Fotos de
Marcus Ozores
revelam um
flâneur pelas
ruas do mundo

03/04/2014 - 16:20


A exposição fotográfica Convergências Urbanas pode ser observada de duas maneiras: com ou sem a leitura dos textos que acompanham as imagens. Com a legenda, o autor contextualiza a foto e guia o olhar do visitante. Sem a legenda, a viagem do observador começa exatamente no momento em que termina o passeio do fotógrafo. A fotografia é o ponto de partida, é o passaporte que permite observar aspectos de um mercado público em Istambul, o trabalho artesanal de impressão de convites de casamento na Cidade do México, o movimento de passageiros nas escadas rolantes do metrô de São Paulo ou a pilha de chapéus harmonicamente erigida numa banca de camelô na Calle Florida, em Buenos Aires. Essa é a proposta da exposição realizada pelo jornalista Marcus Vinicius Ozores que reúne 49 fotografias e que pode ser vista até o dia 30 de abril no Espaço NEPP, localizado no Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp. 

Vídeo e áudio produzidos pela RTV Unicamp

“Não concebo a ideia de uma fotografia desprovida de legenda”, argumenta Marcus Vinicius. Essa concepção está diretamente ligada à sua formação profissional quando começou atuando como fotojornalista em O Estado do Paraná, em Curitiba, nos anos 70. “É papel do fotojornalista inserir o leitor no contexto da matéria”. Apesar dessa preocupação, o autor fugiu da objetividade jornalística e produziu textos-legendas com enorme carga de subjetividade. Ele ‘viajou’ nas palavras expressando sensações vividas no instante da produção fotográfica ou no momento de observação da fotografia. Por meio de textos, muitas vezes poéticos, ele observa as fotos e faz uma releitura da cena que pode ganhar diferentes significados. Há um espaço de tempo que propicia ressignificações. São textos em que aflora, sobretudo, um conhecimento assimilado nos bancos acadêmicos quando cursou Ciências Sociais na Unicamp.

Mas ali também estão elementos de sua enorme bagagem cultural adquirida nas centenas de livros que leu e nos filmes que assistiu – bagagem que fez de Marcus Vinicius um viajante diferenciado, atento, mas ao mesmo tempo, um flâneur, um inimigo da pressa que perambula pelas ruas das cidades do mundo. E é justamente essa falta de pressa que o possibilita atuar em duas frentes: como construtor de imagens e como alguém que documenta instantes inusitados. “A imagem de garrafas de especiarias meticulosamente dispostas numa banca de mercado em Aracaju passou por um processo de construção mental para depois se materializar em fotografia. Diferentemente da foto de um anônimo artista plástico parisiense que recolhe seus utensílios no fim de uma tarde de inverno às margens do Sena. Se esperasse um pouco mais, as pegadas na neve estariam apagadas e a imagem empobrecida”, explica o fotógrafo.





Para o fotojornalista Neldo Cantanti, um dos mestres de Marcus Vinicius quando ainda atuava como fotógrafo de O Estado de S. Paulo, na sucursal de Campinas, algumas fotografias expostas revelam no detalhe o olho apurado do autor da exposição. “O bom fotógrafo é aquele que enxerga o detalhe, as sutilezas de cenas que não são perceptíveis num primeiro momento. É aí que está o seu diferencial.” No entanto, o inusitado do trabalho exposto, segundo o fotojornalista Nelson Chinalia, docente da PUC-Campinas e ganhador do Prêmio Vladmir Herzog de Fotografia, está na composição, principalmente na luz que só o fotógrafo teve a sensibilidade de observar no momento do ato fotográfico. “O autor soube introduzir esse elemento abstrato [a luz] em meio a elementos materiais, o que determina o desenho do cenário. Mais: a luz, que só ele viu, norteia o olhar do observador, o conduz a diferentes leituras que o fotógrafo certamente não se atentou quando produziu a imagem”. Esse detalhe, contudo, não é obra do acaso. “Quando fotografo, concebo a imagem em preto e branco, daí a importância da luz”, afirma Marcus Vinicius. É aí que reside a magia da fotografia, o modo de registro em que o artista escreve com a luz.

Marcus Vinicius trabalhou como jornalista nos anos 70 no jornal Diário do Povo em Campinas. Na Unicamp, atuou na elaboração no projeto de Assessoria de Imprensa da Universidade, onde foi assessor por mais de uma década. Atualmente é o apresentador do programa Palavras Cruzadas, produzido pela Rádio e Televisão – Unicamp (RTV). Sua nova investida no campo da fotografia está na mostra Esquinas e Passagens, que será aberta no próximo sábado na passagem subterrânea que liga a Avenida Paulista e a Rua da Consolação, em São Paulo.
 



Comentários

Parabéns Marcus pelo trabalho. Um grande abraço do amigo Gill

Email: 
gilbfe@unicamp.br