Da tradição oral e escrita
às narrativas digitais

26/08/2015 - 08:09

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José Valente coordena mesa da manhã

José Valente coordena mesa da manhã

Cecília Baranauskas: a imaginação na computação

Cecília Baranauskas: a imaginação na computação

Hermes Hildebrand: projeto no Bom Retiro

Hermes Hildebrand: projeto no Bom Retiro

Mesa de abertura do fórum

Mesa de abertura do fórum

As narrativas de histórias, que tradicionalmente se davam nas formas oral e escrita, hoje podem ser produzidas com uma combinação de mídias que oferecem recursos diversos – fotografia, vídeo, som – para enriquecê-las e dar-lhes formas inovadoras. “Narrativas digitais: diferentes abordagens e possibilidades” foi o tema de mais uma edição dos Fóruns Permanentes de Ciência, Tecnologia e Inovação, organizada pelo Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied), Instituto de Computação (IC) e Instituto de Artes (IA). Os Fóruns Permanentes da Unicamp são uma iniciativa da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU). 

José Armando Valente, professor do IA vinculado ao Nied e organizador do fórum, disse que o objetivo foi criar um espaço de discussão para que especialistas das áreas de artes, computação, educação e estudos de mídias apresentassem seus pontos de vista sobre narrativas digitais, contribuindo para seu aprofundamento e disseminação como atividade educacional, estética e computacional. A mesa de abertura do evento, realizado no Centro de Convenções, foi constituída pelos professores José Marcos da Cunha, assessor da CGU; Ricardo da Silva Torres, diretor do IC; João Vilhete D’Abreu, coordenador do Nied; e Paulo César Teles, do IA. 

O conceito de narrativas digitais, segundo José Valente, surgiu do projeto “Um computador por criança”, desenvolvido pelo Nied junto a escolas de Campinas e do Estado de São Paulo e também do Acre, Rondônia e Pará. “Em uma escola rural de Porto Velho, os alunos podiam levar o computador para casa e, sem internet, começaram a usar os recursos de fotografia e vídeo, entrevistando os pais e mostrando a criação de animais e outras atividades da roça. A ideia das narrativas digitais surgiu no contexto de organização de todas as informações que as crianças traziam para a escola.” 

Valente coordenou e deu a primeira palestra da mesa da manhã, sobre “Narrativas digitais em várias perspectivas”, que teve a participação da professora Maria Cecília Baranauskas, do IC. “Dentro do tema do fórum, vou trazer um pouco da perspectiva da ciência da computação através da área de interação humano-computador”, adiantou a docente. “Quero chamar atenção para o uso da narrativa no processo de construir sistemas computacionais, em que se deve imaginar um mundo que não existe ainda. Por exemplo: a Internet das Coisas [Internet of Things, IoT], por enquanto é apenas uma visão, mas criar sistemas usando este conceito exige que a gente imagine realidades futuras e, mais que isso, antecipe as possíveis implicações sociais e pessoais destas tecnologias no mundo que estamos criando.” 

Hermes Renato Hildebrand, professor do IA, focou projetos no contexto da narrativa digital e da arte, que vem desenvolvendo em regiões de São Paulo e em cidades como Ouro Preto e Paraty. “No Bom Retiro, fizemos um mapeamento das características específicas de um bairro formado por italianos, armênios, judeus, coreanos e bolivianos. Levantamos informações interessantes, como de que o nome se deve a imigrantes italianos que desceram na estação da Luz e viram a região como um bom retiro; que hoje as propriedades ainda pertencem a judeus e armênios, mas são alugadas por coreanos que comercializam produtos têxteis explorando a mão de obra boliviana; ou que um coreano se tornou especialista em comida árabe. Registramos eventos como a feira de bolivianos na praça Kantuta e gravamos mensagens desses imigrantes para enviar aos parentes em seu país, como em ‘Central do Brasil’. Tudo isso está postado em ferramentas digitais gratuitas como o Youtube.” 

A primeira mesa do fórum também contou com a presença da professora Iara Schiavinatto, do IA, que tratou das narrativas digitais a partir da sociedade. Na parte da tarde, duas apresentações: “Tempo corporificado como espaço em narrativas gráficas”, com o professor Winfried Nöth, da PUC de São Paulo; e “Narrativas e o novo leitor: dos livros interativos aos games”, com Maira Gregolin, doutora pela Unicamp e atualmente na iMax Games, produtora de soluções digitais, jogos e aplicativos.