Atualidade do pensamento de Celso
Furtado é debatida em evento do IE

26/11/2014 - 11:41

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Rosa Freire, esposa de Celso Furtado

Rosa Freire, esposa de Celso Furtado

Mesa de abertura do seminário

Mesa de abertura do seminário

Professor Fernando Sarti

Professor Fernando Sarti

André Furtado, filho de Celso, organizador do evento

André Furtado, filho de Celso, organizador do evento

Público no auditório do IE

Público no auditório do IE

Rosa Freire D'Aguiar, viúva de um dos expoentes da economia brasileira, Celso Furtado, disse que o pensamento do seu marido, falecido em 2004, ainda hoje é muito atual e que sua carreira certamente foi permeada pela busca de diferentes tipos de conhecimento: ele foi economista, advogado, jornalista e historiador. Para rememorar uma década sem Celso Furtado, o Instituto de Economia (IE) da Unicamp programou nesta quarta-feira (26) o Seminário "A atualidade do Pensamento de Celso Furtado (1920-2004)" que, em certa medida, recupera algumas facetas de Celso como figura pública. Entre outras atividades intelectuais, ele foi ministro do Planejamento no governo João Goulart e ministro da Cultura na gestão José Sarney. Ocupou a cadeira 11 da Academia Brasileira de Letras e escreveu cerca de 30 títulos densos, alguns definitivos para a história do pensamento econômico moderno, do Brasil e da América Latina. 

Atualmente trabalhando com os arquivos do marido, a jornalista Rosa Freire foi convidada pelo IE da Unicamp para apresentar alguns aspectos biográficos da vida de Celso Furtado, num evento organizado pelo IE e pelo Instituto de Geociências (IG), em que foi abordado o seu pensamento e principais contribuições para a História Econômica Brasileira e a sua relação entre Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento. O seminário esteve sob a responsabilidade de André Furtado, professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do IG da Unicamp e filho do Celso Furtado. Veja a programação.

A jornalista agradeceu a Unicamp por ter conferido a Furtado o seu primeiro título Honoris causa, em 1990. Rosa, que hoje está à frente do Centro Celso Furtado, trabalha com documentos sobre a vida dele. “Falar de Celso”, disse, “é falar de diversas coisas, montando uma espécie de quebra-cabeça, pois ele foi um homem de ação, de pensamento e de reflexão teórica." 

O biografado nasceu em 1920 no sertão da Paraíba, na cidadezinha de Pombal. Viveu no Nordeste até os 19 anos e, seguindo a tradição do pai, foi para o Rio de Janeiro (RJ) fazer advocacia. Na década de 1940 fez jornalismo e escrevia textos sobre a vida cultural do RJ e sobre a Segunda Guerra Mundial.

Rosa conta que em 1943 o marido atuou no Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp) e lá fez as grandes descobertas da sua vida: o gosto pela administração e pela organização, que o levaram a abrir espaço para as ciências sociais. Enveredou pela História. Sofreu influência do positivismo. Foi para a França fazer pós-graduação em Economia, onde teve reforçada a influência de Karl Marx, de quem já era admirador, ao fazer um curso na Sorbonne. Sua tese foi sobre a economia colonial.

Ao voltar para o Brasil, foi consultor da Fundação Getúlio Vargas e retomou as atividades no Dasp. Enquanto isso, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) estava sendo criada. Lá ele ficou por nove anos, muito interessado na convivência com jovens cientistas que pensavam o continente latino-americano como um todo. “Firmou o seu perfil de economista técnico, não no sentido que tem essa acepção hoje, pejorativa, mas pela sua grande competência em julgar com isenção”, comenta. Na opinião de Rosa, a Cepal foi para ele um momento no qual se firmou como economista. Se os anos de 1938 a 1948 foram os anos da sua formação, a Cepal, em 1949, foi para ele uma época de afirmação. 

Celso Furtado foi para Cambridge e escreveu Formação Econômica do Brasil, um clássico e uma das obras mais importantes até hoje. Em 1958, a teoria se tornou prática e teve a chance de aplicar seu conhecimento ao Nordeste. “Essa região, que era considerada um caso sem solução, foi o momento-síntese da vida dele”, contou. “Ele colocou-se a serviço da sua terra.”

No Brasil, Celso Furtado contou com o apoio de Juscelino Kubistchek (JK), apesar dos poucos contatos que tiveram. “Juscelino comprou o otimismo que tinha no otimismo de Celso e, apesar das pressões para fazer o contrário, JK o colocou na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, Sudene, onde pensou muito a questão regional com ferramentas do estruturalismo", revela Rosa.

Em 1964, Celso Furtado foi cassado pelo regime militar. Não engoliu a cassação, a qual chamava de "punição". Foi demitido do serviço público e foi para o exílio na França. "Veio à tona o Celso economista, acadêmico. Foi uma fase profícua onde publicou outros dez livros, todos no exílio. Houve uma virada na sua obra. Dá para perceber nitidamente a moldura da economia, se ela tivesse sido bordada, incorporando outras ciências e diálogos transversais. A economia em seus escritos era uma explicação do mundo. Celso foi o primeiro a pensar a dimensão cultural do desenvolvimento e este foco foi evoluindo de forma única. Os textos da década de 1970 até meados de 1980 mostravam a cultura como elemento e depois como síntese”, afirmou.

De acordo com Rosa, particulamente nos dias atuais, Celso Furtado continua sendo muito estudado por diversas áreas, entre elas as que envolvem estudos culturais. “A sua atualidade está nesta interdisciplinaridade.” Ela, que trabalha no mercado editorial, fazendo traduções, garante que os clássicos servem para entender quem somos, quem fomos e onde chegamos.