Muito jazz rolou solto, literalmente, por entre as árvores e prédios da Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp, em Limeira, no último sábado. Em edição do programa Música no Campus, duas bandas proporcionaram uma recepção musical, dançante e calorosa aos alunos ingressantes e suas famílias, com um repertório que normalmente (e infelizmente) não se encontra na maioria das rádios do país.

O Assaí Jazz Trio percorreu os prédios da faculdade tocando e interagindo com o público, levando pais e alunos a seguirem a banda até o palco instalado no gramado, onde o segundo grupo, Maria Sole & Hot Jazz Club, se apresentou. Por iniciativa da direção da FT, o encontro com pais foi programado para a mesma data das apresentações musicais, que também irão ocorrer no campus da Faculdade de Ciências Aplicadas e na Faculdade de Odontologia de Piracicaba no primeiro e segundo semestres deste ano.

O Música no Campus é gratuito e aberto à população em geral, sendo já bastante conhecido e frequentado em Campinas, onde ocorre no último sábado de cada mês. Em Limeira a participação do público foi relativamente tímida, mas já bem maior que em 2013, quando ocorreu pela primeira vez na comemoração dos 25 anos da FT. “Sabemos que o desafio que vamos enfrentar em Limeira e Piracicaba é o mesmo que enfrentamos no início em Campinas – temos que dar a oportunidade para que as pessoas criem o hábito de vir para o campus ver apresentações musicais, que entendam a universidade não somente como espaço de estudo, mas de convivência e difusão de artes e cultura”, concordam Maria Luiza Custódio e Denise Tukaça, organizadoras do evento.

Acolhida musical da família
Mateus de Lima Cerqueira, calouro de Engenharia de Telecomunicações, e sua mãe, Telma Maria Silva de Lima Cerqueira, se surpreenderam com as apresentações e não tiveram dúvidas em seguir os músicos do Assaí Jazz Trio pelos corredores até o palco, quando sentaram na grama para assistir a apresentação da parceria entre a cantora italiana Maria Sole e a banda Hot Jazz Club.

“Adorei a interatividade da banda com a gente. Estou muito emocionada, não esperava esta receptividade da faculdade e acho muito boa a ideia de trazer música de qualidade para dentro do campus e mostrar para as pessoas, jovens ou não, que há músicas boas que eles não conhecem”, disse Telma, ao lado de Mateus, que concordava com um sorriso e parecia contente com a oportunidade de apresentar sua 'segunda casa' para a mãe.







As famílias dos ingressantes foram convidadas, pela primeira vez, a conhecer e se aproximar da Faculdade, sendo recebidas pelo professor José Geraldo Pena de Andrade, diretor da unidade, que fez com que a data do encontro coincidisse com as apresentações do Música no Campus para acolhê-las de forma ainda mais alegre. Ele conta que a instituição percebeu a necessidade de trazer a família para acompanhar um pouco mais o processo de formação dos alunos, pois muitas vezes, segundo ele, os pais descobrem situações complicadas somente no período de formatura dos filhos.

“É uma situação triste. Às vezes o aluno está quase jubilando e os pais não sabem, já que nós, como universidade, não podemos voluntariamente dar nenhum tipo de informação acadêmica para a família. Então é a família que precisa criar formas e procedimentos para saber o que está acontecendo com seus filhos na universidade e nós queremos ajudar. Estamos fazendo este primeiro encontro com os ingressantes pois são meninos e meninas que, há três meses, estavam no colegial. É uma mudança muito repentina – uma responsabilidade e ao mesmo tempo uma liberdade muito grande e nós achamos que quem pode nos ajudar neste período de transição é a família. Nós acreditamos que esta abertura e parceria da Universidade com a família é importante, no sentido de formar e orientar os alunos. Claro que estamos muito focados na formação profissional, mas não é somente ela que importa – há questões humanas vitais que precisam ser abordadas e não vejo como fazer isso sem esta parceria”, afirma o diretor.







Vários pais saíram de outras cidades e vieram participar dos eventos, avaliando positivamente a iniciativa da FT e vibrando com os conjuntos musicais e a acolhida da instituição. Regina Teixeira e Edmundo Andrade Barbosa, pais da ingressante Isabela, viajaram de Ubatuba para Limeira para conhecer a nova cidade e a faculdade da futura Engenheira Ambiental. “Achamos muito importante este contato que foi estabelecido, muito bacana esta preocupação da universidade em conversar com os pais. É um momento difícil pra nós também: deixar um filho numa cidade em que você inclusive nunca esteve”, avaliou Regina. “Adoramos o convite e esta recepção calorosa, muito gostoso. É maravilhoso poder aproveitar assim o espaço da Universidade e super importante ter este momento de integração com a comunidade. Música e educação tem tudo a ver”, completou o pai.

Mais sobre as bandas
O Assaí Jazz Trio é formado por Felipe Martim Coelho (trombone), Renato Leme de Souza (percuteria) e Jeremias Tiófio Pereira Junior (sax), que completou bacharelado e mestrado no departamento de música do Instituto de Artes da Unicamp. Os três músicos já se conhecem há tempos, mas formaram a banda no final de 2013. O nome faz trocadilho com o som da palavra 'assaí', que denomina um andamento musical muito rápido e se confunde com 'açaí', fruta exótica brasileira. “Investimos muito na interação com o público e nosso repertório é bastante variado, apesar de termos nossas raízes no estilo tradicional do street jazz, criado em New Orleans, quando vários músicos saíam tocando e improvisando juntos pelas ruas”, explica Jeremias.

A ideia do trabalho é não precisar de nenhuma estrutura para poder tocar, diminuindo os custos e aumentando a flexibilidade do grupo, que se apresenta nos lugares mais variados. Renato afirma que eles precisam somente dos instrumentos para fazer o show acontecer. “Não precisamos de palco, nem caixas de som, nem microfones. Nós chegamos e vamos tocando no meio do povo, nos adaptamos a qualquer ambiente. Conseguimos nos movimentar e interagir melhor com o público. É uma economia e, ao mesmo tempo, uma facilidade, inclusive para quem contrata nosso trabalho”. Felipe lembra que os músicos também têm a função de formar ouvintes, colaborando com a educação musical do público, apresentando algo novo e conversando com a plateia sobre instrumentos e estilos musicais.

Maria Sole & Hot Jazz Club é formado por Ernani Teixeira (violino e direção musical), Marcelo Modesto (violão cigano), Fernando Seifarth (violão cigano), Gilberto de Syllos - (contrabaixo acústico) e Maria Sole (voz). Nesta edição, Modesto foi substituído por Adriano Dias (violão de sete cordas), mas em sua próxima apresentação pelo Música no Campus, o grupo contará com sua formação original. Do encontro da voz marcante e das interpretações carregadas de emoção da cantora italiana com a sonoridade vintage do jazz europeu do Hot Jazz Club surge um espetáculo único, com o tempero certo de refinamento e descontração. O tom lírico de uma seleção primorosa de canções francesas, italianas, norte-americanas e brasileiras constrói uma atmosfera nostálgica, enquanto toda a vibração dançante da pulsação do jazz cigano torna a alegria do palco contagiante para toda a plateia.