O brado retumbante
de Paulo Markun
11/03/2015 - 11:22
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A diferença entre democracia e ditadura é que na democracia você pode pedir livremente a volta da ditadura e na ditadura você não pode pedir a volta da democracia. A frase é do jornalista Paulo Markun, que esteve na noite desta terça-feira (10) na Unicamp para falar sobre o seu mais recente livro, Brado Retumbante, composto por dois volumes. Markun veio à Universidade a convite do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). A atividade fez parte do curso “A Ditadura Militar Revisitada: Teatro, Cinema e Literatura como Lugares de Memória”, organizado pelos professores Alcir Pécora e Francisco Foot Hardman, ambos do IEL.
Markun falou a uma plateia formada predominantemente por alunos de graduação do IEL, mas também por professores e jornalistas. De acordo com ele, a gênese do livro está ligada diretamente à Unicamp. A ideia de produzir uma obra que contasse a histórica política do Brasil desde a ditadura até o movimento pelas eleições diretas nasceu de uma série de seminários que Markun promoveu na Unicamp, em 1986, com o apoio de Carlos Vogt e Paulo Renato Costa Souza, que na época ocupavam os cargos de vice-reitor e reitor da Universidade, respectivamente.
“Na oportunidade, ainda no governo Sarney, antes da primeira eleição presidencial, eu convidei diversas personalidades políticas que haviam vivido o período ditatorial para participar desses encontros, como Lula, Fernando Henrique Cardoso, Leonel Brizola, Almino Afonso, entre outros. Considerei que os relatos feitos por eles dariam um valioso conteúdo para um livro. Trabalhei no projeto por algum tempo, mas depois tive que abandoná-lo temporariamente. Retomei o projeto, com algumas modificações, em 2010, para concluí-lo em 2014”, contou.
De acordo com o autor, a obra exigiu um exaustivo trabalho de pesquisa, como a análise minuciosa de matérias e artigos de jornais e de documentos oficiais gerados pelos órgãos ligados à repressão. Também foram feitas 70 entrevistas. “Justamente por causa dessa imensa massa de dados foi que optei por escrever dois volumes, um intitulado ‘Na lei ou na marra’, que compreende o período de 1964 a 1968, e outro intitulado ‘Farol alto sobre as diretas’, que abarca o período de 1969 a 1984”, disse.
A obra, como reconhece Markun, chega aos leitores em um momento delicado da democracia brasileira. Ao ser questionado sobre como analisa o cenário atual, marcado por seguidas denúncias de corrupção, crises institucionais e até manifestações de grupos que pedem a volta do regime militar, o jornalista respondeu que insiste numa ideia muito simples. “Na democracia você pode pedir a ditadura, mas na ditadura você não pode pedir democracia. Portanto, não devemos jogar fora a democracia como instrumento de ação política e de comando da sociedade”.
Por causa da repercussão de Brado Retumbante, Markun tem percorrido o Brasil para falar do livro e para debater temas ligados à política, inclusive em universidades. O jornalista afirmou estar encontrando uma juventude muito interessada em temas do passado. Ao mesmo tempo, tem identificado uma enorme confusão por parte desse público no que toca a questões vinculadas à democracia e ditadura, como se as duas dimensões fossem parecidas. “Isso nos alerta para a necessidade de que o debate seja permanente”, concluiu.