Física é fundamental
para a indústria, diz Cornell

29/09/2014 - 11:45

O ganhador do Prêmio Nobel de Física de 2001, Eric Cornell
Existe um espaço importante para a ciência fundamental, que vai além das aplicações mais óbvias da engenharia, na indústria e na inovação, disse Eric Cornell, ganhador do Prêmio Nobel de Física em 2001, que participa do Fórum de Física na Indústria, que acontece ao longo desta semana na Unicamp. Falando à reportagem do Portal Unicamp num intervalo do evento, Cornell ponderou que “existe uma grande sobreposição” entre física e engenharia, mas que o físico está preparado para ir mais fundo que o engenheiro em questões fundamentais.  “A ideia desta conferência é que existe espaço para a física na inovação e na indústria”.

“O engenheiro não costuma ser treinado para ver os limites fundamentais, para entender o trabalho que está fazendo no nível mais básico e para fazer melhorias nesse nível”, disse. “A física, por sua própria natureza, tenta entender coisas bem básicas, e buscar compreender os princípios por trás das coisas às vezes pode ser extremamente útil”.

Cornell, que é pesquisador do Instituto JILA, localizado no campus da Universidade do Colorado em Boulder, dividiu o Nobel de Física de 2001 com Wolfgang Ketterle e Carl Wieman, pela produção de um novo estado da matéria, o condensado de Bose-Einstein. O material obtido tem uma temperatura extremamente baixa, de poucos bilionésimos de grau acima do zero absoluto.

Cornell está, atualmente, envolvido em um experimento  para gerar condensados de Bose-Einstein a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS). O equipamento deve passar a operar no espaço em 2016. “Esperamos que a microgravidade vá nos ajudar a deixar os átomos ainda mais frios e menos densos do que conseguimos aqui na Terra”, explicou ele. “Para fazer um experimento com átomos gelados na Terra, é preciso sustentá-los contra a gravidade, e ao sustentá-los é inevitável que eles se espremam um pouco, e ao espremê-los nós os esquentamos”.

Cornell diz que a maior parte de seu trabalho diz respeito a física básica, mas que sua interação com a física aplicada e a indústria é grande. “Meu laboratório é um grande consumir de lasers”, contou. “E acabo treinando físicos que ficam muito bons com lasers, e alguns deles acabam indo trabalhar em empresas do setor óptico, que acabam me vendendo novos lasers”. Ele também procura levar a abordagem da ciência fundamental para questões práticas, como a busca por energia renovável. “Tenho grandes interesses na área de ciência aplicada, mas meu modo de tratá-los é com uma abordagem matemática, básica, que às vezes pode ser útil”.

Mesmo o condensado de Bose-Einstein já encontrou aplicações no “mundo real”, incluindo um novo tipo de laser. “Existe o laser, existe gente usando para navegação e sensoriamento remoto”, disse. “E também há a computação quântica. O condensado não é um computador quântico, em si, mas a computação quântica requer temperaturas muito baixas, então algumas pessoas veem o condensado de Bose-Einstein como o ‘gás freon’ dos computadores quânticos”.

Sobre o Fórum que se realiza na Unicamp, Cornell disse que é importante levar esse tipo de evento aos países em desenvolvimento. “Países como o Brasil ou a Indonésia têm uma imensa necessidade de novas tecnologias, mas também são muito promissores, com seu grande número de jovens cientistas e engenheiros”.

O tema do fórum, que teve início nesta segunda-feira e prossegue até 3 de outubro, é “Capacitação em física industrial em economias emergentes”. O objetivo da iniciativa é promover a aproximação entre cientistas e a indústria para atender às necessidades da sociedade relacionadas ao avanço tecnológico sustentável. As atividades estão concentradas, até quarta-feira, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Na quinta e na sexta-feira serão ministrados minicursos no Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW). O fórum é uma iniciativa do IFGW, do Instituto Americano de Física (AIP) e do Centro Internacional de Física Teórica (ICTP), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).