Começa construção coletiva
do 'Campus Tranquilo'
05/12/2013 - 15:25
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Os passos iniciais para a elaboração coletiva do programa de segurança Campus Tranquilo na Unicamp foram dados nesta quinta-feira (5) com a realização do primeiro seminário para discutir o tema. O evento, organizado pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU), reuniu a comunidade universitária, especialistas do setor, acadêmicos e entidades da Unicamp, como a Associação dos Docentes, Diretório dos Estudantes e Sindicato dos Trabalhadores.
“Com este evento queremos dar os primeiros passos na construção coletiva do programa de segurança Campus Tranquilo. Este nome é emblemático, pois traduz o que pretendemos atingir com este plano. Temos a certeza de que a construção de algo deste porte requer uma ampla discussão na Universidade. E é isso que vai acontecer. Nós vamos começar hoje com este seminário, cujas discussões irão se estender pelos próximos meses”, antecipou o coordenador-geral da Unicamp Alvaro Penteado Crósta.
Durante a abertura do seminário ele apresentou as diretrizes gerais e a metodologia para a elaboração do Programa Campus Tranquilo. Alvaro Crósta ressaltou, porém, que algumas medidas para melhorar a segurança já vêm sendo tomadas pela Universidade, como o aumento da iluminação no campus e a poda de árvores. “Essas ações são consenso e independem do que nós estamos discutindo aqui. Elas já estão sendo feitas. Há uma licitação em andamento para comprar o material necessário a fim de efetuarmos a iluminação complementar. Nós identificamos isso através de um estudo elaborado para este fim”, revelou.
O coordenador-geral explicou que a metodologia para a construção do programa será baseada na análise das experiências de outros campi universitários no Brasil e no exterior; na consulta a especialistas no tema no sentido de colher subsídios técnicos; na elaboração de uma proposta inicial prevista para março de 2014; na promoção de uma ampla discussão desta proposta com a comunidade por meio reuniões abertas nas unidades e órgãos; na elaboração da proposta final, incorporando as sugestões colhidas no ciclo de debates; e, por fim, no encaminhamento da proposta final ao Conselho Universitário, órgão de deliberação máxima da Universidade.
“Entendemos que o foco principal de um plano de segurança deve contemplar a prevenção de crimes, a garantia de liberdades civis e a preservação do patrimônio público. Experiências em diferentes campi universitários têm mostrado que o sucesso de planos de segurança dependem fundamentalmente da participação da comunidade na elaboração e execução do plano. Não adianta termos resistências internas a implantação de um plano, pois certamente ele não vai funcionar conforme foi concebido”, ressaltou.
Ainda conforme Alvaro Crósta, a abordagem comunitária tem sido apontada por especialistas como a mais indicada nos campi universitários. “Este comunitário define uma estratégia que se baseia na parceria entre a comunidade e o corpo de profissionais que cuida da segurança. A abordagem, portanto, é baseada em ações proativas, preventivas, na transparência e na cidadania”, apontou.
Desafios
O superintendente de prevenção e proteção da Universidade de São Paulo (USP), Luiz de Castro Júnior, afirmou que o grande desafio dos vigilantes das universidades da América Latina é prover segurança a sua comunidade sem o poder de polícia. Castro Júnior, doutor em Ciências Policiais de Segurança e especializado em direitos humanos, participou de uma das mesas de discussões do evento.
“Os agentes que atuam nas universidades brasileiras não têm poder de polícia. Muitas pessoas imaginam o porquê de nós, aqui no Brasil, não termos a mesma segurança das universidades dos Estados Unidos e da Europa. É porque lá o corpo de agentes que atua nas instituições possui o poder de polícia. No MIT [Massachusetts Institute of Technology], por exemplo, um dos requisitos para fazer parte do corpo de segurança da instituição é ter atuado, no mínimo, três anos no corpo de segurança municipal, estadual e federal. E aqui no Brasil isso é totalmente diferente”, sustenta.
“Para tentar fazer frente a este desafio, nós trabalhamos sobretudo com a prevenção primária. São orientações para que cada um dos uspianos adotem medidas necessárias para minimizar as possibilidades de se tornarem vítimas. Estamos desenvolvendo treinamentos para nossos vigilantes, além de campanhas educativas com foco na prevenção primária”, completou.
Situação no país
A coordenadora institucional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Patrícia Nogueira Pröglhöf, apresentou, em sua fala, um panorama sobre a situação da área no país, muito preocupante, de acordo com ela. “Entre 2011 e 2012, houve um aumento de 7,8% no número de homicídios. A taxa de homicídios brasileira hoje se encontra em torno de 24,3 mortes a cada 100 mil habitantes, um número muito alto para os padrões internacionais. Alguns estudos apontam que o padrão aceitável é uma taxa de 10 mortes para cada 100 mil habitantes”, expôs.
As informações, conforme Patrícia Nogueira, integram a sétima edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que utiliza dados do Sistema Nacional de Estatísticas em Segurança Pública e Justiça Criminal, da Secretaria Nacional de Segurança Pública, vinculada ao Ministério da Justiça. “Também tivemos entre 2011 e 2012 um número muito alto de estupros. Nesta comparação, pela primeira vez o número de estupros superou o de homicídios. Houve cerca de 50 mil casos no país em 2012”, revelou.