Copa do Mundo e Jogos Olímpicos:
o que faz um evento ser mega?
08/10/2015 - 11:28
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O que faz um evento ser mega? Com essa pergunta, o doutor em Antropologia Arlei Sander Damo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), propôs uma reflexão sobre eventos como os Jogos Olímpicos (2016) e a Copa do Mundo (2014) no Brasil durante o Fórum Permanente Sociedade e Desenvolvimento, realizado no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O Fórum desta quinta-feira (8) foi organizado pela Faculdade de Educação Física (FEF) e promovido pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU).
Arlei mostrou um olhar das ciências humanas sobre megaeventos, abordou as frentes discursivas, os dispositivos sociotécnicos e os agenciamentos da Copa de 2014. O seu trabalho se assentou em quatro eixos: a reforma e a construção dos estádios no Brasil (o impacto das reformas, financiamentos, movimento das empreiteiras e a divulgação pela mídia); os eventos satélites (visitação das obras, anúncios do evento, realização de eventos menores); as contestações (eventos que em geral têm alguma modalidade de manifestação política); e as frentes discursivas (com justificativas e críticas que contribuem para que esses eventos sejam mega).
As críticas e as justificativas são extensas para a ocorrência de um evento desses no país. O governo, segundo Arlei, procurou convencer que os megaeventos da Copa e dos Jogos Olímpicos eram grandes oportunidades para o Brasil, um investimento que o país fazia e um legado, adotando o discurso da Federação Internacional de Futebol (Fifa), "que é muito agressivo em termos de marketing", salientou. Em contraposição, lembrou que, para os movimentos sociais, esses eventos são sempre vistos como uma imposição, como gastos e que não são um legado.
A partir de 1980 começou a ser enfocado a frente econômica dos megaeventos, com suporte da mídia à nova conjuntura política. “No meio das produções, normalmente aparecem números sobre os expectadores, sobre renda e muitos levantamentos para dar solidez aos dados”, ressaltou Arlei. “As estimativas do legado dos jogos são, na melhor das hipóteses, grosseiras, medidas feitas sem fundamentação”, criticou.
Quando o professor escreveu a obra Megaeventos Esportivos no Brasil - um Olhar Antropológico pela Editora Armazém do Ipê, ele estudou o assunto em detalhes. Notou que as projeções lançadas eram contestáveis do ponto de vista de idoneidade, isso pela grande dificuldade de se prever custos em megaeventos. Também um fato a ser considerar é que a Copa do Mundo no Brasil, por exemplo, se revestiu de grande transitoriedade, assim como ocorrem com megaeventos. “A Copa passou, e não se fala mais dela. É como se ela não tivesse existido. Tudo já voltou a ser como era antes”, pontuou.
No período, disse ele, falava-se da geração de 3,63 milhões de empregos com o aval de grandes instituições que fazem pesquisas no país. “São relatórios sociotécnicos constituídos com a chancela dos experts”, comentou. “Foram dados que já vieram pinçados com certa creditação. E a mídia não debateu esses dados. Apenas os divulgou. Os gastos com os estádios, afirmou, eram sempre na casa dos bilhões e eram bem menores do que se anunciava (1/4 do valor).”
O palestrante também falou sobre os agenciamentos que acabam envolvendo as tomadas de decisões nesses megaeventos. Tudo o que se difundiu na época, de certa forma, era mentiroso, fazendo crer que de fato isso é uma construção que opera por meio das crenças, realçou Arlei, que é doutor em Antropologia Social pela UFRGS (2005) e professor adjunto no Departamento de Antropologia da mesma instituição. Ele é autor dos livros Do Dom à Profissão: a Formação de Futebolistas no Brasil e na França (Hucitec), Futebol e Identidade Social (Editora da UFRGS), coautor com Ruben Oliven de Megaeventos Esportivos no Brasil - um Olhar Antropológico (Armazém do Ipê) e Fútbol y Cultura (Norma, Buenos Aires).