Copa do Mundo e Jogos Olímpicos:
o que faz um evento ser mega?

08/10/2015 - 11:28

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Professor Arlei Damo, da UFGRS

Professor Arlei Damo, da UFGRS

Fórum na FCM

Fórum na FCM

Professor Sérgio Giglio, organizado do Fórum

Professor Sérgio Giglio, organizado do Fórum

Professor Miguel de Arruda, diretor da FEF

Professor Miguel de Arruda, diretor da FEF

Professor Orlando Fontes, da CGU

Professor Orlando Fontes, da CGU

Professora Silvia Amaral, mediadora

Professora Silvia Amaral, mediadora

O que faz um evento ser mega? Com essa pergunta, o doutor em Antropologia Arlei Sander Damo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), propôs uma reflexão sobre eventos como os Jogos Olímpicos (2016) e a Copa do Mundo (2014) no Brasil durante o Fórum Permanente Sociedade e Desenvolvimento, realizado no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O Fórum desta quinta-feira (8) foi organizado pela Faculdade de Educação Física (FEF) e promovido pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU).

Arlei mostrou um olhar das ciências humanas sobre megaeventos, abordou as frentes discursivas, os dispositivos sociotécnicos e os agenciamentos da Copa de 2014. O seu trabalho se assentou em quatro eixos: a reforma e a construção dos estádios no Brasil (o impacto das reformas, financiamentos, movimento das empreiteiras e a divulgação pela mídia); os eventos satélites (visitação das obras, anúncios do evento, realização de eventos menores); as contestações (eventos que em geral têm alguma modalidade de manifestação política); e as frentes discursivas (com justificativas e críticas que contribuem para que esses eventos sejam mega).

As críticas e as justificativas são extensas para a ocorrência de um evento desses no país. O governo, segundo Arlei, procurou convencer que os megaeventos da Copa e dos Jogos Olímpicos eram grandes oportunidades para o Brasil, um investimento que o país fazia e um legado, adotando o discurso da Federação Internacional de Futebol (Fifa), "que é muito agressivo em termos de marketing", salientou. Em contraposição, lembrou que, para os movimentos sociais, esses eventos são sempre vistos como uma imposição, como gastos e que não são um legado.

A partir de 1980 começou a ser enfocado a frente econômica dos megaeventos, com suporte da mídia à nova conjuntura política. “No meio das produções, normalmente aparecem números sobre os expectadores, sobre renda e muitos levantamentos para dar solidez aos dados”, ressaltou Arlei. “As estimativas do legado dos jogos são, na melhor das hipóteses, grosseiras, medidas feitas sem fundamentação”, criticou.

Quando o professor escreveu a obra Megaeventos Esportivos no Brasil - um Olhar Antropológico pela Editora Armazém do Ipê, ele estudou o assunto em detalhes. Notou que as projeções lançadas eram contestáveis do ponto de vista de idoneidade, isso pela grande dificuldade de se prever custos em megaeventos. Também um fato a ser considerar é que a Copa do Mundo no Brasil, por exemplo, se revestiu de grande transitoriedade, assim como ocorrem com megaeventos. “A Copa passou, e não se fala mais dela. É como se ela não tivesse existido. Tudo já voltou a ser como era antes”, pontuou.

No período, disse ele, falava-se da geração de 3,63 milhões de empregos com o aval de grandes instituições que fazem pesquisas no país. “São relatórios sociotécnicos constituídos com a chancela dos experts”, comentou. “Foram dados que já vieram pinçados com certa creditação. E a mídia não debateu esses dados. Apenas os divulgou. Os gastos com os estádios, afirmou, eram sempre na casa dos bilhões e eram bem menores do que se anunciava (1/4 do valor).”

O palestrante também falou sobre os agenciamentos que acabam envolvendo as tomadas de decisões nesses megaeventos. Tudo o que se difundiu na época, de certa forma, era mentiroso, fazendo crer que de fato isso é uma construção que opera por meio das crenças, realçou Arlei, que é doutor em Antropologia Social pela UFRGS (2005) e professor adjunto no Departamento de Antropologia da mesma instituição. Ele é autor dos livros Do Dom à Profissão: a Formação de Futebolistas no Brasil e na França (Hucitec), Futebol e Identidade Social (Editora da UFRGS), coautor com Ruben Oliven de Megaeventos Esportivos no Brasil - um Olhar Antropológico (Armazém do Ipê) e Fútbol y Cultura (Norma, Buenos Aires).