Evento dá relevo a políticas de
formação docente em Pedagogia

28/11/2013 - 17:07

Promover reflexão e debate sobre as políticas de formação de docentes da educação infantil e dos primeiros anos do ensino fundamental nos cursos de Pedagogia, além de discutir as especificidades da educação das crianças pequenas que garantam o direito à educação pública, laica e de qualidade, em busca de uma pedagogia descolonizadora e de uma educação emancipatória. Esses são os principais objetivos do II Colóquio “Culturas Infantis e políticas de formação docente: quem é o (a) professor(a) de educação infantil?”, evento que terá sua abertura nesta sexta-feira (29), às 18 horas, no salão nobre da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. Foi organizado pelo Grupo de Pesquisas e Estudos em Diferenciação Sóciocultural (Gepedisc)-Culturas Infantis da FE e teve  o apoio da coordenação do Programa de Pós-Graduação em Educação. A coordenadora do Gepedisc-culturas infantis é a professora Ana Lúcia Goulart de Faria.

Um dos pontos altos do colóquio será um debate com as participações da diretora da Faculdade de Educação da USP, Lisete Arelaro; da diretora do Instituto de Ciências da Educação da UFPA, Ana Maria Orlandina Tancredi Carvalho e do diretor da FE, Luiz Carlos de Freitas. O Gepedisc-Culturas Infantis, há mais de 20 anos, questiona em suas pesquisas os valores eurocêntricos, etnocênticos,androcêntricos, adultocêntricos, heteronormativos e homofóbicos presentes na sociedade. Seus pesquisadores têm como arcabouço teórico a Sociologia da Infância. Constituem público-alvo do colóquio discentes de graduação e pós-graduação, docentes de educação básica que atuam na rede pública e interessados na Pedagogia da Infância e Formação de Professores. Veja mais sobre as investigações do Gepedisc.

Segue entrevista concedida ao Portal Unicamp por Elina Elias Macedo, Solange Estanislau dos Santos, Flávio Santiago e Ana Lúcia Goulart de Faria, membros do  Gepedisc.

Portal UnicampQual a importância do debate sobre políticas de formação para a educação infantil?
Gepedisc – O nosso grupo participa não apenas de congressos e encontros de pesquisa, mas atua também em formações continuadas e movimentos sociais como os Fóruns de Educação Infantil e o Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil. Organizou recentemente na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp o I Colóquio Culturas Infantis: relações étnico-raciais e infância e, no ano passado, o I Seminário Internacional Infância e Pós-Colonialismo: pesquisas em busca de Pedagogias Descolonizadoras.

Portal – Como o grupo trabalha?
Gepedisc – Não empregamos uma única metodologia, mas damos destaque à etnografia como uma das que privilegia a participação das crianças. Nossas pesquisas têm inspiração etnográfica e antropofágica em um diálogo constante entre a arte, a política e a pedagogia. Vivemos a tensão entre o marxismo e o pensamento pós-colonialista. Fazemos análises na perspectiva da sociologia da infância, das relações de gênero e etnorraciais.

Portal – Como atua o Gepedisc?
Gepedisc – A coordenadora é a professora Ana Lúcia Goulart de Faria, que também coordena o projeto “Interlocução entre arte e ciências da educação na formação de docente das crianças de zero a dez anos de idade: contribuições da educação infantil para a escola e vice-versa, da escola para a educação infantil”, realizado no Brasil e na Itália, no âmbito do doutorado internacional Unicamp/Unimib (Universidade de Milão Bicocca). Participam dele os docentes e pesquisadores Antonio Miguel, Guilherme Toledo e Dario Fiorentino (FE-Unicamp),Anete Abramowicz, Cármen Lúcia Brancaglion Passos e Maria Walburga dos Santos (UFSCar), Agnese Infantino, Elisabetta Nigris, Franca Zuccoli e Luiza Zecca(Universitá degli Studi di Milano-Bicocca).
Tal debate se faz extremamente urgente, já que a educação infantil tem sofrido inúmeras tentativas políticas de retrocesso das conquistas já alcançadas, inclusive no que tange a formação d@s profissionais. É necessário discutir os desafios de uma formação docente que reconheça as especificidades e a diversidade das crianças pequenas/pequenininhas em busca de pedagogias descolonizadoras e de uma educação emancipatória.

Portal – Quais têm sido os resultados alcançados?
Gepedisc – O grupo caminha na contramão do pensamento único, que pretende colocar as crianças e suas infâncias em formas prontas. Assim reafirma, a cada pesquisa, sua crítica às perspectivas biologistas e psicologizantes que apresentam as crianças como seres da falta e suas infâncias como etapas passageiras do desenvolvimento humano. Caminha, portanto, na contracorrente, ao lado daqueles e daquelas que também se posicionam contra a colonização do pensamento que formula políticas educacionais, em especial para a primeira infância, com base em interesses neoliberais. O conjunto de pesquisas do grupo reafirma nosso compromisso com as crianças pequenas e sua educação, sobretudo no momento atual, em que presenciamos novos descasos com elas, seja através do estabelecimento de expectativas de aprendizagem para as crianças pequenas, seja a retirada da educação das crianças de zero a três anos da formação de pedagogos e pedagogas, ou seja ainda a obrigatoriedade de quatro e cinco anos na pré-escola, que se constitui em uma forma camuflada da entrada precoce das crianças no ensino fundamental.

Portal – Como isso está sendo visto?
Gepedisc  – As pesquisas trazem novos olhares que atravessaram o Atlântico para maravilhar-se com crianças estrangeiras. Sempre a criança estrangeira a nos convidar a se maravilhar com elas, suas produções, suas transgressões e também a nos inspirar para estrangeirarmos e recriarmos nossas percepções e possibilidades de transformação desta realidade social determinada e perversa, onde a criança e suas infâncias estão sempre ameaçadas a perderem-se na lógica do formal, do vir a ser, assim como nós, os adultos formados e formatados, sem mais magia e o mistério da vida.

Portal – Quais as implicações das pesquisas para a área da educação infantil?
Gepedisc – O grupo preocupa-se em dar visibilidade a pedagogias inovadoras, pautadas em uma pedagogia das diferenças, da escuta e das relações, atentas às especificidades do docente que não dá aulas, mas que, a partir de intencionalidade educativa, planeja a organização do tempo e do espaço que favoreça a produção das culturas infantis. Ao lançar seu olhar investigativo para a produção das culturas infantis, as relações de poder e a hierarquia entre os adultos nos espaços educativos da pequena infância, entre os profissionais da educação e as famílias, e como as crianças são afetadas pelas políticas públicas, pretende-se também formular subsídios à elaboração de outras políticas públicas que promovam uma educação emancipatória.

Portal – Uma publicação recente
Gepedisc – A obra Culturas Infantis em Creches e Pré-Escolas: Estágio e Pesquisa, publicada pela Editora Autores Associados em 2011, de autoria coletiva, teve como fonte primária da pesquisa os cadernos de estágio doados pelos estudantes do curso de Pedagogia da Unicamp. Discute temas de extrema relevância para a formação de docentes da pequena infância, como o direito à educação infantil na esfera pública e a pedagogia da infância com a valorização das culturas infantis, da arte e da brincadeira.

Mais lançamento
No
mês de dezembro será lançado o dossiê “Por uma infância descolonizada” na revista Leitura: teoria e Prática da ALB, fruto do I Seminário Internacional Infâncias e pós-colonialismo: pesquisas em busca de pedagogias descolonizadoras, que foi organizado em em 2012.