Educação de jovens e adultos
é tema de seminário na Unicamp

14/05/2015 - 13:18

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Comissão organizadora e autoridades na mesa de abertura

Comissão organizadora e autoridades na mesa de abertura

Público do evento durante a sessão de abertura

Público do evento durante a sessão de abertura

Grupo Caixeiras Nascentes, que se apresentou na abertura do Seminário

Grupo Caixeiras Nascentes, que se apresentou na abertura do Seminário

Até esta sexta-feira, dia 15 de maio, a Unicamp sedia o V Seminário Nacional de Formação de Educadores de Jovens e Adultos. Com o tema “Formação de Educadores de Jovens e Adultos na perspectiva da educação popular”. O evento é organizado por um grupo de professores da Unicamp, USP, Unesp, UFSCar, Unifesp, UnG e membros do Fórum Estadual de EJA de São Paulo. “Reavivar o diálogo”, “refletir conjuntamente”, “direcionar questões” e “construir novos caminhos” estão entre os objetivos do evento, enfaticamente lembrados durante sua sessão de abertura, que aconteceu na noite de quarta-feira (13), no Centro de Convenções da Unicamp e reuniu representantes da Unesco, do Ministério da Educação, das Secretarias Municipal e Estadual de Educação e do Fórum EJA Brasil.

Em um país em que apenas 6,5% dos professores de educação de jovens e adultos têm formação específica, de acordo com dados preliminares do Censo 2014 apresentados pelo Ministério da Educação (MEC) no evento, logo se vê a importância do debate sobre a temática central do seminário. Contando com público amplo, o evento chamou para dialogar não apenas as universidades, mas governos, organismos internacionais, professores, movimentos sociais, organizações não-governamentais e sociedade civil. Segundo a professora Jarina Fernandes, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e uma das organizadoras do evento, a iniciativa vai conseguir reunir em suas atividades representantes de 24 dos 27 fóruns de EJA do país, instâncias que figuram como um dos principais interlocutores da educação de jovens e adultos no Brasil.

Pátria Educadora
Paulo Gabriel Soledade Nacif, secretário recém-empossado de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação, escolheu o seminário como seu primeiro evento oficial não por acaso. Para ele, Pátria Educadora é sinônimo de educação ao longo da vida. E essa educação, para o secretário, implica a criação de oportunidades iguais para todos os brasileiros, independentemente de sua idade. Não é curto o percurso para alcançar esse ideal, entretanto. De acordo com a PNAD 2012, a taxa de analfabetismo brasileira atingia 8,7% da população brasileira acima de 15 anos. São 13,2 milhões de pessoas.

Carlos Humberto Spezia, representante do setor de Educação da Unesco, explicou que apenas um quarto dos países membros da Unesco conseguiu atingir os objetivos de redução das taxas de analfabetismo estabelecidos para a última década. Para o Brasil, que não está entre os que obtiveram sucesso, a meta era a de reduzir o número de analfabetos no país em até 50% até o final deste ano. Carlos Humberto afirmou que novas agendas estão sendo acordadas internacionalmente para reavaliar indicadores e prazos para o pós-2015 e destacou a importância de momentos de diálogo como o proporcionado pelo seminário para que os pactos internacionais sejam lembrados e cobrados.

No MEC, o clima também é de reavaliação e planejamento. “A gente tem discutido muito sobre educação de jovens e adultos e seguramente a nossa intenção é construir um programa extremamente orgânico de ponta a ponta, dando ênfase a essa dimensão muito importante que é a formação, a educação ao longo da vida do trabalhador brasileiro”, esclarece Nacif. O coordenador geral de Educação de Jovens e Adultos do MEC, Luiz Cláudio dos Santos, compartilha sua expectativa de que, em um futuro muito próximo, o Ministério possa relançar a EJA como um projeto de educação para toda a vida.

A discussão em âmbito nacional no evento acontece em um momento crucial para a área da educação no país. Estados e municípios brasileiros têm até 24 de junho para concluir seus planos locais de educação. Na opinião de Rita de Cássia Alves, do Fórum EJA Brasil, países mais pobres tendem a valorizar a educação infantil em seus programas de governo, mas pouco se faz em relação à EJA. Para Rita, o seminário deve servir para estimular a colaboração entre governos, universidades e organizações na conclusão de seus planos de educação a fim de avançar na construção de uma política nacional em educação de jovens e adultos que leve em conta a educação popular.

Em sala de aula
A formação inicial e continuada de professores de educação de jovens e adultos é um dos principais desafios que se coloca à EJA no Brasil. O país não conta com uma carreira específica para professores de EJA e são poucas as universidades que oferecem disciplinas sobre a modalidade. “Ainda que exista uma demanda potencial gigantesca de adultos que não têm escolaridade básica, não há um esforço de criação de uma carreira ou de metodologias próprias para a educação de adultos”, explica Roberto Catelli, coordenador da unidade de EJA da Ong Ação Educativa.

A adequação curricular alertada pelos especialistas da área não diz respeito apenas às disciplinas oferecidas, mas envolve outras condições que levam em conta a realidade do público atendido pela EJA, como as novas relações no mundo do trabalho e as especificidades relativas às questões de gênero, étnico-raciais e da educação indígena, quilombola, inclusiva, no campo, no sistema prisional e nos movimentos sociais.

Vinicius Zammataro, representante do Fórum EJA São Paulo e da Coordenação de EJA do Jardim Embu das Artes, afirma que é raro encontrar uma escola com atividades no período diurno ou em um formato em que o aluno não perca o ano se precisar parar de estudar porque mudou de trabalho ou porque o filho se adoentou, por exemplo. O Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (Cieja) Campo Limpo, da Zona Sul de São Paulo, foge a essa regra. Tida como experiência modelo em educação de jovens e adultos, a escola municipal oferece um formato de currículo integrado por áreas de conhecimento, com flexibilidade em relação aos horários e com a participação das famílias e da comunidade em suas atividades. Contrariando o quadro de queda de matrículas em EJA desde 2006 e de recorrente evasão escolar, do Censo Escolar 2012 (INEP), no Cieja, há lista de espera para a matrícula. “É curioso que o discurso de muitos governos estaduais e de municípios seja de que não se tem procura pela EJA, mas quando se cria uma escola que tem uma outra metodologia, um outro currículo, que é mais flexível em relação à frequência e que atende melhor a perspectiva de vida do adulto, exista fila”, avalia Catelli.

"Para nós da FE é muito gratificante recebermos esse evento na Unicamp", diz Debora Cristina Jeffrey, do Departamento de Politicas, Administração e Sistemas Educação, da Faculdade de Educação da Unicamp, uma das organizadoras do seminário. "O trabalho que a FE já desenvolve em EJA há anos, tanto com pesquisas, como em eventos e outras atividades de extensão, faz da Unicamp uma das universidades públicas parceiras na realização dos Seminários Nacionais de EJA, que são realizados também para criar possibilidades de interlocução entre as universidades públicas, outros pesquisadores e instituições no debate de questões importantes para a educação de jovens e adultos no Brasil".