Quando recebeu a notícia da aprovação para fazer a segunda fase do Vestibular Unicamp, Pedro quase não acreditava. Foi o pai quem deu a notícia em primeira mão. “Foi maravilhoso. Fiz uma boa prova da primeira fase e sabia das chances, pois já vinha me preparando há muito tempo para os vestibulares, mas receber a confirmação foi muito bom”, comemorou Pedro Henrique Carvalho, de 18 anos.

No Vestibular Unicamp, Pedro está concorrendo a uma vaga nos cursos de Fonoaudiologia, em primeira opção, e Ciência do Esporte, em segunda. O estudante, de Sumaré, foi um dos apenas 10 candidatos com deficiência a estarem aprovados para a segunda fase do vestibular e é o primeiro estudante cego em muitos anos a fazer a segunda etapa. Cego desde o nascimento, Pedro “se cobra muito em relação aos estudos“, afirmam os pais, Rovilson e Carmem Lúcia. “Quando chegou da prova do primeiro dia da segunda fase da Unicamp, ele estava chateado, disse que pensava não ter se saído tão bem e foi direto pegar os livros para estudar. Eu disse que não era hora, mas ele já estava lá revisando conteúdos”, contou o pai Rovilson Henrique Carvalho.

Paralelamente à escola para não cegos, Pedro também recebeu acompanhamento desde pequeno em uma instituição de Campinas para crianças cegas e com baixa visão. Foi lá que aprendeu braile. A mãe, Carmem Lúcia, contou que, à época, também aprendeu braile para poder ajudar o filho nos estudos. “Em casa, eu e o pai sempre dividimos as tarefas de estudos tanto para o Pedro, como para a irmã de 13 anos que tem baixa visão. Eu lia vários livros para ele, além de ajudar nos exercícios”, disse Carmem. Com Rovilson, não foi diferente. “Chegava do trabalho e depois da janta já começava a fazer as tarefas de casa com o Pedro”.

Além da família, o estudante comentou que sempre pode contar com o apoio fundamental dos colegas de sala. “A gente estuda em grupo, trocando conhecimentos, cada um é bom em uma área diferente e nos ajudamos compartilhando nossos conhecimentos. Eles me ajudam lendo os textos e descrevendo figuras, por exemplo”, disse Pedro.

Em especial, a família se recorda com muita emoção e carinho de uma professora de Biologia, que mesmo sem que ninguém pedisse, teve o trabalho de perfurar com uma agulha fina todas as figuras de exercícios da disciplina para que Pedro conseguisse, ao percorrer os dedos pelas ilustrações no papel, formar o desenho mentalmente.

A prova
Para realizar a prova, o estudante solicitou à Comvest que o conteúdo fosse transcrito em braile. Além disso, por lei, teve uma hora adicional e a ajuda de um fiscal-leitor. “O mais complicado para mim é entender os gráficos, porque muitas vezes não consigo associar com o desenho na mente, por isso a descrição do fiscal ajuda bastante. Achei que a prova da segunda fase abordou temas bem variados do ensino médio, além de ter cobrado muita interpretação, como sempre”, avaliou Pedro.

“A preocupação da Comvest é garantir que candidatos com algum tipo de deficiência possam fazer as provas do vestibular da melhor maneira possível. Esse ano tivemos 26 estudantes com deficiência na primeira fase, sendo que dez deles passaram para a segunda etapa. Há muito tempo não havia um candidato cego aprovado para a segunda fase. Pedro é um exemplo de que a inclusão é possível e necessária”, disse o coordenador executivo da Comvest, Edmundo Capelas de Oliveira.

Esta é a segunda vez que o estudante de Sumaré faz o Vestibular Unicamp, porém a primeira para valer, já que no ano passado ele não havia concluído o ensino médio ainda. Apesar de já estar aprovado para a PUC–Campinas (passou em terceiro lugar no curso de Fonoaudiologia), Unimep (Piracicaba) e ter feito a segunda fase da Unesp, seu sonho é a Unicamp. “Pelo renome da Universidade, gostaria muito de ser aprovado aqui. Tenho muita vontade de mudar as coisas e ajudar as pessoas que precisam, além de poder retribuir todo o apoio que sempre tive”, finalizou.