João Carlos
Rocha vence
concurso
Eleazar de
Carvalho
04/12/2013 - 12:31
- Text:
- Images:Simone Silva/Divulgação
João Carlos Rocha rege Tchaikovsky, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo
João Carlos Rocha ingressou em 2008 no curso de regência do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. Atualmente cursa o último semestre de sua graduação (6º ano). Ele foi um dos vencedores do concurso Eleazar de Carvalho para jovens Solistas e Regentes – edição 2012. Sua premiação foi reger, no último dia 27 de novembro, no Auditório Ulisses Guimarães do Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, o primeiro movimento da 4ª Sinfonia de Tchaikovsky. Natural de Santos, desde a infância conviveu, em seu ambiente familiar, com música e literatura. Por influência da mãe aprendeu a gostar de música clássica. Através do pai, conheceu diversas manifestações populares, com maior ênfase ao samba e ao choro. Seu primeiro instrumento musical, um cavaquinho, foi ganho quando tinha oito anos de idade. Foi com ele que, curiosamente, começou a estudar repertórios clássicos. Rocha, hoje com 30 anos, autodefine a sua formação como “mestiça”. Em entrevista ao Portal da Unicamp, ele conta um pouco sobre a sua trajetória.
Portal Unicamp - Como foi sua infância?
João Carlos Rocha – Tive muito contato com música desde cedo. Minha mãe tinha diversos LPs de "clássicos" da música sinfônica e era, ao mesmo tempo, fã incorruptível de grandes nomes da Tropicália. Por conta disso, minha irmã chama-se Camila Betânia, enquanto, reza a lenda, o meu nome seria João Caetano. Meu pai sempre foi muito ligado ao samba e ao choro. Nesse "mesticismo" musical e cultural, nasceu minha curiosidade pela música. Aos 8 anos, com meu cavaquinho, estudei repertórios "clássicos" no antigo Conservatório Villa Lobos, na avenida Pedro Lessa, em minha cidade natal. Meu professor foi o português José Teixeira, dono do conservatório. Passados alguns anos, me desinteressei pelo ensino "tradicional" da escola e passei a frequentar – escondido de minha mãe - rodas de samba e choro com meu tio Marcos, que também tocava cavaquinho. No início, tudo não passava de uma "traquinagem infantil" na qual eu, mesmo que inconsciente (e inconsistentemente), ia me aperfeiçoando em aspectos como harmonia e rítmica.
PU – E a sua fase já na adolescência, como foi?
Rocha - Ao chegar na minha adolescência, o meu desejo por entender os mecanismos que envolviam a composição e execução das diversas músicas com as quais eu convivia me fez tender pelo vestibular para o curso de música. No entanto, assim como grande parte das mães e pais de músicos, fui orientado a procurar por algo que me oferecesse "meios de sobreviver". Tendo isso como base, cursei dois anos de administração de empresas e, aos 20 anos, trabalhei como gerente de uma grande rede de bancos. Ainda assim, me mantive paralelamente envolvido com a música através do canto coral onde pude, num primeiro momento, satisfazer minha vontade de aprender. Cantei por mais de dez anos em diversos corais, assim como me dediquei à escrita de arranjos e composições para esta formação. Nessa época tive aulas de piano com alguns professores de minha cidade. Após dois anos de envolvimento com a faculdade de administração e com as atividades como bancário, tomei uma das mais sérias decisões de minha vida. Contra tudo e contra todos fiz questão de encerrar a minha matrícula na faculdade e me demiti do banco.
Portal - Foi nesse momento em que você resolveu que seria um músico e prestar o vestibular na Unicamp?
Rocha - Sim. A partir desse momento notei que, ainda que a carreira de músico exigisse muita dedicação, comprometimento e seriedade, tal esforço não seria tão fatigante quanto os que as atividades de outras áreas me causavam. Após um tempo me dedicando ao autodidatismo e às atividades profissionais como coralista e arranjador/compositor, optei por prestar o vestibular da Unicamp. Antes disso, em 2006, numa noite de domingo, após ter estudado harmonia e contraponto por algumas horas, comecei a refletir e concluí que precisava entender melhor onde a minha decisão poderia me levar. E, após ouvir um CD comemorativo dos 450 anos da cidade de Santos com obras de Gilberto Mendes, tive a sensação de não ter entendido o que havia nele. Contudo, ao mesmo tempo, uma certa curiosidade, um prazer estético se mostrou presente. Após ouvir o CD acessei a Internet e consegui o telefone do Gilberto Mendes. Liguei e tivemos uma conversa muito gostosa. Ele me contou que também havia trabalhado como bancário, dentre outras coisas. Após essa conversa, marcamos um encontro, dias depois. Até hoje eu tenho o Gilberto Mendes como um dos meus "mentores intelectuais". Tal encontro possibilitou, dentre outras coisas, a estreia de algumas peças minhas no Festival Música Nova. Em 2012, o pianista Antonio Eduardo, especialista na obra de Gilberto, gravou minha "Nagare" para piano em seu CD "Porto: a música que saiu de Santos", composto por músicas apenas de compositores da cidade de Santos.

O encontro com Gilberto Mendes
Portal - E na Unicamp? Como foram as suas relações e conquistas?
Rocha - Na Unicamp, dentre diversos professores e colegas de talento, pude estabelecer uma ótima relação com o maestro Eduardo Ostergren que, assim como o Gilberto, me proporcionou diversas experiências profissionais em meu início de carreira. Dentre as minhas conquistas em seis anos de curso, penso que uma das mais significativas, foi a de ter regido diversas vezes a orquestra da disciplina Prática Orquestral e ter sido um dos vencedores do concurso Eleazar de Carvalho para jovens Solistas e Regentes. Ele me possibilitou o privilégio de reger uma obra de grande envergadura, a 4ª Sinfonia de Tchaikovsky, assim como de ter contato com diversos colegas de talento para a realização de um belíssimo concerto. Para mim, sinceramente, foi uma grande oportunidade fazer parte de um evento que leva o nome de um dos nossos maiores nomes da regência, o maestro Eleazar de Carvalho.
Portal - Já atuou como regente de alguns músicos conhecidos?
Rocha - Tive experiências muito interessantes quando, em master classes muito concorridos, pude atuar à frente de orquestras como a Filarmônica de Minas Gerais, a Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (USP), a Filarmônica de Goiás, dentre outras. Da mesma forma, tive a chance de reger a Orquestra Sinfônica da Unicamp, tanto na abertura de um show com a banda RPM, em Jaguariúna, em 2012, quanto na série "Prata da Casa" na qual alunos com algum destaque em seus respectivos cursos tinha a chance de atuar junto à orquestra. Foi uma experiência diferente e muito interessante. É interessante saber que o público da atualidade passou a consumir e apreciar obras de compositores como Villa Lobos, Mozart, Haydn e Beethoven, para falarmos de alguns dos mais conhecidos. Eu percebo que há uma exigência grande por parte desse novo público, que faz com que algumas alternativas sejam experimentadas: os concertos nos quais pude atuar à frente da OSU são exemplos disso.
Portal - Já regeu obras de outros compositores consagrados? Quais?
Rocha - Eu me sinto muito privilegiado de ter tido a oportunidade de reger um repertório relativamente extenso em se tratando de um aluno de graduação. Talvez a experiência mais marcante foi a de reger a suíte do "Pássaro de Fogo", de Igor Stravinsky em Recife, em 2012, e este movimento da 4ª Sinfonia de Tchaikovsky, neste último 27 de novembro, em São Paulo.
Portal - Quais são as maiores dificuldades enfrentadas por um regente?
Rocha - O regente é uma figura que, para além das questões musicais, deve estar atento a aspectos altamente subjetivos relacionados, por exemplo, às emoções que a música provoca (pathos). Por conta disso, creio que a parte mais difícil da regência seja criar essa comunhão entre os diferentes aspectos das emoções humanas - nossas próprias, dos colegas com os quais fazemos música e do público.
Portal – Quem você destacaria como professor no curso de regência que frequenta na Unicamp?
Rocha - Sou muito contente em fazer parte de um grupo de estudantes que pôde ter aulas com diversos professores de renome nacional e internacional. Dentre eles, meu destaque vai para o professor e maestro Eduardo Ostergren. Foi ele que me deu apoio irrestrito ao longo desses anos de graduação me oferecendo oportunidades. Inclusive, a de atuar à frente da Orquestra Sinfônicas de Sorocaba e a de Bragança Paulista, nas quais ele ocupa o cargo de regente titular.
Portal – Pode deixar um recado aos universitários que vão ingressar em 2014 no curso?
Rocha – Sim. Estudem muito! Estejam sempre preparados. As oportunidades só surgem como tal aos que estão prontos. Frequentei os ensaios da Orquestra da Disciplina Prática Orquestral bem antes do período recomendado pelo catálogo do curso. Quando, por conta da ausência de um colega, pude, pela primeira vez, atuar à frente dessa orquestra. Portanto, estudem e o façam para si mesmos. Não esperem que a estrutura da academia dê conta de realizar "milagres" por nós. As dificuldades existem em todas as áreas, porém, cabe a nós enfrentá-las e tirar o melhor proveito delas.
Vencedores da edição de 2012 com a pianista Sonia Muniz, viúva do maestro Eleazar