Colóquio e oficina trazem arte e filosofia para discutir formas contemporâneas de habitar
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Prof. Eduardo Marandola, do CHS / FCA e Professora Ana Patrícia, da Universidade Nacional da Colômbia
Texto e imagem | Cristiane Kämpf
A água é um recurso natural, assim como o petróleo, o solo, as árvores, os minérios, a energia do sol e do vento. Poucos discordariam ou questionariam essa afirmação. Afinal, a escola ensina assim e, ao longo da vida, é o que normalmente constatamos: os elementos da natureza são tratados como bens úteis ao homem no processo de desenvolvimento da civilização e, portanto, denominados 'recursos' naturais. Ou seja, a terra é compreendida como uma propriedade, sendo mensurada, quantificada, mercantilizada e explorada como um meio para o alcance de um fim maior: o suposto desenvolvimento social e econômico.
O Colóquio 'Sobre espaço e habitar em Heidegger' e a Oficina 'Poéticas del Habitar Contemporâneo' que ocorrem sexta (01 nov) e sábado (02 nov) na biblioteca da FCA, têm como objetivo promover, através da filosofia e da arte, um questionamento e uma discussão sobre a forma como habitualmente são pensadas as relações ambientais entre o homem e seu território nos dias atuais. Ana Patrícia Noguera Echeverri, filósofa da Universidade Nacional da Colômbia e pesquisadora expoente do pensamento ambiental na América Latina é convidada do Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da FCA para os dois dias de conversa ao estilo 'café filosófico' (traga um prato de doce ou salgado!).
Durante a oficina será apresentado o conceito de 'geopoética', desenvolvido com base na filosofia fenomenológica e que se refere às formas como diferentes culturas compreendem a terra. "Para muitas culturas, a terra não é uma propriedade, como é para a gente. A terra é, antes de tudo, um ser vivo, uma mãe: é generosa, é quem dá a vida, está em florescimento e não em desenvolvimento. É uma outra maneira de pensar a relação entre as pessoas e a terra. São essas diferentes formas de compreensão que nós chamamos de geopoéticas da terra", explica Patrícia. A pesquisadora afirma ser urgente a construção de novas "poéticas do pensamento", ou seja, novos modos de pensar e ouvir a terra e compreender a relação do homem com a natureza pois, somente a partir do momento em que se compreende algo de uma nova forma, é possível gerar mudanças políticas.
Por essa razão, a proposta da oficina é também trabalhar a partir de fotografias, pinturas, obras de arte, literatura, música e vídeos. "As obras de arte permitem uma compreensão diferente daquela que temos quando olhamos um gráfico ou uma tabela. Elas nos fazem 'sentir na pele' o problema e aguçam a compreensão emocional e não racional, técnica, fria. A arte não é uma ferramenta para compreender o mundo, não gosto dessa palavra. Nós trabalhamos com arte porque nossa proposta é habitar poeticamente a terra. "Poéticas geram políticas", acredita.
O colóquio, que também conta com a participação de Renato Kirchner, professor de filosofia da PUC Campinas e tradutor de Heidegger, acontece das 10:00 às 13hs e a oficina segue das 15:00 às 18:00hs do dia 01/11 e das 9:00 às 17:00hs do dia 02/11. Os eventos são abertos às comunidades interna e externa e, após realizar a inscrição neste link (somente necessária para a oficina, pois será disponibilizado certificado), o participante recebe a bibliografia indicada para leitura.