Campinas em breve
ganhará um escultório
14/05/2014 - 15:07
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Campinas contará em breve com um escultório, um espaço dedicado às artes. O anúncio foi feito na manhã desta quarta-feira (14) pelo engenheiro da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A. (Sanasa) João Pinheiro durante o Fórum As Esculturas Públicas e a Cidade Contemporânea, promovido pelo Instituto de Artes (IA), em seu auditório. Segundo ele, o escultório será instalado em área da Pedreira do Chapadão. Trata-se de um projeto da Prefeitura Municipal de Campinas que envolve a Unicamp e a Fundação para o Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp).
O escultório foi idealizado pela Sanasa (autarquia do município) para marcar os seus 40 anos de existência e terá a participação de três artistas e de três escultores. “Ele será construído em praça pública, para que os visitantes tenham fácil acesso às obras, que são um presente também para a cidade”, disse João Pinheiro.
O diretor do IA Esdras Rodrigues Silva salientou que esse convênio junta várias forças, em um momento de muitas trocas entre a Prefeitura local e a Unicamp. “Fico satisfeito de ver que esse projeto está caminhando e que a Sanasa está tendo uma importante participação na revitalização dos espaços públicos da cidade”, expressou.
A professora do IA Sylvia Furegatti, organizadora do evento junto com o professor Marco Antonio Alves do Valle, buscou trazer ao campus da Unicamp estudiosos e artistas que pensam a escultura contemporaneamente. “Sejam bem-vindos e saibam que esse fórum é possível graças a vocês”, afirmou. A programação, que prosseguiu à tarde, teve discussões sobre a arte e a paisagem urbana, a coleção escultórica no espaço do campus, o espaço da escultura contemporânea entre o global e o local.
O artista plástico Iran do Espírito Santo, que pela primeira vez esteve na Unicamp, mas que é um nome internacional na área das artes, mostrou uma série de instalações suas que dialogam com espaços expositivos, em sua maioria pinturas e desenhos em parede. Apesar de sua longa trajetória de trabalho com a escultura e outras linguagens, que já tinha iniciado na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), o artista garantiu durante o Fórum que sua experiência com escultura pública era limitada, por conta até das chances de concretizar um projeto de arte pública. Praticamente fez mais em território fora do país.
Para contextualizar a sua fala, Iran mostrou várias imagens de instalações às quais chamou de semipúblicas. Em Winnipeg, capital da maior cidade da província canadense de Manitoba, construiu instalação numa galeria pública do antigo Banco do Comércio, que foi declarada aberta através dessa encomenda. Trabalhou com gesso na parede na Galeria Sérgio Porto do Rio de Janeiro, com um projeto em galeria pública em Chicago, lidando com textura em madeira.
No Museu de Arte Moderna de São Francisco, atuou pintando tijolos em tons de cinza com artistas da década de 1990. Em 1997, fez um projeto em San Diego, na Califórnia, chamado Insight. Criou um tabuleiro na fronteira entre Estados Unidos e México, distribuindo 20 dados em diferentes pontos, como escolas, igrejas, praças, sem identificar o autor. “Aconteceram coisas bizarras. A arte desaparecia para depois reaparecer em outros lugares, estranhos, coberta de sangue”, relembrou. Pintou para o Museu de Belas Artes em Montreal, para o Museu de Arte Moderna de Dublin e para a Capela do Morumbi.
No ano passado, Iran produziu uma instalação na rua 60 com a quinta avenida, em Nova Iorque, em um dos locais mais frequentados. “Fiz uma estrutura fundida em concreto – chamada Playground – muito interessante e que aguçou a curiosidade do público. Depois de seis meses, foi desmontada e agora será levada em caráter definitivo para um hospital sediado num campus universitário de Los Angeles. “Fiz isso para ir ao encontro dessa obsessão do americano por lazer”, contou.
Docente do Mackenzie, Abílio Guerra foi um dos debatedores da mesa em que participou Iran. Ele comentou que as instalações tinham tudo a ver com o universo da arquitetura. Na instalação Playground, que gerou um vídeo de três minutos, “são vistas crianças que passam por debaixo de uma fresta, como se ela fosse uma porta, coisa que um adulto não conseguiria fazer. Vemos nisso então um uso lúdico. Mas vemos outros usos. Há janelas que não são janelas típicas da arquitetura. No espaço público, temos a percepção de um mundo e do controle da natureza. Isso me parece uma ponta para a entrada de um artefato na cidade, um trepa-trepa, por exemplo", discutiu.
A presença do objeto da instalação leva a refletir sobre uma estrutura inacabada onde as coisas bem acabadas também parecem transitórias. "Tem uma temporalidade nisso. Aponta uma presença da obra de arte construída, que é a cidade. Essa presença tem que lidar com duas questões complicadas: com aquela de quem anda por aí em algum momento e com a escala anônima da infrasestrutura. A arte fica difícil competir com a complexidade da cidade. Ao colocar as obras tiradas do museu no espaço público, é preciso lidar com a falta de ideia do que é o objeto estético que ali está. Essa arte vai competir com várias manifestações sociais como as pichações e os grafites. “É um terreno movediço saber o que é arte. Se no museu é simples, fora dele o 'bicho pega'. Há um grande conflito", pontuou.