Science publica carta de professor
do IB sobre coleções audiovisuais

05/02/2015 - 14:36

A revista Science da última semana publicou carta assinada pelo professor Luís Felipe Toledo, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, na qual o docente chama a atenção para a importância das coleções audiovisuais como repositórios de registros de animais na natureza. O texto também é assinado por Cheryl Tipp, da British Library (Londres); e Rafael Márquez, do Museo Nacional de Ciencias Naturales (Madri). O texto completo pode ser acessado por meio deste link.

De acordo com Toledo, que é curador da Fonoteca Neotropical Jacques Vielliard, do Museu de Zoologia da Unicamp, a carta tem o objetivo de propor que os registros audiovisuais de animais sejam depositados em coleções científicas como forma de preservar e difundir as informações neles contidas. “Quando um pesquisador vai descrever uma nova espécie, ele é obrigado a coletar o animal na natureza e depositá-lo num museu de zoologia. Nós estamos propondo que o mesmo seja feito com os registros audiovisuais”, afirma Toledo.

Quando uma espécie é gravada na natureza, continua o professor do IB, não há a exigência de que o material seja enviado para uma coleção científica. “Esse material está sendo, em boa medida, negligenciado. Frequentemente, ele fica arquivado no computador do pesquisador, o que faz com que possa ser perdido”, adverte. Ao ser depositado numa fonoteca, diz, o registro não somente fica preservado para a posteridade, como permanece à disposição para a consulta da comunidade científica.

Esse cuidado é importante, lembra Toledo, porque os dados fornecidos pelas gravações podem contribuir para o reconhecimento e classificação de uma dada espécie, algumas já extintas ou ameaçadas de extinção. “O que eu e os outros dois colegas que assinam a carta estamos sugerindo é que os editores de revistas científicas passem a exigir o depósito dos registros audiovisuais como condição para a publicação de um artigo. Tal procedimento gera um número de referência que permite o acesso a esse material por parte de eventuais interessados”, explica.

De acordo com o docente do IB, o procedimento para o depósito de um registro audiovisual numa coleção como a Fonoteca Neotropical Jacques Vielliard é bastante simples. "Há um protocolo a ser seguido, mas ele não tem burocracia”, assegura. Atualmente, a Fonoteca Neotropical Jacques conta com cerca de 30 mil gravações digitalizadas. Outras 10 mil estão em processo de digitalização. Trata-se da maior coleção gênero da América do Sul.

O francês Jacques Vielliard, que empresta nome à fonoteca, foi pioneiro da bioacústica no Brasil. O docente foi convidado para trabalhar na Unicamp por Zeferino Vaz, fundador da Universidade, na década 70, quando começava a ganhar força na França o debate em torno do meio ambiente. Graduado em Ciências pela Universidade de Paris (1967), com mestrado em Ecologia pela Ecole Normale Supérieure (Paris, 1968) e doutorado em Ecologia pela mesma instituição (Paris, 1971), Vielliard criou o Laboratório de Bioacústica na Unicamp e deu início a pesquisas importantes na área.

Vielliard morreu no dia 9 de agosto de 2010, em Belém, no Pará, onde foi sepultado. Graças a um convênio firmado entre a Unicamp e a Universidade Federal do Pará (UFPA), apoiado pela iniciativa privada, o docente iniciou, em 2008, a digitalização do seu acervo composto por gravações contendo sons da natureza, de aves, sapos, insetos e mamíferos.