco um modelo de escola em tempo integral com um novo conceito de gestão e pedagogia. Após alguns anos de experimento e correção de rumos, resolvemos expandir o modelo para Ceará, Piauí, Sergipe, Rio de Janeiro e São Paulo. Ele significa uma quebra grande de paradigma, primeiro por considerar que a razão de existência da escola é o aluno e que os outros elementos à sua volta (professores, inclusive) são meio. Segundo, que o jovem deve de se conscientizar de que os três anos de ensino médio vão ajudá-lo a caminhar na direção do seu projeto de vida.”