A estreia de Eustáquio, videodocumentário produzido pela RTV Unicamp, aconteceu nesta quinta-feira (11) na sala de cinema do Espaço Cultural Casa do Lago (Ecult), espaço público onde apresentações, espetáculos, performances, exposições e eventos são realizados. O filme homenageia o jornalista e escritor Eustáquio Gomes, coordenador da Assessoria de Comunicação e Imprensa (Ascom) por 30 anos e funcionário emérito da Unicamp, que faleceu no início deste ano.

Com 38 minutos de duração, o filme, dirigido pelo também jornalista Amarildo Carnicel, diretor-associado da RTV Unicamp, mostra 16 depoimentos de pessoas que conviveram com o jornalista, homem de confiança dos reitores e autor do livro Mandarim: História da Infância da Unicamp. O episódio do AVC (que o acometeu), a figura humana, a produção literária, as viagens, o reconhecimento como escritor e a relação litigiosa com a morte imprimiram a tônica do documentário. O vídeo está disponível na web.

Durante a solenidade de lançamento, o reitor da Unicamp, professor José Tadeu Jorge, disse que essa era uma homenagem a Eustáquio das muitas que ele mereceria receber. Amigo pessoal do homenageado, o reitor preferiu em silêncio assistir ao filme e salientou que teve muita dificuldade de lidar com a notícia do AVC sofrido pelo seu assessor [coincidentemente, o acidente ocorreu no dia em que ele assinaria a aposentadoria].   

O coordenador-geral da Universidade, professor Alvaro Crósta, afirmou que “a iniciativa do filme foi merecida e que, de certa forma, é um tributo à figura humana que era o Eustáquio. Era muito difícil ter apenas relações profissionais com ele. Era versátil, tinha amplo conhecimento e sabia comunicar. Por isso, as conversas que tive com ele sempre foram além do planejado”, recordou.

João Frederico Meyer, pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, expressou o orgulho de participar dessa homenagem ao Eustáquio, carinhosamente chamado de Tatá. “Ele nunca falhou comigo no que precisei dele. Não tinha apenas talento, mas também bom-humor e simplicidade”, ressaltou.

Meyer discutia com Eustáquio algumas crônicas, em geral publicadas na Revista Metrópole, encartada com o jornal Correio Popular semanalmente aos domingos. Uma delas o impressionou muito. Contava a despedida de Eustáquio, ainda muito jovem, e do pai, pois iria estudar num seminário. Começou a chover. E os dois se abrigaram dentro de uma manilha, momento emocionante e que rendeu muitas conversas dos dois.

O professor Samuel Rocha de Oliveira, diretor da RTV, comentou que o filme envolveu todas as instâncias da RTV e que ele acompanhou de perto o trabalho de Amarildo fazendo a edição do filme, ora escolhendo a imagem correta, ora a fala adequada. “São em situações como essa que a Unicamp se une. Que todos apreciem essa singela homenagem”, convidou.

Amarildo Carnicel trabalhou com Eustáquio desde a década de 1980. Foi subeditor da Ascom e amigo do homenageado. Ele relata que a ideia de produzir o videodocumentário surgiu quando foi realizada a primeira homenagem ao jornalista no CIS-Guanabara, pouco após sua morte. Foi então que começou a recolher relatos de pessoas ligadas a Eustáquio. A semente germinou. “Inicialmente conversamos com 40 pessoas, número que teve que ser baixado para 25 e ainda para 16 depoimentos", explicou. "Em 30 anos de jornalismo, com certeza esse trabalho foi o mais difícil para mim e me emocionei em diversos momentos. Tive inclusive que contrariar princípios como a isenção e a neutralidade na busca do melhor recorte. Esse foi um trabalho que não gostaria de ter realizado, pois gostaria muito que o Tatá estivesse aqui conosco.”

Dentre os entrevistados que aparecem no videodocumentário, estão o reitor, José Tadeu Jorge; João Frederico Meyer; o filósofo Roberto Romano; o historiador e docente Jorge Coli; o compositor Raul do Valle; o educador Ezequiel Theodoro da Silva; o antropólogo visual Etienne Samain; o economista Wilson Cano e os funcionários Clayton Levy (coordenador da Ascom), Dulce Bordignon (Ascom), Antônio Félix Duarte (Aeplan), Sandra Caro Flório (CDC) e Toninho Faggiani (DAC).

“Gostei muito do documentário. Nele ficou evidente a capacidade que o meu pai tinha de trazer as pessoas para perto dele, atraídos pela sua simplicidade e pelo modo de interagir com elas. Tudo o que eu vi, eu já sabia, mas reforçou em mim a grande facilidade que ele tinha de criar conexões”, expressou o filho de Eustáquio, Leandro Gomes. Lalinka, a outra filha, também agradeceu a homenagem e relatou que, para ela, fica a imagem do pai amoroso, presente em vários depoimentos do vídeo. “Depois do AVC, o talento dele estava adormecido. Mesmo assim, continuou muito amoroso. Mas acredito que ele tinha consciência do que se passava. Quando eu lhe perguntava se estava tendo algumas ideias, ele gesticulava que sim”, relembra. A esposa de Eustáquio, Vera, contou que em muitos momentos do vídeo ela se emocionou e que hoje se sente mais consolada com as homenagens e com o carinho dos amigos.

Além dos depoimentos, o vídeo mostra trechos de uma entrevista concedida por Eustáquio à RTV sobre o lançamento do livro O Mandarim e trechos de crônicas. Eustáquio Gomes publicou 16 livros, produziu mais de 800 crônicas e virou uma peça teatral: A febre amorosa. Recebeu um prêmio de literatura do governo e imaginava levar adiante a sua carreira literária, a qual pretendia se dedicar mais intensamente depois de sua aposentadoria. Apesar do pouco tempo que teve para seus projetos como escritor [ele morreu aos 61 anos], a sua obra ainda deve reverberar não somente na academia, por seu modo singular de escrever, atividade-síntese de sua predileção.