Guy Standing e Suplicy debatem
precariedade, renda e cidadania
25/04/2014 - 16:52
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O economista britânico Guy Standing e o senador Eduardo Suplicy (PT) debateram na tarde desta sexta-feira (25), no auditório "Jorge Tápia" do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, questões sobre precariedade, renda e cidadania no mundo do trabalho contemporâneo. O seminário internacional foi organizado pelo professor Anselmo Luis Santos, do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) do IE.
Guy Standing é autor de O precariado, a nova classe perigosa, livro lançado recentemente no Brasil pela editora Autêntica. Na obra, o docente da Universidade de Londres e copresidente da Rede Mundial da Renda Básica (BIEN, na sigla em inglês), cunha o termo precariado, uma fusão das palavras “proletariado” e “precário”.
“A globalização criou uma convergência de países e isso gerou uma fragmentação de classes, com uma plutocracia aparecendo na estratosfera, com bilhões e bilhões de dólares e poder. Muito abaixo estão os assalariados, com uma estabilidade de emprego. A velha classe trabalhadora, o proletariado, desapareceu. No seu lugar, temos o precariado, como uma nova classe”, define.
Esta nova classe consiste, de acordo com Guy Standing, em milhões de pessoas vivendo sob três características principais. “Eles têm trabalho instável e não possuem um senso de identidade profissional, de que estão construindo uma vida. Isso cria uma situação de trabalho muito instável. Esta é a primeira característica. A segunda é a necessidade de que precisam contar com salários em dinheiro sem benefícios, sem pensões e seguro desemprego. E seus salários estão caindo e são muito voláteis. Eles estão em insegurança. A terceira é a perda de direito. Estão perdendo o direito de serem cidadãos: direitos sociais, culturais, políticos, econômicos e civis”, explica.
Ainda conforme o estudioso britânico, o precariado também pode ser entendido como uma nova classe perigosa, dividida em três grupos. “O primeiro é composto por pessoas caindo do velho proletariado: eles não têm a educação ou o status para compreender esta situação e acabam olhando para trás, ouvindo neofascistas, portanto são perigosos. O segundo consiste em minorias: imigrantes, deficientes, grupos diferentes. Eles estão perdidos e podem explodir. Por isso são perigosos. O terceiro são os jovens educados que não têm futuro. Eles são perigosos porque não aceitam os antigos objetivos políticos, sejam da direita ou da esquerda.”
O senador Eduardo Suplicy, presidente honorário da Rede Mundial de Renda Básica, afirmou que Guy Standing tem sido um entusiasta das experiências pioneiras da renda básica de cidadania. O senador citou ainda o caso do Alaska, estado norte-americano que instituiu, há três décadas, uma experiência de renda básica de cidadania. “Isso fez do Alaska o mais igualitário dos 50 estados norte-americanos. Em especial, isso é muito relevante porque em 1980 o Alaska era o mais desigual”, afirmou Suplicy, que também é economista e autor da lei n° 10.835/2004 que instituiu a Renda Básica de Cidadania no país.
Para o professor Anselmo Santos a presença de Guy Standing e de Eduardo Suplicy dá contribuição relevante no sentido de ampliar a discussão sobre as transformações do trabalho, das relações de trabalho e das organizações dos trabalhadores. “Desde a década de 1980 temos uma tendência à precarização do trabalho. E hoje, neste contexto de globalização, existem áreas em que a deterioração do mercado de trabalho e da qualidade de emprego tem piorado muito. O Guy Standing tem obras importantes neste sentido. E o senador Eduardo Suplicy, colega de Guy, desenvolve ações e estudos sobre a importância da renda básica para a cidadania”, frisou. (Colaborou Mateus Fioresi)