Inédita no país, disciplina Treinador Esportivo desperta interesse de alunos na FCA
Vita Haddad, preparador físico da Seleção Brasileira Feminina de basquete, fala aos alunos durante aula da discplina |
O curso de Ciências do Esporte da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp está oferecendo neste semestre, de forma inédita, a disciplina de graduação denominada Treinador Esportivo. Apesar de ser uma disciplina eletiva (ou seja, não obrigatória), as 60 vagas esgotaram-se rapidamente assim que as inscrições foram abertas e vários alunos permaneceram na lista de espera – sinal de que o assunto desperta bastante interesse entre os graduandos.
O Brasil é um dos poucos países nos quais a profissão é regulamentada, mas figura do treinador ainda é pouco estudada pela Universidade. Em 1993 foi promulgada a lei 8.650/93, que reconhece a profissão de treinador de futebol e, em 1998, com a lei 9696/98, foi reconhecida a função de treinador esportivo. Entretanto, nos cursos de Ciências do Esporte e Educação Física, é normalmente enfatizado o conhecimento técnico das modalidades esportivas e a discussão mais ampla sobre a figura do treinador, seu conhecimento profissional, interpessoal e intrapessoal fica (ou ficava, até este momento) diluída em outras disciplinas da grade.
A matéria inovadora capacitará os estudantes a compreender as teorias da formação profissional do treinador esportivo, assim como desenvolver as principais competências da função, reconhecer os ambientes profissionais de atuação e os procedimentos necessários de intervenção junto aos atletas. Para Larissa Galatti, professora responsável pelo oferecimento da disciplina, a área de atuação do treinador esportivo não se restringe a atletas de elite ou profissionais, mas avança para outros cenários em que o esporte acontece, como iniciação esportiva de crianças e adultos, categorias de base, esporte comunitário e de participação. Ela destaca que a disciplina foi elaborada com foco nos alunos concluintes e tem a preocupação em contribuir com a transição entre o final da graduação em Ciências do Esporte e o início da carreira profissional dos alunos como treinador esportivo.
Fábio Cassiano Neto é um dos alunos que acompanham as aulas da disciplina e afirma ter se inscrito pelo interesse de seguir a carreira no futuro. Ele já desenvolveu também uma iniciação científica sobre o tema e acredita que a disciplina o ajudará a entender mais sobre como funciona a profissão de treinador. “Gostaria de entender o que é preciso, além do conhecimento específico de cada modalidade esportiva, para ser um bom coach. Considero o assunto importante pois não se refere apenas ao esporte – serve para tudo que necessite de uma 'gerência', pois um treinador nada mais é que um líder, alguém que os atletas usam de exemplo, tanto pessoal quanto profissional”, afirma.
Profª. Larissa Galatti (de amarelo), entre o treinador e outros professores e alunos do curso de Ciências do Esporte |
A atuação do treinador esportivo é discutida no mundo inteiro e as primeiras pesquisas na área de 'sport coach' foram iniciadas na década de 1970, explica Larissa. A docente desenvolve estudos no tema e é membro do corpo editorial do International Sport Coaching Journal, publicada pela Human Kinetics, uma das mais promissoras revistas científicas internacionais nesta temática.
“Considerando o robusto corpo teórico e forte linha de pesquisa em torno do treinador esportivo ao redor do mundo, assim como a elevada demanda dos alunos do curso de Ciências do Esporte que aspiram atuar neste campo, decidimos oferecer esta inovação. Incentivamos que cada aluno elabore seu portfólio de treinador, no qual, a partir da teoria e da reflexão sobre seu envolvimento com a graduação, com o esporte e com os estágios, possa elaborar um documento que apresente sua filosofia e estratégias de atuação como futuro treinador esportivo”, explica a professora e pesquisadora.
A primeira aula teve como palestrante convidado Vita Haddad, preparador físico da Seleção Brasileira Feminina de basquete. Estão previstas ainda participações de outros especialistas, como Marcio Morato (da USP de Ribeirão Preto, ex-treinador da Seleção Brasileira de Goalball nas Paralimpíadas de Pequim); Carlos Gonçalves (Universidade de Coimbra, ex-treinador da Seleção Portuguesa de Basquetebol e pesquisador do tema) e treinadores que atuam no esporte de participação, como Roberto Costa (Rugby e Voleibol), Leopoldo Hirama (voleibol e judô), José Vitor Salgado (corrida) e Ulisses Guimarães (natação).