Potencial do pré-sal depende
de êxito das políticas públicas

05/06/2014 - 15:28

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Abertura do Fórum

Abertura do Fórum

Bucheb, gerente da Universidade Petrobras

Bucheb, gerente da Universidade Petrobras

Público acompanha evento

Público acompanha evento

Evento no período da tarde

Evento no período da tarde

Alvaro Crósta

Alvaro Crósta

Antonio Claudio Corrêa

Antonio Claudio Corrêa

Beatriz Bonacelli

Beatriz Bonacelli

Ingrid Oberg

Ingrid Oberg

Júlio Hadler

Júlio Hadler

Lindon Fonseca

Lindon Fonseca

Mesa da primeira sessão

Mesa da primeira sessão

Paulo Romeiro

Paulo Romeiro

Rodrigo Bacellar

Rodrigo Bacellar

Rodrigo Serra

Rodrigo Serra

A exploração de petróleo e gás da camada de pré-sal pode impulsionar um avanço ímpar no desenvolvimento do Brasil se devidamente conduzida por políticas públicas. Entretanto, todo esse potencial pode estar ameaçado por decisões equivocadas de gestores públicos, o que levaria ao esgotamento das riquezas em algumas décadas sem a consolidação de retornos para a população na forma de investimentos em infraestrutura, inovação tecnológica e educação. Esse foi o tom dos debates do Fórum Desafios do Pré-Sal: Riscos e Oportunidades para o País, realizado no dia 4 de junho na Unicamp.

Durante o evento realizado no Centro de Convenções da Unicamp, geólogos, engenheiros, economistas e especialistas da área ambiental discutiram as implicações da descoberta de grandes reservatórios de óleo na costa entre os Estados de Santa Catarina e Espírito Santo, anunciadas em 2007. O petróleo proveniente do pré-sal deve mais do que dobrar as reservas brasileiras, sendo que já representam cerca de 20% do que é produzido pela Petrobras.

José Alberto Bucheb, gerente geral da Universidade Petrobras, ressaltou que a produção da empresa passará dos atuais dois milhões de barris por dia para mais de quatro milhões de barris por dia em 2020. As dificuldades logísticas e tecnológicas, no entanto, são enormes, segundo Bucheb, já que os campos estão a 300 km da costa - quase o dobro da distância média para extração na Bacia de Campos - e a uma profundidade de até 7.000 metros. "Mas junto aos desafios vêm as oportunidades nas áreas industriais, principalmente de inovação tecnológica, o que já é uma realidade", disse o executivo da Petrobras, lembrando do crescimento do polo científico e tecnológico da empresa na Ilha do Fundão. O Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (CENPES), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), já conta com sete empresas e pelo menos outras quatro estão planejando se instalar.

Antonio Cláudio de França Corrêa, assessor de Planejamento Estratégico da Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), mostrou em sua palestra que a descoberta do pré-sal foi a grande novidade entre os campos gigantes encontrados no mundo nos últimos dez anos. As estimativas de reservas provadas do pré-sal variam entre 80 e 110 bilhões de barris, segundo o geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor de exploração da Petrobras. "O Brasil passou a integrar um grupo de nações muito pressionadas geopoliticamente. É importante que tenhamos a consciência de que, com o pré-sal, o Brasil finalmente assumiu uma postura não mais de coadjuvante na cena geopolítica mundial, mas de protagonista", opinou Estrella, reconhecido como um dos "pais do pré-sal" por ter coordenado a equipe que descobriu as reservas.

Estrella lembrou o economista Luiz Gonzaga Belluzzo ao afirmar que o Brasil não discute estratégia, baseando decisões sempre no tripé econômico, formado por inflação, câmbio e responsabilidade fiscal. "Temos mania de misturar estratégia com economia. Ela é importante, mas a estratégia nacional tem que se libertar um pouco disso." Estrella defende a necessidade de o Brasil ter um plano estratégico de segurança energética, com uma perspectiva de 50 anos. "Libra [primeiro campo leiloado do pré-sal, em 2013] foi leiloado com base no tripé econômico. Isso tudo foi uma decisão de governo, que seguiu a nova lei do petróleo, mas poderia ter sido mais discutido".

O professor Adílson de Oliveira, da UFRJ, classificou a descoberta do pré-sal como "oportunidade histórica" para mudar o país, mas considerou que há desafios, não somente tecnológicos, que trazem riscos ainda não seguramente mensurados. "O pré-sal é um imenso laboratório de inovações tecnológicas na área de offshore global. Tudo que será desenvolvido aqui - e já existe pioneirismo da Petrobras em offshore -, será utilizado em outras regiões do mundo. Temos que sedimentar isso com empresas brasileiras e com capacitação tecnológica brasileira", defendeu Oliveira, acrescentando que a cláusula de pesquisa e desenvolvimento (P&D) prevista em lei garante recursos volumosos de investimento.

Esses desafios exigem decisões importantes, que compreendem a continuidade da atual trajetória tecnológica em petróleo e gás ou a sua ruptura, apontou o docente da UFRJ. Com uma logística complicada de exploração, reservatórios com condições geológicas complexas e necessidade de produção no fundo do mar, serão exigidos pesados investimentos em inovação, que incluem naturalmente alto risco, segundo Oliveira.

"Apesar de querermos criar essa capacitação nacional, nosso parque industrial é extremamente frágil e não é competitivo. Temos gargalos enormes na capacidade produtiva, faltam insumos e quadros técnicos." Para ele, o país necessita de uma política industrial articulada para o pré-sal, que integre os ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). "Não existe nenhuma articulação clara entre esses agentes."

Rodrigo Bacellar, superintendente de Insumos Básicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), indicou que a Coreia do Sul e a Noruega foram os países cujas políticas públicas industriais para o setor de óleo e gás obtiveram maior êxito. Na outra ponta, México, Reino Unido e Indonésia registram resultados mais modestos no estímulo ao setor. Segundo Bacellar, o BNDES calcula que, entre 2014 e 2017, o setor de petróleo e gás receberá um investimento de R$ 488 bilhões, 45% do total da indústria nacional.

Considerando a opção de manutenção da matriz energética baseada em hidrocarbonetos, há que se discutir a gestão democrática dos recursos do pré-sal, calculando-se os impactos socioambientais, afirmou a bióloga Ingrid Furlan Oberg, ex-chefe do Escritório Regional do Ibama em Santos. "Não podemos pensar só no capital econômico, mas também no capital natural e no capital social, temos que contrabalancear esses três pontos. O desafio é fazer com que esse potencial econômico se transforme também em potencial natural e social". Durante o evento, o advogado Paulo Romeiro, do Instituto Pólis, enumerou uma série de impactos provocados pelo crescimento econômico no litoral paulista nas últimas décadas, que podem ser amplificados com a exploração do pré-sal.

Também participaram do Fórum Desafios do Pré-Sal os economistas Fernando Sarti, do Instituto de Economia da Unicamp, que discutiu como o Brasil pode se tornar uma referência em petróleo em águas profundas, e Rodrigo Serra, especialista em Regulação da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que abordou a questão dos royalties. O evento, realizado pelo Fórum Pensamento Estratégico (PENSES) e pela Pós-Graduação do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, contou ainda com a presença do coordenador geral da Unicamp, Alvaro Crósta, do coordenador geral do PENSES, Julio Cesar Hadler Neto, do diretor associado do IG, Lindon Fonseca Matias, e da coordenadora geral da Pós-Graduação do IG, Maria Beatriz Bonacelli.