Publicidade

Publicado 13/12/2015 - 17h40 - Atualizado 13/12/2015 - 17h40

Por Fábio Trindade

A pianista campineira Catina DeLuna, indicada ao Grammy por 'Garota de Ipanema'

DIVULGAÇÃO

A pianista campineira Catina DeLuna, indicada ao Grammy por 'Garota de Ipanema'

Em 1965, na 7ª edição do Grammy Awards, mais importante premiação do mercado fonográfico, a mundialmente conhecida canção 'Garota de Ipanema', de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, foi a grande vencedora da categoria Gravação do Ano, superando nomes como The Beatles e Barbra Streisand. Uma façanha única para a música brasileira, assim como o fato de, 50 anos depois, surpreendentemente a canção voltar a ser indicada ao prêmio.
A conquista é graças ao trabalho da pianista campineira Catina DeLuna em parceria com o arranjador (e marido) venezuelano Otmaro Ruiz, que regravaram 'Garota de Ipanema' e ganharam menção na categoria Melhor Arranjo, Vocal e Instrumental na 58ª edição do prêmio. A versão de Catina e Otmaro de um dos maiores clássicos brasileiros, e que faz parte do primeiro disco da campineira lançado nos Estados Unidos, intitulado 'Labo B', concorre com nomes como David Bowie e a canção 'Sue (Or In a Season of Crime)'.
“A música do Tom Jobim é eterna. Mesmo que já tenha sido tocada e regravada milhões de vezes, ela continua incrível”, disse Catina ao Caderno C. “Tanto que conseguimos um arranjo novo, guardando as características originais da canção, mas dando uma renovada muito interessante. Muita gente nos questionou sobre regravá-la, mas eu sempre disse, com muito orgulho, que queria fazer isso. Chegar ao Grammy mostra que fizemos a escolha certa”, completa.
Formada em música pela Unicamp, Catina foi para os EUA no final de 2004, quando conseguiu uma bolsa de mestrado na Northern Illinois University, na cidade de DeKalb. Em 2009, no fim do curso, conheceu Otmaro e mudou-se para Los Angeles, onde está até hoje, fazendo shows e dando aula na Silverlake Conservatory of Music. Desde então, sempre quis gravar um álbum, mas ela conta que conseguir isso não foi nada fácil.
Para fazer 'Lado B', disco com regravações de clássicos brasileiros e uma música inédita ('Estrela Azul'), Catina e Otmaro foram à plataforma de crowdfunding PledgeMusic arrecadar verba e, mesmo assim, precisaram entrar com uma boa quantia para financiar o trabalho. “O que mais impressiona nessa indicação é que 'Lado B' é um disco totalmente independente. O CD foi gravado no nosso estúdio, em nossa casa. E trabalho independente é realmente muito puxado, difícil. Foi uma conquista”, desabafa.
Catina explica que ela e Otmaro fizeram, além de gravá-lo em casa, absolutamente tudo no álbum. “Desde a capa, os textos, os créditos, empacotar o CD, colocar o selinho, ficar na fila dos Correios, montar o site, tudo. E mesmo assim chegamos ao Grammy. Isso não é incrível?”, agradece a pianista. Sim, chegar ao Grammy, por si só, já um reconhecimento inimaginável. Agora, sem ter uma gravadora por trás, é quase um milagre, como ela mesma admite.
Como isso foi possível? “Descobrimos aos poucos que o CD estava sendo tocando em várias rádios no mundo todo, o que não é comum para esse estilo de música, principalmente quando as faixas do CD são grandes, com mais de três minutos. As coisas aconteceram espontaneamente, já que, como artistas independentes, não tínhamos como arcar com investimento de promo para rádio”, diz.
Os músicos sabem que o fato de 'Garota de Ipanema' ser uma música muito conhecida — e vencedora do Grammy — pode ter ajudado na indicação, dando como exemplo outra canção do disco, 'Chovendo na Roseira', também de Tom Jobim. “Nós fizemos um arranjo maravilhoso para ela. Porém, em inglês, a música se chama 'Double Rainbow', então talvez os americanos não a conheçam. O que é bem diferente de 'Garota de Ipanema', porque mesmo em inglês, Ipanema continua igual, o que automaticamente pode despertar uma curiosidade em ouvi-la.”
A cerimônia do Grammy 2016 será realizada no dia 15 de fevereiro, no tradicional Staples Center, em Los Angeles. Catina está ansiosa pelo evento, mas diz não pensar no gramofone dourado. “Há muita gente boa nessa categoria, então só o fato de estar nela já é uma grande honra, mesmo que a gente não vença.”
SAIBA MAIS
Indicados a Melhor Arranjo, Vocal e Instrumental na 58ª edição do Grammy Awards
'Be My Muse', Shelly Berg (Lorraine Feather)
'52nd & Broadway', Patrick Williams (Patrick Williams featuring Patti Austin)
'Garota de Ipanema', Otmaro Ruiz (Catina DeLuna featuring Otmaro Ruiz)
'Sue (Or In a Season of Crime)', Maria Schneider (David Bowie)
'When I Come Home', Jimmy Greene (Jimmy Greene with Javier Colon)
 

Escrito por:

Fábio Trindade