Edição nº 612
Unicamp
Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 31 de outubro de 2014 a 09 de novembro de 2014 – ANO 2014 – Nº 612Em diálogo com o mundo
Estratégia de internacionalização da Unicamp é ampliada e atinge novos segmentos da comunidade universitáriaLívia Salvador, funcionária da Seção de Recursos Humanos do Colégio Técnico de Limeira (Cotil), administrado pela Unicamp, retornou de viagem a Portugal no começo de outubro. Depois de passar um mês na Universidade do Porto, onde fez um curso de coaching e participou de diversas atividades, ela conta que voltou modificada pela experiência. “Adquiri vários conhecimentos nessa viagem, tanto no plano profissional quanto no pessoal. Tenho certeza de que vou aplicar muito do que aprendi nas minhas atividades diárias no Cotil”, antevê a servidora. Lívia integra um grupo de 21 contemplados no edital de mobilidade internacional dirigido aos funcionários técnicos e administrativos, lançado este ano pela Universidade. É a primeira vez que esse segmento profissional tem a oportunidade de participar de um programa do gênero.
Proporcionar experiências internacionais a funcionários, estudantes e professores faz parte do plano estratégico da Unicamp de se tornar uma instituição de classe mundial. “Não podemos pensar em internacionalização se esse conceito não for transformado em cultura e se não houver o envolvimento de todos os segmentos que compõem a comunidade universitária”, afirma o reitor José Tadeu Jorge. Em conformidade com este princípio, a Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (Vreri) lançou este ano seis editais de mobilidade internacional, que exigiram investimentos da ordem de R$ 2 milhões, recursos originários do orçamento da Universidade.
Dentre as chamadas, três contemplam de forma inédita segmentos da comunidade universitária, o que revela o caráter único da estratégia que vem sendo desenvolvida pela Unicamp. Além dos funcionários, também foram contemplados pela primeira vez com programas de mobilidades professores e alunos dos colégios técnicos. Ademais docentes e estudantes de graduação e pós-graduação das áreas de humanidades, que não eram atendidos pelo Ciência sem Fronteiras (CsF), programa do governo federal, foram igualmente beneficiados com linha específica, denominada “Humanas sem Fronteiras”.
No caso dos servidores, foram concedidas 21 bolsas, cada uma no valor de R$ 14 mil, para o cumprimento de um período de 30 dias no exterior. Propostas aprovadas com menor tempo de permanência receberam recursos proporcionais. De acordo com o vice-reitor executivo de Relações Internacionais, professor Luis Cortez, o edital de mobilidade de funcionários recebeu 30 inscrições, número considerado bom por se tratar da primeira experiência. Para concorrer a uma das bolsas, os servidores tiveram que cumprir uma série de exigências, entre elas fazer contato com uma instituição estrangeira e propor a participação em atividades como estágios, visitas técnicas e cursos de treinamento. O ponto fundamental da proposta, conforme Luis Cortez, era que a atividade pretendida tivesse correlação com as funções desempenhadas pelo funcionário na Unicamp.
Em seguida, de posse da carta-convite da universidade de destino, os concorrentes ainda tiveram que se submeter a uma entrevista em inglês. Concluído o intercâmbio, o contemplado tinha a obrigatoriedade de apresentar, 15 dias após o retorno ao Brasil, um relatório sobre as atividades desempenhadas. “Considerei o processo seletivo muito bom. Não tive dificuldades em cumprir as exigências do edital”, atesta a servidora Lívia Salvador. No caso do edital “Humanas sem Fronteiras”, o programa destinou 12 bolsas para docentes e 48 para estudantes de graduação e pós-graduação.
Os professores receberam bolsa no valor de R$ 7,5 mil para o cumprimento de um período de dez dias no exterior, durante o qual promoveram visitas técnicas com o objetivo de explorar novas parcerias, fomentar a realização de pesquisas cooperadas e impulsionar a mobilidade estudantil. Já a bolsa dos estudantes foi de R$ 12,5 mil, para custear seis meses de intercâmbio. Em relação aos colégios técnicos, foram lançados dois programas, um destinado ao atendimento de seis propostas de docentes [diretores, coordenadores de curso e professores] e outro voltado ao acolhimento de uma proposta estudantil.
Os professores receberam bolsas de R$ 7,5 mil para custear sete dias de estada na instituição anfitriã. Nesse período, os contemplados buscaram novas oportunidades de cooperação acadêmica e de mobilidade estudantil. Além das três linhas citadas, a Unicamp também lançou este ano os editais Cooperação Mundial, que ofereceu 48 bolsas a professores (24) e alunos de graduação e pós-graduação (24); Mobilidade de Redes, que concedeu bolsas tanto de curta quanto de longa duração a estudantes, docentes e pesquisadores no âmbito das redes universitárias das quais a Unicamp participa; e Faepex Internacional, voltado à recepção por dois ou três meses de estudantes estrangeiros de graduação e pós-graduação.
Esse conjunto de medidas, observa o vice-reitor de Relações Internacionais, está em sintonia com a política de internacionalização da Universidade, que tem como base dois eixos principais: relevância acadêmica e reciprocidade. Neste modelo, continua Luis Cortez, as faculdades e institutos assumem o protagonismo das ações. “É fundamental que as unidades de ensino e pesquisa decidam, com base nos princípios da relevância acadêmica e reciprocidade, que tipo de internacionalização atende aos seus interesses. O que é bom para as engenharias não é necessariamente bom para a medicina”, compara.
A Vreri vem promovendo reuniões com representantes das faculdades e institutos para discutir essas questões. Dentro desse novo contexto, reforça o vice-reitor de Relações Internacionais, os coordenadores de graduação e de pós-graduação cumprirão um papel muito importante. “Nós não queremos que esses coordenadores se limitem a assinar a documentação relativa à mobilidade dos estudantes. Queremos que eles orientem esses alunos sobre qual a melhor escolha para cada tipo de intercâmbio”, pontua Luis Cortez.
Tais cuidados, diz o dirigente, também visam à correção de algumas distorções criadas com ao longo do tempo. Atualmente, a Unicamp envia muitos alunos de graduação ao exterior, mas ainda recebe poucos estudantes estrangeiros. Na pós-graduação, a Universidade envia um número considerado reduzido de estudantes, e recebe um pouco mais, sendo a maioria da América do Sul. “Temos o desafio de equilibrar esses indicadores e de buscar mais parcerias com instituições de outros continentes”, defende.
O dirigente observa, ainda, que internacionalização não se faz somente com viagens ao exterior. “Isso pode ser feito, por exemplo, através da realização de cursos em nossos campi com a participação de especialistas estrangeiros de reconhecida competência. A medicina, por exemplo, tem dificuldade de mandar estudantes para o exterior porque o curso é muito intenso e porque os alunos, lá fora, não podem lidar diretamente com pacientes. Uma maneira de contornar essa dificuldade é promover cursos de verão aqui, com a participação de renomados especialistas do exterior”, pondera Luis Cortez.
A despeito das iniciativas já tomadas, o vice-reitor de Relações Internacionais considera que a Unicamp precisa fazer algumas lições de casa para impulsionar ainda mais a sua internacionalização. Uma delas diz respeito ao oferecimento de cursos e disciplinas em inglês. “Hoje nós temos 38 disciplinas na Universidade que são oferecidas em inglês. Não é um número desprezível, mas ele precisa ser significativamente melhorado e alcançar mais faculdades e institutos. Metade destas disciplinas é oferecida por uma única unidade, o Instituto de Computação (IC), sendo que quase todas no nível da pós-graduação. Atualmente, estamos construindo um portal em inglês, cujo objetivo é melhorar a nossa comunicação com o mundo. No espaço virtual, pretendemos disponibilizar diferentes conteúdos em inglês, como aulas, cursos e eventos científicos”, adianta.
O reitor Tadeu Jorge reforça a necessidade de se criar um ambiente de internacionalização na instituição que envolva todos os segmentos universitários. “A exigência de internacionalização em relação a docentes e estudantes ocorre naturalmente. Experiências internacionais tornaram-se indispensáveis à produção científica e à colocação no mercado de trabalho. O mesmo não acontecia com os funcionários da Universidade e com os estudantes e professores dos colégios técnicos. Por isso estamos oferecendo estímulos também a estas áreas, de modo a fazer com que a internacionalização se torne parte da rotina da instituição. Esta é a base para que a Unicamp assuma futuramente a condição de escola de classe mundial”, considera Tadeu Jorge.
Vivências internacionais, prossegue o reitor, têm a capacidade de transformar as pessoas para melhor, por causa dos aprendizados obtidos durante a permanência em um país estrangeiro. O contato com outras culturas e hábitos é sempre enriquecedor. “Se uma pessoa passar 15 dias no interior de Minas Gerais, por exemplo, ela voltará diferente. Ela certamente vai conhecer pessoas interessantes e aprender coisas novas. Se a viagem é para outro país, a experiência se torna ainda mais intensa. Isso proporciona mudanças, pois a pessoa incorpora novas visões. Institucionalmente, isso é muito relevante. Se a pessoa retorna enriquecida, ela muito provavelmente trará novos elementos para a sua atividade na Universidade”, analisa o reitor.
De acordo com ele, se o “fôlego orçamentário” permitir, a ideia é não somente relançar os editais em 2015, como ampliá-los. “Fazer internacionalização não é algo trivial ou barato, mas é uma prioridade para a Unicamp”, assegura. Nesse aspecto, Tadeu Jorge assinala que a Universidade tem que pensar em dois tipos de internacionalização, que ele distingue em “para cima” e “para baixo”. A primeira vertente diz respeito às parcerias com instituições que estão em melhor posição que a Unicamp em alguns parâmetros. Nesse caso, o objetivo da relação é buscar referências para crescimento. A outra vertente é voltada à definição de cooperações com instituições que enxergam a Unicamp como parâmetro de excelência. “Esses dois tipos de internacionalização são importantes e precisam funcionar ao mesmo tempo. É o que fazem instituições como Harvard ou o MIT [Massachusetts Institute of Technology]”, exemplifica.
Dentro dessa lógica, acrescenta Tadeu Jorge, é necessário que a Unicamp procure estreitar parcerias tanto com instituições dos Estados Unidos e Europa, quanto da África, América Latina e Caribe. “Também não podemos nos esquecer da importância de nos relacionarmos com a Ásia, a China em particular, por causa da sua crescente importância no cenário global. Justamente por isso é que estamos ultimando a instalação do Instituto Confúcio, que deverá entrar em operação no início de 2015. O objetivo é intensificar o intercâmbio de estudantes e docentes e estabelecer novas cooperações científicas entre a Unicamp e universidades chinesas”, adianta o reitor.
Embora considere que a Universidade venha trilhando um caminho bem delineado rumo à internacionalização, Tadeu Jorge admite que outros pontos precisam ser atacados para que o objetivo da instituição seja atingido. Um deles é a oferta mais ampla de cursos de línguas para os estudantes. “Estamos reformulando o CEL [Centro de Estudos de Línguas] com o objetivo de qualificar os nossos alunos nesse sentido. O inglês continuará sendo o carro-chefe, mas também queremos oferecer cursos de outros idiomas. Outro aspecto importante, já citado pelo professor Cortez, tem um caráter mais conceitual. Queremos intensificar o envolvimento das faculdades e institutos no processo de internacionalização. As unidades de ensino e pesquisa precisam definir seus objetivos nessa área. Não há um modelo único que possa atender às necessidades das engenharias, das humanidades e da medicina. Assim, cada área tem que nos dizer o que pretende. Em determinado momento, não poderemos avançar sem essas definições de rumo”, reforça.
Experiência transforma participantes
Um comunicado da diretoria do Colégio Técnico de Limeira (Cotil), distribuído em abril deste ano, despertou a atenção da funcionária da Seção de Recursos Humanos da unidade, Lívia Salvador. O texto informava que a Unicamp acabara de lançar, pela primeira vez, um edital de internacionalização dirigido exclusivamente a seus servidores técnicos e administrativos. Depois de ler o documento, ela viu que tinha as qualificações necessárias para concorrer a uma das bolsas. Lívia fez a inscrição, investigou qual instituição estrangeira oferecia uma atividade de seu interesse, fez o contato, acertou os detalhes e se submeteu a uma entrevista em inglês. Foi aprovada em todos os critérios e, no começo de setembro, finalmente embarcou rumo à Universidade do Porto, em Portugal, onde permaneceu por 30 dias.
Em Portugal, Lívia diz ter vivido experiências novas e importantes nos planos pessoal e profissional. “Na Universidade do Porto eu participei de atividades muito interessantes, como uma visita técnica que durou uma semana e que era dirigida a visitantes originários de países de língua portuguesa. Nela, a instituição expôs o seu projeto de internacionalização, mostrou sua estrutura de ensino, pesquisa e extensão e detalhou algumas das ações dirigidas exclusivamente aos estrangeiros. Achei a iniciativa tão esclarecedora que pretendo elaborar um projeto sugerindo que a Vreri adote alguns dos procedimentos em suas ações de relações internacionais”, afirma.
Além disso, Lívia também fez um curso de coaching, do qual era a única aluna estrangeira. “O curso foi muito proveitoso. Ele foi focado na liderança, em aspectos de gerenciamento. Um tema que me agradou bastante foi como agir diante de questões externas que não podemos mudar. Nesse caso, a alternativa é mudarmos a nós mesmos para podermos superar as adversidades”, diz a servidora, que já antevê o uso dos conhecimentos obtidos em suas atividades rotineiras. Como nem só de trabalho vive o homem [neste caso, a mulher], Lívia teve tempo de visitar outras universidades e passear por algumas cidades.
Esta experiência também foi classificada por ela como “incrível”. “É importante entrar em contato com outra cultura e observar como o estrangeiro encara o mundo, como ele se organiza e busca soluções para os problemas. Isso sem falar da experiência gastronômica, que foi simplesmente maravilhosa. Eu nunca comi um bacalhau tão bom na vida quanto o de lá. Como se não bastasse, também tem os doces portugueses, que são incomparáveis. O pastel de nata, que a gente conhece como pastel de Belém, é de comer rezando”, relata. Questionada se recomendaria esse tipo de experiência a outros funcionários, Lívia responde positivamente. “Sem dúvida. É um aprendizado único. Eu voltei transformada”.
Aluna do curso de licenciatura em Música do Instituto de Artes (IA), Mariana Ciabotti ainda estava cumprindo intercâmbio na Universidade de Southampton, na Inglaterra, quando concedeu entrevista por e-mail. Beneficiada pelo programa “Humanas sem Fronteiras”, a estudante faz estágio em uma escola primária inglesa, onde participa das aulas de música. “Está sendo muito interessante identificar as diferenças e semelhanças com as escolas brasileiras”, conta. Mariana também considera que a experiência, que qualifica como “incrível”, lhe proporcionará crescimento tanto no âmbito pessoal quanto no profissional.
Perguntada que aspecto mais a tem impressionado na Inglaterra, a estudante responde que é a pontualidade dos ingleses. “As aulas e reuniões começam exatamente na hora marcada, sem atrasos nem extensões. Até mesmo o transporte público – metrô, trem ou ônibus – raramente se atrasa. Quando isso acontece, sempre há um pedido de desculpas”, relata. A aluna do IA recomenda a experiência a todos os estudantes de graduação, a despeito do curso que façam, “principalmente para aqueles que estejam dispostos a enfrentar desafios, sejam eles relacionados com a cultura, a língua e o clima de outro país”.
Na opinião de Mariana, o processo seletivo do “Humanas sem Fronteiras” é muito justo, visto que o desempate entre candidatos que atendam a todos os requisitos do edital é feito por meio da análise do desempenho acadêmico. “Minha dica para quem está interessado em fazer intercâmbio é ficar atento ao site da Vreri, que publica todos os editais. E o mais importante: busque informações adicionais, mande e-mails, questione!”, recomenda.
Comentários
Internacionalizacao da UNICAMP
Caro Reitor Jose Tadeu Jorge,
Fico muito feliz como ex-aluno de ver a UNICAMP tomando acoes de forma a criar uma cultura mais aberta a estudantes e professores the outros paises. Tenho ate uma visao da UNICAMP de algo que vejo hoje aqui na Universidade de Lund na Suecia. Todas as pessoas falam ingles (incluindo toda a populacao da cidade, mais isso ja acho um exagero para o Brasil) o que cria um ambiente bastante aberto para diferentes experiencias de vida. Imagino que num segundo momento o perfil de tolerancia e entendimento sobre outras culturas seja incentivado na UNICAMP. Visitar a universidade em algum momento do futuro e ver todas as informacoes em 3 linguas (digamos portugues, espanhol e ingles) seria uma gloria ao me ver.Boa sorte a todos da comunidade da universidade nessa jornada.
Marcelo